Toda a minha vida observei indirectamente o que é um português rico. Não vou revelar a fonte raivosa, legitimamente raivosa, da informação. Apenas desejo pincelar alguns traços distintivos que tornam o nosso rico um tipo muito pouco recomendável, um indigente moral, alguém digno de nojo, apesar da roupa usada que dá para a caridade e das esmolas que deposita com fastio nalguma causa, contra o cancro por exemplo, o que é quase nada.
O que é um português rico? Um zero social. Lucra pessoalmente dois ou três milhões por ano? Atira todas as despesas pessoais para a empresa, contorna o Fisco com mestria, especializou-se em fazer dinheiro, e faz efectivamente muito dinheiro, com a mesma naturalidade mecânica tipo lei físico-química, lei gravitacional, com que nos vemos privados, melhor, surripiados dele, pelo contexto global e pela política, para suprir o básico: não há nem cristianismo social nem filantropia britânica no português rico: trata-se de uma ilha desumanista e associal que não tem em vista, nunca teve, jamais terá, criar postos de trabalho e por vários modos fazer a diferença na sociedade, mas somente explorar oportunidades de lucro com o máximo de automatismos robóticos possíveis, sem gente a atrapalhar. Tipicamente!
O português dito rico continua bruto e encerrado na sua torre de marfim à parte, basta olhar para a face luzidia ou para o texto alienado de um Joaquim Ferreira do Amaral, no Parlamento, para perceber o seu mundo higienizado de gente comum, uma presença que em nada tange a nossa vida real nem se comprometeu com ela. O podre de rico português, e isto é típico, coa os gastos com produtos de limpeza por parte da mulher a dias, desconfia até que palme uns trocos perdidos nas gavetas do CEO, mas oferece automóveis topo de gama aos seus engenheiros e arquitectos saídos das Universidades, apesar de verdes e ingénuos como virgens.
Todo o rico tem as portas do Reino dos Céus apertadas e de difícil acesso, por onde nem um tampão entra, mas o português rico, filho e neto de outros portugueses ricos, uma vez morto, faz um estágio purgativo no olho do cu do Purgatório. Estava-lhe tão no sangue ter sido negreiro e insensível, que o processo no Além lhe correrá mais duro e duradouro.
Tu não me digas que estás a escrever outra vez sobre o Sócrates que está em Paris, pá!
Grande figura de estilo, grande metáfora!
Porém, se não for, então isto está pior do que os escritos sobre o de Paris. Sempre são escritos mais divertidos.
Desculpa a franqueza, mas isto é uma verdadeira bosta e quando um gajo já está meio na merda, o melhor é tapar-se todo.
hehehe……
Se não for uma metáfora, então este texto é ligeiramente uma bosta e quando um gajo está na merda, o melhor é enfiar-se todo, ou seja, os teus escritos sobre o de paris são bem mais divertidos.
(e se me censurares mais este comentário és um grande merdas)
Agora deu-te para censurares comentários?
Ah, bom!
Estava eu a dizer, há 4 comentários atrás, que este teu escrito é bem pior do que os que escreves sobre o que está em Paris, que têm mais piada do que esta bacoquice dominical.
Esta “bacoquice dominical” doeu-lhe, foi?
Será que é mais um português “rico” como o descrito no excelente artigo, e que só gosta dos escritos sobre o Socras, porque assim o pessoal distrai-se do que lhes roubam os ricos diariamente?
Tu és rico?
Adorei o post, caro Palavrossavrvs!
E sabe uma coisa? Mais uma vez constato que quanto mais a sério se fala (neste caso, se escreve) mais as gentes levam a coisa a brincar! E depois admiram-se de não sair da cepa torta. Enfim…
Isabel,
All work and no play makes Isabel a dull girl.
Já o título, fêz-me desdobrar imagens na cabeça. Sem querer cair na generalização de “todo o rico”, deu-me por reflexionar que a caridade está utilitariamente presente no rico. Se falamos de generosidade, essa….difícil. Sobretudo num “podre de rico português”.
É belo, mesmo num dia de chuva.
O título deveria ser “O Português Rico, Tese de um Par de Linhas”. Porque os “ricos portugueses” säo, em geral, tudo menos portugueses ricos… 🙂
Aparte isso, aplaudo de pé efusivamente este texto!
Parabéns, Palavrossauro!!!
Costumamos discordar, mas desta vez… 🙂
Por acaso até costumamos concordar, bem mais do que pensas. Só que nas poucas coisas que discordamos eu sou muito… acutilante!
🙂