A valsinha das medalhas

Quando chega o 10 de Junho, só me lembro desta música. E de como, um dia, até esse vulto do jornalismo português que se chama Leonor Pinhão foi condecorado. E de como, um dia, até eu hei-de ser condecorado.

(peço desculpa pela qualidade do som, mas o meu velho vinil de 1986 já não está para grandes andanças).

A VALSINHA DAS MEDALHAS

Já chegou o dez de Junho, o dia da minha raça
Tocam cornetas na rua, brilham medalhas na praça
Rolam já as merendas, na toalha da parada
Para depois das comendas, e Ordens de Torre e Espada
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha

REFRÃO
Encosta o teu peito ao meu, sente a comoção e chora
Ergue o olhar para o céu, que a gente não se vai embora
Quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos

Já chegou o dez de Junho, há cerimónia na praça
Há colchas nos varandins, é a Guarda d’Honra que passa
Desfilam entre grinaldas, velhos heróis d’alfinete
Trazem debaixo das fraldas, mais Índias de gabinete
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha

Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso

A hipocrisia de Cavaco

Há 20 anos atrás, Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, recusou uma pensão a Salgueiro Maia por feitos extraordinários. Ao mesmo tempo, concedeu-a a dois ex-agentes da PIDE. Salgueiro Maia, que já estava muito doente, morreu três anos depois.
Ao fim de 20 anos, Cavaco Silva, hoje Presidente da República, decidiu homenagear Salgueiro Maia. Não o terá feito para limpar a consciência, mas apenas por pura hipocrisia. Porque estava em Santarém e, ali, ficava mal não o fazer.
Pena que a homenagem que realmente interessava, Cavaco não a tenha feito em vida. O que fez hoje não interessa para nada. Porque não apaga o que não fez há 20 anos atrás.
Mas relembra-nos, e só por isso já foi bom, que ao pé de Salgueiro Maia, Cavaco Silva não passará nunca de um rodapé na história de Portugal.

(biografia de Salgueiro Maia aqui e aqui).

HUMILDADE

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A NOVA PALAVRA QUE O PRIMEIRO APRENDEU
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Nestes dias, após o balde de água fria que os socialistas apanharam, o PS, pela mão do seu chefe máximo, o nosso inestimável Primeiro, anda a aprender um novo léxico. A palavra mais usada agora, e que nunca antes tinha sido pronunciada pelos dirigentes máximos, nem pelos outros, é “HUMILDADE”. Pensam estes que, se se mostrarem assim, humildes, se mostrarem que aceitaram e compreenderam a lição que o povo lhes quis ensinar, retirando-lhes o voto, o recuperam a tempo de, o voltarem a ter daqui a três meses e pouco.
Mas o povo não é estúpido, o povo sabe o que quer, mesmo quando é inundado de propaganda governamental, ou mesmo quando se lhes oferecem toda a sorte de brindes bajuladores.
O nosso Primeiro anda humilde por estes dias. Vamos a ver durante quanto tempo.

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Portugal, 10/6/2009

Luis de Camoes

O dia 10 Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é um bom feriado, porque é feriado. É um feriado de respeito até porque é quase centenário, republicano e porque se relembra que Camões morreu neste dia em 1580.
Hoje, neste dia, ouvindo as declarações solenes da praxe, ganhei uma nova referência no panorama nacional: António Barreto. Grande discurso em Santarém. Tão grande e objectivo que deixou os participantes da cerimónia algo incomodados. Extremamente acutilante sobre o estado do País, disparou sorrateiramente sobre os presentes e ausentes, lembrando-lhes que os Portugueses também precisam de exemplos. Bons exemplos que deveriam vir das esferas superiores. Exemplos inexistentes ou insuficientes na Justiça, na Educação, na Política e em todos os outros planos de interesse nacional. O discurso de António Barreto é uma machadada violenta de objectividade e consciência do actual e real estado do País.

Nesta altura de reflexão, e porque parece que se está a tornar crescentemente uma moda, eu deixo a reflexão simples e directa de outro génio que não Luís de Camões, mas que do passado, muito me tem ensinado sobre o presente e o futuro.

