Os cabrões continuam no ataque – o neofeudalismo

feudalismo

Camponeses a trazerem o tributo ao nobre (wikipedia.ro)

Confirma-se, como se tal já não se soubesse, que não foi por deslize que há tempos se  falou no saque às contas bancárias no Chipre como modelo para tirar da falência bancos mal geridos – quiçá até, criminosamente geridos.


O tempo dos cidadãos confiarem nas instituições terminou em definitivo na Europa. Depois das pessoas terem sido vistas apenas como números, agora são olhadas como fonte de receita fiscal, em forma de números. Os seus rendimentos são confiscados, de forma assimétrica, com brutais cargas fiscais e associadas à prestação de menos serviços. Chamam-lhe austeridade mas não passa de roubo que transfere os tostões de muitos para os cofres de poucos. Agora, com a experiência do Chipre, os cabrões encontraram nas nossas contas bancárias uma nova fonte de receita para os seus negócios.

Tem-se chamado neoliberalismo a esta linha política. Um novo liberalismo. Considero que este neo liberal nada tem de liberal, no sentido original do termo. O liberalismo promovia a libertação do individuo e este neoliberalismo sujeita-o a uma tal carga fiscal e a compromissos de crédito com a banca que o sujeito fica literalmente amarrado ao trabalho. Depois de metade dos seus rendimentos ficarem imediatamente retidos no estado, o valor líquido que lhe chegue à mão ainda ficará cortado quase em um quarto (IVA) e, do que sobra, terá que pagar diversas contas, entre as quais o empréstimo da casa.  Sobrar-lhe-á algum dinheiro para comida e uma ou outra coisita, já que de contrário deixaria de ser fonte de receita,  devido a óbito.

Se se quiser usar o prefixo neo e recuperar algum conceito de tempos idos para classificar a actual situação, devemos então trazer à conversa o termo feudalismo, chamando-lhe neofeudalismo. Plagiadaptando a wikipedia,  o neofeudalismo é um modelo de organização social e político baseado nas neo-relações servo-contractuais. Os senhores neofeudais conseguem as suas rendas de diversas formas, tais como

  • perpetuarem-se na política através do partido e de um ciclo restrito de nomeações;
  • troca de favores entre política e negócios, contribuindo para a vantagem financeira e política de ambos os lados;
  • constituindo modelos de negócio em que o estado fica com o risco e em que o privado fica com o lucro;
  • promovendo legislação que conduza à inevitabilidade de se estabelecerem contratos com a banca, como foi o caso da ausência, durante décadas, de legislação decente sobre rendas da habitação (o que impediu a existência de um mercado de arrendamento e impulsionou a compra de casa própria);
  • perpetuação de monopólios, sejam do estado, sejam privatizados mas sem concorrência;
  • negação de justiça, por esta não se realizar em tempo útil;

Os neoservos auferem rendimentos do seu trabalho, o quais se destinam a pagar impostos e as rendas supra enumeradas. Em troca recebem a ilusão de terem gratuitamente educação, saúde, justiça e segurança, física e social. Na realidade pagam tudo isso com impostos e ainda passaram a pagar taxas adicionais por estes serviços do neo-manso-senhorial. Os neoservos estão presos ao trabalho, sendo explorados pela via fiscal e pela negação de um rendimento compatível com a quantidade de trabalho realizado. Com o Chipre começou a exploração, também, pelo saque às poupanças bancárias.

Olhando para o que era o feudalismo e para o que pretendeu ser o liberalismo, creio que o termo neofeudalismo é muito mais apropriado para a situação em que os cabrões nos querem manter.  Leia-se sob o prisma deste conceito, por exemplo, o artigo da Wikipédia sobre o feudalismo e repare-se como os paralelismo são imensos.

Comments

  1. Observador says:

    No minimo dos minimos está cá a fazer muita falta um novo Padre António Vieira porque a escravatura está-se a instalar, desde há alguns anos (2008???) moderadamente como convém, mas afincadamente. E o pessoal ainda não se apercebeu disso. E quando se se aperceber será tarde, penoso e catastrófico. É assim. Isto vai acabar muito mal. Só pode.

  2. Fernando says:

    Está confirmado! O jorge (fliscorno) é um maluco das teorias conspirativas com tendências comunistas!

    Neofeudalismo… como se atreve!? Os eurocratas, os governos, e os banqueiros só querem o nosso bem…

    Enfim, partilho o link de um youtube onde Jeffrey Sachs , um conhecido ex-FMI, diz cobras e lagartos da banca, do governo norte-americano e da situação geral do sistema financeiro:

    http://youtu.be/7VOWnnEphjI

    • jorge (fliscorno) says:

      «maluco das teorias conspirativas»

      hehehe na volta tem razão

      • Maquiavel says:

        Bem-vindo ao grupo! 😀

        Tens toda a razäo, o neoliberalismo de há 10 anos descambou em muito pouco tempo no presente neo-feudalismo…

        … mas olha, assim como veio célere, célere se desmoronará, e väo rolar mais tolas na neo-revoluçäo que em 1789… >:)

  3. A Banca é o maior antro de corrupção , de jogadas ilícitas , de golpadas muito superiores aos
    ” negócios ” de armas e da droga . Mas atenção que a culpa não é só dos Banqueiroas , dos
    Políticos e seus colaboradores . Os empregados bancários também têm muita culpa na corup-
    ção bancária . Até para um simples crédito à habitação ou pequeno crédito pessoal era e é
    preciso dar luvas . .

