Acordo ortográfico no Parlamento: a luz ao fundo do túnel?

NAO2cA Assembleia da República resolveu constituir um Grupo de Trabalho para Acompanhamento da Aplicação do Acordo Ortográfico (AO90), segundo proposta de Miguel Tiago, do PCP. O deputado comunista tem, pelo menos, o mérito de reconhecer a existência de críticas justas ao AO90, fazendo, ainda, referência ao recente adiamento da sua aplicação no Brasil.

Embora considere positiva qualquer movimentação que possa recolocar o debate sobre este assunto na ordem do dia, não posso, no entanto, deixar de manifestar preocupação, quando me apercebo de que tudo isto, na realidade, só acontece porque o Brasil pigarreou, o que, com a subserviência ao estrangeiro que nos caracteriza, faz com que tenhamos um ataque de ansiedade, preocupados por saber se devemos passar a tossir. Aqui, como em tantos outros aspectos da nossa vida como nação, limitamo-nos a olhar caninamente para cima, à espera da voz do dono: da Alemanha, chegam ordens para baixar salários, o Brasil quererá impor-nos o aprofundamento da simplificação ortográfica e Portugal rebola no chão, salivando por um osso.

Como se isso não bastasse, ao sabermos que há a intenção de “ouvir a opinião de académicos, professores, escritores, artistas, jornalistas, enfim, os que trabalham com a língua, e também professores, para darem conta de como está a ser implementado nas escolas”, podemos ficar com a ideia de que o Parlamento ignora que foram produzidos, há bastante tempo, vários pareceres fundamentados sobre os numerosos defeitos do AO90. Pode ser que a repetição desses pareceres proporcione aos deputados a compreensão que lhes tem faltado, uma espécie de luz ao fundo do túnel.

Comments

  1. amatos63 says:

    a um Deputado pesa muito mais os argumentos imbecis como: a Língua tem de evoluir, não é uma Língua morta, o peso democrático do Brasil é enorme em relação a nós, pois tem 20 vezes mais falantes, ou cada um tem de escrever como lhe melhor aprouver, ou ainda o mais grave: a escrita é um gravador de voz, etc… do que o rigor das regras de escrita, a família de palavras, ou de que a escrita é uma matriz da qual é permitido reproduzir-se um som. Um político não tem rigor, tem vaidade em ser o mais democrata do que o outro. De Democracia está o Inferno, e nós, fartos.

  2. Cito AFN:

    “… quando me apercebo de que tudo isto, na realidade, só acontece porque o Brasil pigarreou…”

    Um dia se saberá que houve quem tivesse “pigarreado” antes do Brasil… E por razões bem diferentes. Pode crer.

    F.

  3. nightwishpt says:

    Do Brazil? O país que não quer saber desta merda?

    • Não sei se você fala por bem ou por mal, mas concordo contigo: no Brasil estamos mais preocupados em sustentar nosso desenvolvimento e manter os que ascenderam para a nova classe média do que a forma como escrevemos. A Língua Portuguesa nos foi imposta e, após anos de independência criamos uma forma própria de utilizá-la. Antes que possa parecer que quero criticar Portugal – e ser mais um babaca que o culpa pelas mazelas tupiniquins – venho apoiar quem é contra: Portugal é Portugal e Brasil é Brasil. Ambas nações de destaque internacional e que pode, muito bem, legislar dentro de seu território sobre o que bem entender. Sou contra o Acordo justamente porque, além de provocar dúvidas atrás de dúvidas, não valoriza o modo como aqui nós escrevemos. Um exemplo: justifica-se aqui a queda do trema porque ele, a muito tempo, está na UTI, contudo, não indicaram a inclusão do “pra”, no lugar do “para” – que está nos mesmos passo que seu antecessor; outro exemplo é a acentuação do “U” como em “pacu” e por ai vai. Unificar o que o povo quer mudar? Estranho conceito democrático, não?