“Eu digo que Portugal, nesta época em que não pode fazer conquistas, nem tem já continentes a descobrir, deve esforçar-se por ganhar um lugar entre as nações civilizadas pela sua educação, a sua literatura, a sua ciência, a sua arte – provando assim que ainda existe, porque ainda pensa.”

Eça de Queiroz, in Notas Contemporâneas, 1880

Discurso de António Barreto, 10 de Junho de 2009

Leitura obrigatório: link para o pdf disponível no Público.

Meta-se na sua vida

Na sala de espera do hospital, o homem agarrava-a pelos cabelos, sacudia-a freneticamente, lançava-a ao chão, e ficava a ver aquele corpo magro deslizar pelo pavimento recém-encerado, até embater na parede ou nas cadeiras de plástico. Depois avançava para ela, passando pelos homens que evitavam cruzar o olhar com o dele, levantava-a, sacudia-a novamente, agarrava-a pelos cabelos, e lançava-a de novo, na direcção contrária. Os homens não disseram nada, baixaram os olhos com vergonha de si mesmo, remexeram-se incomodamente na cadeira, e continuaram em silêncio. As mulheres protestaram, chamaram o segurança, que, por sua vez, chamou o polícia de serviço. O homem olhou-as com ódio, ameaçou-as, levantou a mão para uma, e continuou o seu jogo com aquele corpo semi-inerte. O polícia chegou, avaliou a situação, chamou o homem à parte e disse-lhe em voz branda. “Olhe lá, em sua casa pode fazer o que quiser, mas aqui não. Vai ter de ir lá para fora.” O homem olhou com asco para as mulheres que seguiam a cena com os rostos vermelhos de raiva e impotência, ajeitou o cinto das calças, e gritou ao corpo prostrado no chão “Espero por ti lá fora, ‘tás a ouvir?” e saiu. A rapariga, que não devia ter mais de dezoito anos, levantou-se a custo e uma das mulheres perguntou-lhe: “Por que é que você não o deixa ficar?” O cabelo desgrenhado tapava-lhe parte do rosto e o lábio inferior começava a inchar. A sua voz soou surpreendentemente forte: “Meta-se na sua vida, está bem, minha senhora?” Não quis apresentar queixa, não quis ser assistida, saiu ao fim de meia hora. Sabia que ele a esperava. Não assisti à cena que descrevo e baseio-me nos detalhes contados por quem a viveu. Passou-se na sala de espera no Hospital de São João, no Porto, no último domingo. Muito gostaria de saber quem é este agente da PSP para quem a violência, desde que praticada no espaço doméstico, é legítima.

O prestígio dos eleitos

"Se não tivermos órgãos de representação prestigiados, será difícil aumentar a participação dos eleitores", disse hoje Cavaco Silva, no discurso oficial do Dia de Portugal, o “dia da raça” do deslize do ano passado. O Presidente da República tem toda a razão. É difícil os portugueses sentirem-se motivados a deslocaram-se às urnas para votarem em pessoas que, na realidade, pouco ou nada lhes dizem.

Acontece que somos todos bons a gritar que os “políticos não prestam”, mas somos muitos fraquinhos a dar o passo em frente. Quantos de nós estarão verdadeiramente interessados em sair de casa para lutar em prol do famoso bem comum? Se houver umas massas a ganhar e não for necessário transpirar, por certo a fila será extensa. Se a coisa for graciosa e ainda por cima implicar esforço e trabalho, essa palavra horrenda, então o cenário muda.

É verdade que esses pilares da democracia, os partidos, nada facilitam no acesso ao povo independente aos órgãos de gestão política. Não estão dispostos a ceder um milímetro. Quando alguns atrevidos têm um qualquer assomo de vontade e se apresentam a votos nas autarquias, não tardam nada a serem “atraídos” para os partidos. Muitos, aliás, decidiram passar a independentes porque os partidos optaram por outras pessoas para protagonizar as cobiçadas candidaturas. Não formaram movimentos independentes por determinação de ajudar os vizinhos mas sim por despeito e ambição. Esta última nada tem de mal. Já a anterior, é perigosa.

