Exames, provas de aferição e o que importa

É possível conceber um sistema de ensino exigente, criativo e consistente com ou sem exames nacionais ou quaisquer outras provas externas às escolas. Importa, isso sim, conceber, isto é, pensar.

As decisões sobre a aplicação de exames ou provas ou o diabo a quatro não podem, no entanto, estar sujeitas a tiques, modas ou alternâncias políticas entre caranguejolas, geringonças ou outros veículos. Importa, isso sim, pensar, ou seja, conceber.

Deste modo, não faz sentido impor exames nacionais com o argumento de que só assim o sistema poderá ser exigente, como é absurdo banir os mesmos exames porque havia algo parecido ou igual no tempo da outra senhora ou porque a maioria do mundo não faz assim. Importa, mais uma vez, pensar. Pensar sobre os instrumentos e a sua utilidade.

Este governo, no que se refere à Educação, limitou-se a uma certa cosmética de esquerda (de que são provas o fascínio pela “flexibilização” ou o horror aos exames enquanto coisa fascista), mantendo o essencial que a direita, desde Maria de Lurdes Rodrigues, impôs, o que inclui congelamentos e, sobretudo, a degradação das condições de trabalho dos professores.

A invenção das provas de aferição como alternativa modernaça aos exames alegadamente salazarentos é um disparate que resulta de um marketing vazio e da velha desconfiança relativamente aos professores (os especialistas em ensino que são incapazes de aferir o que está mal com os alunos com quem convivem ao longo de um ano lectivo) e que tem como consequência atrapalhar a vida das escolas, tendo em conta que mobilizam demasiados recursos humanos numa altura em que há, já por si, uma acumulação de tarefas decorrentes do final de ano. Toda esta confusão, contudo, é compreensível, porque, no fundo, o principal objectivo do Ministério da Educação é atrapalhar a vida das escolas e para se ser ministro é fundamental não se saber sequer o que é um ano lectivo. Diria mais: é preciso não fazer a mínima ideia do que é um ano lectivo.

Por isso, ó João Paulo!, em boa hora? Não me parece.

Comments

  1. motta says:

    Quando vemos pessoas inteligentes, como o João Paulo ali em baixo, completamente vidrados na geringonça, sentimos os braços a amolecer e uma nuvem negra passando com um sorriso cínico. Não me preocupam (é uma maneira rápida de passar esta parte) os cortes, as provas mais ou menos salazarentas, a avaliação de desempenho de que ninguém se lembra, a revisitação de modelos pedagógicos e organizacionais que vivemos até à exaustão há 20 ou 30 anos, a componente lectiva ou não lectiva, a escola a tempo inteiro… sei lá essas tretas todas. Preocupa-me sim esta falta de atitude crítica face aos geringonços e respectivas geringonças (são estes, podiam ser outros). Com o beneplácito, imprescindível, do velha e boa comunicação social. Não, a vista turva e os fundamentalismos não estão apenas lá para os lados da arábia saudita!

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  1. […] ser simples cosmética como a que consiste em pôr ou tirar exames no Ensino Básico ou inventar provas de aferição que não servem para nada. A propósito, o debate no texto do Paulo Guinote está […]

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