  4. Observador says:

    Cuidado que as palavras do ultimo escritor são muito graves. Se os bancários tiverem um sindicato digno desse nome, possivelmente o escritor terá que provar as acusações que está a fazer aos bancários na generalidade.

  5. Mantenho o que digo e não retiro uma única palavra do que disse sobre a corrupção dos bancários . Não só porque tenho provas e fui vítima dessa gente , sobre o que há mais de
    de 30 anos anos ando a escrever e a denunciar , sem que as autoridades se preocupassem
    sobre este assunto . Tal corrupção aí está com todo o seu explendor , como o caso do BPN , do BCP e outros Bancos , que fui dos primeiro ou mesmo o primeiro a denunciar.

    Tanto bancário que deu enormes golpadas na banca , com créditos , e não só , à custa de luvas para financiamentos que já sabiam que não iam ser pagos .

    Hoje estou na MISÉRIA . Pus e vou pôr mais acções contra mais alguns Bancos e Bancários
    como no caso do BANIF .

    Quem me comenta e ameaça ou não sabe como funciona a Banca , em particular e em especial os Bancários relacionados com o crédito , ou então é pior que eles .

    Ao contrário de quem me comenta não dá a cara como eu .

    Eu falo abertamente e com verdade .

    Já sofri muito e continuo a sofrer cada vez mais . Estou a ser sustentado pelo Centro Social Paroquial de Vale Figueira , tudo por culpa de certos bancários . Ainda espero em vida escrever um livro sobre as sujeiras dos Bancos e dos Bancários .

    O mal da sociedade é haver muitos maus observadores .

  6. “Depois de metade dos seus rendimentos ficarem imediatamente retidos no estado”
    Certo, mas estes garantem estabilidade social e são um seguro contra tempos incertos e reforma, bem como para reequilíbrio das desigualdades do capitalismo.
    De resto, já uso o termo neo-feudalismo há alguns meses, concordo em absoluto.

    • jorge (fliscorno) says:

      Não é o princípio que coloco em causa mas a actual realidade. Neste momento, atendendo ao total de dinheiro que a minha empresa gasta comigo, ao valor que me é descontado, à diminuição de serviços prestados e à aplicação de taxas por cada utilização dos serviços (que supostamente já tinha sido pago por impostos), considero que a actual carga fiscal não se destina a esses equilíbrios e estabilidade.

      (1)

      Salário (valor hipotético, rendodinho para simplificação) pago pela empresa (valor sujeito a Segurança Social)

      1,000.00 €

      (2)

      Segurança social (valor pago pela empresa) 23.5% x (1)

      237.50 €

      (3)

      Um trabalhador com um salário ilíquido de 1000€ custa
      à empresa: (2) + (1)

      1,237.50 €

           

      (4)

      Segurança social, IRS e sobretaxas em 2013 ( apróx. 40%): 40% x (1)

      400.00 €

      (5)

      Subsídio de alimentação (22 dias x 5 euros)

      110.00 €

      (6)

      Salário líquido que o trabalhador recebe: (1) – (4) + (5)

      710.00 €

           

      (7)

      Valor gasto pela empresa: (3) + (5)

      1,347.50 €

      (8)

      Valor que chega ao trabalhador: (6)

      710.00 €

      nota: as contas estavam mal e corrigi-as

      Nestas constas não é tido em conta a empresa pagar 14 meses de salário para 11 meses de trabalho. Claro que agora o trabalhador recebe 13 meses de salário mas a empresa continua a pagar 14.

  7. sinaizdefumo says:

    No fundo, no fundo, a mesma merda de sempre; no fundo, no fundo, até as moscas são as mesmas. Bom post. Pergunto, não foi sempre assim, não será sempre assim?

  8. Luís says:

    Bom post.
    Acrescentaria a ausência da democracia directa através de referendos antecedidos de debates mobilizadores acerca de questões que têm importância vital na nossa vida colectiva.
    Entramos na CEE e no euro sem referendo, vendemos a EDP e a Galp sem referendo, não debatemos nem referendamos o tipo de desenvolvmento económico que temos e não referendamos a entrada da troika e não iremos debater e referendar a nossa mais que provável saída do euro.
    Também não iremos referendar a privatização das Águas de Portugal, apesar de sabermos que a maioria do povo português se opõem a ela.
    E não existe democracia directa em Portugal porque os partidos políticos não querem perder o monopólio da actividade política que em democracia devia caber a todos os cidadãos.

  9. Estamos entregues aos bichos com esta seita política , que só beneficia a Banca corrupta
    e prejudica as pessoas . Por isso é que não voto , não acredito nos Políticos , mas lá que isto
    tem de ser radicalmente mofificado , tem . O mal é que as pessoas nunca estão unidas , só
    olham obcecadamente pelas suas cores políticas .

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