Já ouviram “Movimento Perpétuo Associativo”, de Deolinda? Não? Então ouçam, que está lá tudo.

SNS – Descentralizar

Num país como o nosso, pobre, desigual e injusto, o SNS é um instrumento muito eficaz para aplanar essas desigualdades. É eficaz, seguro e de resultados imediatos. O que não quer dizer que o Estado tenha que ser o único prestador de cuidados de saúde.
A complementaridade introduzida pela iniciativa privada reduz a pressão da procura sobre os hospitais públicos, com a consequente melhoria dos cuidados prestados, acelera a inovação nos processos, equipamentos e instalações e responde à procura mais selectiva das camadas mais ricas da sociedade.
Contrariamente ao que nos querem fazer crer, é uma coisa boa! O Estado deve estabelecer com os privados acordos de prestação e fornecimento de serviços, mas não deve financiar os privados que deverão socorrer-se de receitas próprias e de regimes de Seguros individuais de saúde.
A bem da verdade, quando o Estado aceita que os custos de Seguros de Saúde sejam considerados como custos na determinação do IRC ou do IRS, está já a suportar e a financiar a actividade privada.
Tem ainda uma função de “preenchimento” das áreas geográficas que o SNS vem abandonando, por razões de economia e racionalidade de meios, que sendo defensável, deixa no entanto, atrás de si um vazio social em populações envelhecidas e cada vez mais sós.
O SNS é tambem um meio eficaz de fixar as populações em regiões cada vez mais desérticas!
A medicina evoluiu muito nos últimos trinta anos! Evoluiu mais que nos anteriores dois séculos. É por isso natural que muitos dos conceitos estejam ultrapassados.
Há hoje um evidente desajuste entre as capacidades tecnológicas e saberes e a organização e gestão dessas capacidades. O que está, pois em causa, é ajustar as políticas, a organização e a gestão “ao estado da arte”.
Levar os cuidados de saúde ao doente, e não o doente ao hospital, é hoje uma das premissas em que deve assentar a organização nacional da Saúde. Este conceito leva-nos á:
DESCENTRALIZAÇÃO – Descentralizar não é criar mais uma “casta de políticos” profissionais! Não é criar mais uma classe de funcionários públicos! Não é criar um nível intermédio de decisão! Descentralizar é autorgar uma real capacidade decisória ao nível da organização,da gestão, do planeamento financeiro, da avaliação e correspondente pacote salarial dos Recursos humanos.
É autogar a responsabilidade e respectivos meios de racionalizar o parque de instalações e equipamentos, recursos humanos, gestão de doentes, compras, gestão de stocks, ao nível de uma dada área geográfica, ao nível da
UNIDADE LOCAL HOSPITALAR – Esta unidade é composta pelos meios humanos, técnicos , instalações e equipamentos de uma dada área geográfica ( fujo propositadamente á palavra “região”). Pode ser transversal a mais que uma região administrativa, aproveitando-se a complementaridade resultante da proximidade!
A sua DIRECÇÃO deve ser constituída por elementos nomeados das direcções das unidades hospitalares abrangidas. Terá um hospital de referência dotado de meios humanos e técnicos diferenciados.
Uma segunda linha de hospitais e/ou centros de saúde menos diferenciados que o hospital de referência ( com as chamadas valências médicas e cirúrgicas populares)
Um grupo de centros de saúde de proximidade, chefiados em permanência pelo médico de família. Os meios da Urgência Médica do INEM e/ou Bombeiros.
Só chegarão ao Hospital de referência os doentes vítimas de acidentes ou doenças agudas. Nos restantes casos o doente deverá ser observado nos centros de saúde e hospitais de segunda linha, que poderão tomar a decisão de os enviar para o nível mais diferenciado. Os hospitais deverão estabelecer com os centros de saúde protocolos de deslocação de médicos especialistas em dias pré-determinados, por forma que as consultas de rotina sejam feitas ao nível do centro de saúde, deixando para os hospitais os actos médicos mais diferenciados.
Com os actuais meios de comunicação é possível exercer actos médicos tutelados á distância,nos centros de saúde e nos meios de socorro do INEM e dos Bombeiros.
Estatísticas demonstram que se o sinistrado ou o doente acometido de doença súbita for socorrido nos primeiros 15 minutos após o ínicio da doença, 80% salvam-se!
Cuidados de saúde de proximidade! Cuidados de saúde no local certo! Não no mais perto! Aliviar a pressão da procura onde os serviços mais diferenciados são prestados!

