Há coisas desagradáveis que não se tornam melhores se executadas por um detentor de um prémio Nobel. Mesmo que seja o da paz. Yes, we can, disse Obama, e puderam mesmo. Com o levantar do véu daquilo que é um real Big Brother orwelliano, confirmando suspeitas que antes eram classificadas como teoria da conspiração, a NSA e o governo americano estão numa autêntica perseguição a tudo por onde Snowden tenha passado.
A mais recente vítima é a empresa lavabit.com, ex-fornecedora de email de Snowden. Para quem ande distraído, Snowden trouxe a público vários detalhes do extenso programa de espionagem levado a cabo pelos EUA. E a empresa onde ele tinha a sua conta de email, a lavabit.com, conhecida por disponibilizar elevada segurança, viu-se forçada a escolher entre colaborar com a NSA ou fechar portas, tendo optado pela segunda opção.
This experience has taught me one very important lesson: without congressional action or a strong judicial precedent, I would _strongly_ recommend against anyone trusting their private data to a company with physical ties to the United States. [lavabit.com]
A Lavabit recomenda que ninguém confie os seus dados privados a uma empresa que tenha ligações aos EUA. Maior machadada ao Facebook, Google, Microsoft, Apple, WordPress, Skype, YouTube, etc., etc. seria impossível. Em termos de software, de serviços e de dados vivemos tempos de elevada concentração em poucos fornecedores. As empresas e os indivíduos têm vindo a desistir dos seus próprios sistemas a favor da conveniência do modelo cloud. Por exemplo, em vez de se ter um processador de texto instalado no computador pessoal, a tendência tem sido usar ferramentas online, como o Google Docs (agora renomeado Google Drive). Ou guardar as fotografias online em vez de se ter o seu próprio disco rígido.
Quantas portas escondidas existem no software que usamos no dia-a-dia, prontas a se abrirem à NSA? Não é uma pergunta hipotética. Por exemplo, o Skype quando foi comprado pela Microsoft, perante acusações de possibilitar à NSA formas de escutas totais, não as desmentiu, tendo emitido um lacónico comunicado sobre o cumprimento da lei.
Esta é a mesma Microsoft com a qual o estado português tem um forte acordo de escolha tecnológica para a administração pública, reforçado até pelo anterior governo. E as outras empresas que dominam diversos sectores económicos? E a liberdade de informação e de expressão? Assistimos actualmente, em directo, mesmo se disso não tomarmos consciência, à morte dos operadores de televisão a cada dia em que serviços como o YouTube ganham terreno. Tal como a web matou a imprensa tradicional, também a capacidade de emissão em tempo real (streaming) por parte de qualquer indivíduo matará os estúdios de televisão. O YouTube deu na passada semana um considerável passo nesse sentido ao permitir que utilizadores com cem ou mais seguidores possam fazer emissões em directo. É o equivalente do blog para a emissão de televisão.
Estas transformações são possíveis graças a uma economia de escala proporcionada por milhões de utilizadores num mesmo serviço. Mas tal como assim é possível dar mais por menos, também nunca foi tão fácil tirar com tão pouco esforço. Os EUA encontram-se de novo a recuperar alguns aspectos do defunto projecto SOPA, que poderá levar à censura automatizada de um vídeo onde alguém esteja a cantar uma música protegida por direitos comerciais. O sonho húmido de qualquer SPA, portanto.
Espionagem, política ou comercial, violação de privacidade e censura, novamente por razões políticas ou comerciais, são faces da mesma moeda aumentadas pelo conceito cloud. Em maior ou menor extensão, os estados, português incluído, as empresas e os indivíduos colocaram-se nas mãos de empresas estrangeiras. Já há muito que a soberania não se limitava à defesa das fronteiras, sendo a dependência económica um clássico exemplo de perda de soberania. Agora, a era da informação trouxe mais uma, a soberania dos dados privados. E você, vai escrever informação sobre a sua conta bancária no Gmail?
Adenda – A notícia no Público
Creio que o Snowden foi corajoso ao alertar o mundo com as suas notícias .
Os americanos não se podem julgar donos do mundo e muito menos das
pessoas , que neste caso ainda por cima n-ao cometeu cri,nme algum como
o Julian Assange do Wikileaks .
Moral dos nobeis: Só o dar depois do palhaço ter acabado o núnero! Confiar na liberdade e democracia sempre! pricipalmente se for apregoada por quem tem invadido tudooque tem petroleo e assassinatos nas colonias distantes já são 4ooo. A bem da democracia e da paz! hipocritas vergonhosos!