      • António Fernando Nabais says:

        Na minha opinião, qualquer país deve preocupar-se com o desenvolvimento e com a forma como escreve e nenhuma preocupação deve excluir a outra.. A língua portuguesa foi tão imposta ao Brasil como a Portugal, o que, em si mesmo, não é bom nem mau: é histórico. Tal como o Brasil (e todos os outros países lusófonos), também criámos uma forma própria de utilizar a língua (o que é, outra vez, histórico). De resto, mesmo que se conseguisse criar um verdadeiro acordo ortográfico, continuaria a ser impossível, por razões sintácticas e lexicais, uniformizar o modo como se escreve no Brasil e em Portugal.
        Quando afirma que o Acordo “não valoriza o modo como aqui nós escrevemos” penso que faria mais sentido substituir “escrevemos” por “pronunciamos”, porque, segundo parece, defende que a escrita deve aproximar-se da pronúncia, o que, na minha opinião, é um erro, porque a ortografia é muito mais do que uma transcrição fonética. Em Portugal, pronunciamos “pra” e mesmo “pa”, mas isso não nos deve levar a deixar de escrever “para”. Do mesmo modo, é um erro pedagógico passar a simplificar porque as pessoas escrevem mal uma palavra: o que falta, nos nossos dois países, é um sistema educativo consistente e que chegue, cada vez mais, a todas as pessoas. Faz tanto sentido como desistir de ensinar a tabuada porque há cada vez menos gente a saber.
        De resto, não se entenda que tenho alguma coisa contra o Brasil ou contra a Alemanha: o que critico é a subserviência cega dos portugueses a qualquer interesse estrangeiro considerado economicamente superior.

        • marta says:

          Atenção: Neste debate do acordo ortográfico, já vi as pessoas exgrimirem vários argumentos. Um dos argumentos mais usados, infelizmente é o de um pais (caso especifico de Portugal/Brasil) acusar outro de o querer subjugar as regras deste acordo.
          No caso de Portugal, o acordo só foi aceite e bem visto pela “escorria” da NOSSA CLASSE POLITICA…porque na realidade a população em geral, não põe no dia-a-dia em prática este assassinato há língua Portuguesa (na sua vertente europeia).

  4. Finalmente, por bons ou mais caminhos, o que importa é que vamos poder rediscutir o Acordo. Não devemos perder mais esta oportunidade. Saibamos, agora, ser lúcidos.
    Tal como César, depois de passar o Rubicão, eu exclamo: “Alea jacta est”

  5. sinaizdefumo says:

    eu quero lá saber quem é cede o quê a quem… entendam-se porra! e os outros países de LOP não têm nada a dizer? o que é que deu nos portugueses para acharem que são donos da língua? e que é que deu nos brasileiros para acharem que sendo mais têm mais razão? eu sei que escrever adoptar sem pê até faz doer as vistinhas mas eu adapto-me, (ou é adato-me?), o meu avô também se conformou e passou a escrever farmácia em vez de pharmácia, ora phoda-se…
    quanto à “voz do dono”, francamente… que comparação, que complexo despropositado…
    amatos63: “a Língua tem de evoluir, não é uma Língua morta”, são argumentos imbecis? e o que é o “peso democrático”? (imbecil me confesso)

    • Maria Manuela Lopes Félix Costa says:

      Os portugueses são donos da própria Língua.
      Se os outros países quiserem até renunciar ao português, que o façam, são independentes. Aqui,…é PORTUGAL, e aqui a Língua é e será sempre portuguesa, não há mudanças em prol de nada. A nossa raiz é só uma e ela cresceu aqui, não veio daqueles países para cá…foi ao contrário! — Mesmo com diferenças na Língua todos se têm entendido, pergunto porquê esta fobia do Acordo ortográfico AO90? Porque admitiram (QUEM?) aventar esta “sacanisse” aos portugueses? Nós não temos que mudar NADA! — Ao mudar a escrita a fonética também muda e alterará a forma de falar, a entoação, porquê e para quê? Por causa dos políticos andarem com as negociatas facilitadas ou assim?…Haja vergonha na cara, até a Língua querem estragar? Não chega já o que fizeram ao país em tão poucos anos?

  6. “Subserviência ao estrangeiro”, ora, ora, é de lá que vem a massa que faz andar o circo.

    No caso da língua, devo dizer que sou contra o Acordo, porque as línguas têm que seguir o seu rumo, e o português terá que ser um dialecto falado por 10 milhões de almas penadas, e as outras, dos PALOP, serão oriundas do português, como o português, o francês, o italiano… o foram do latim. Mas uso a nova grafia por ser mais arejada e amiga dos teclados de computador.

  7. Não poderia estar mais de acordo, como pode ver no meu blogue: http://arrozdomeuceu.blogspot.pt/2011/01/do-you-speak-brazilian.html

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