O(s) CENTRO(s) Hospitalare(s) de uma dada área geográfica serão coordenados por uma Administração Regional de Saúde. Foram recentemente extintos 74 sub-administrações regionais de saúde com a simultânea criação dos Centros Hospitalares.
Troca-se a proximidade e coordenação administrativa pela proximidade técnica e coordenação dos meios de prestação de cuidados!

Eu também acredito

Com um imenso obrigado ao Paulo Guinote e ao autor do vídeo que ainda não conseguimos identificar!

A procissão dos arrependidos

Segundo o JPC da Jugular os votos em branco estavam todos dirigidos para o PS .
Daí a derrota. Perante a evidência, todos os que votaram em branco, “carpindo estão” tão grave decisão.
Há já uma petição para reuniões semanais, onde serão devidamente apoiados por psiquiatras (nem precisa de sair da casa…) e psicólogos (tambem é fácil…).
Mensalmente, haverá uma espécie de mega reuniões, onde serão confortados com o apoio de vários voluntários da JS (e voluntárias) para acertarem de vez com os cânticos e gritos de apoio. Está, tambem ,estabelecido que em casos mais renitentes, haverá uma tabela de castigos, que poderá passar por reguadas, círilios e ter que ouvir o José Sócrates falar sobre o Magalhães.
O objectivo é que em Outubro todos os arrependidos se arrependam e votem sem tibiezas de qualquer espécie. A palavra de ordem já foi avançada na noite das eleições por vários dirigente socialistas e Jugulares.
Governabilidade!
Por acaso eu pensava que foi coisa que não faltou ao PS mas os resultados são os que se vêm.
Mas isso sou eu que não estou arrependido!

Durão Barroso e as Presidenciais de 2016

Agora que sabemos que Durão Barroso vai cumprir um segundo mandato na Presidência da Comissão Europeia, temos as informações todas de que necessitávamos. Não há dúvidas de que vai ser ele o candidato da Direita nas eleições Presidenciais portuguesas de 2016.
Senão reparemos: cumpre este segundo mandato até 2014 e, nessa altura, a União Europeia será completamente diferente do que é hoje. Não continua, até porque dez anos é muito tempo. Decide regressar a Portugal, dizendo que quer ter mais tempo para a família e para tudo o que não conseguiu fazer em todos os anos anteriores. Dois anos a descansar e a preparar a candidatura a Presidente da República. Em nome de um qualquer desígnio nacional que o fez regressar. Por Portugal, como não poderia deixar de ser.
Há um ano atrás, diria que Durão Barroso já tinha concorrente e que ele se chamava José Sócrates. Diria que a segunda maioria absoluta estava no papo. Governaria até 2013 e então descansaria, preparando o terreno, durante três anos, para as Presidenciais. Só que, desde há um ano para cá, veio a crise económica, o Freeport e a admirável débacle de Domingo. Já não sei muito bem se vai sobreviver politicamente até 2016. Se sobreviver e concorrer, acredito que ganhe. Eu, pelo menos, nunca votarei em quem um dia se foi embora. Votarei em quem ficou, mesmo que seja porque ninguém o quis.
Quanto a 2011, estamos conversados. Ninguém bate Cavaco Silva, da mesma forma que ninguém bate um Presidente em segundo mandato.

Extra-post: Sem querer abusar dos meus dotes adivinhatórios, presumo que Paulo Rangel, a quem auguro um excelente futuro político, será o candidato da Direita às Presidenciais de 2026. Então com 58 anos e muito fortalecido por anos e anos de Papa Mayzena, já terá passado pelo Parlamento Europeu, pela Câmara Municipal do Porto e pelo Palácio de S. Bento.

Manuel Alegre?

Onde está o Manuel Alegre?

Onde está o Manuel Alegre?