António Bragança Fernandes foi ontem homenageado na Maia pelos seus 25 anos de autarca. Que me desculpem os leitores mas isto não pode ser uma mera nota de rodapé noticioso.
Eu tive o privilégio de trabalhar directamente com Bragança Fernandes entre 2008 e 2011. Só isso já seria motivo para escrever sobre ele. Sem esquecer o facto de ter sido o meu primeiro trabalho como profissional de comunicação. Porém, existem muitos mais motivos. A sua singularidade como autarca não pode passar em claro. A sua importância para a história do concelho da Maia não pode ser remitida para um espaço exíguo. A ligação do povo da Maia a este maiato não pode ser limitada “por convite”. Não é justo para ele nem para os maiatos que o sentem como “um de nós”. Passo a explicar pedindo, desde já, as devidas desculpas por tão longo texto, algo que sempre se pretende evitar no Aventar. Porém, a personalidade e o facto em si assim exigem.
Com toda a franqueza: Bragança Fernandes é um verdadeiro “case study” político.
Vejamos: Chegou a presidente da Câmara Municipal da Maia sem ter sido um “boy” do aparelho, sem ter “arregimentado” tropas ou pago quotas em barda. Mais, chega a presidente da CMMaia sucedendo a um dos maiores autarcas que este país viu, o Professor José Vieira de Carvalho, justamente apelidado de o Lidador dos tempos modernos pela forma como criou e construiu um concelho moderno, com qualidade de vida e pioneiro em políticas ambientais, educacionais e desportivas em Portugal. Um autarca cuja fama e prestigio ultrapassaram as fronteiras da Maia, do Norte e de Portugal.
Convenhamos, mais difícil seria praticamente impossível.
Em 2002, quando assume a ingrata responsabilidade de suceder a Vieira de Carvalho por falecimento deste, António Bragança Fernandes não era um político carismático, não tinha o dom da palavra, era pouco conhecido fora dos círculos políticos locais e poucos, muito poucos, acreditavam na possibilidade de sucesso do restante mandato que tinha em mãos.
Logo nessa altura foi visível um conjunto de características que marcaram a sua actividade política: proximidade, humildade e capacidade de trabalho.
Bragança Fernandes soube colmatar as suas fraquezas com uma enorme capacidade de trabalho e disso fui testemunha: chegava à Maia, ao Miramaia, por volta das 06h30 aproveitando para uma rápida leitura dos jornais, despachar documentos, estudar dossiês e atender os maiatos que rapidamente descobriram este seu poiso matinal. Pouco tempo depois já estava no seu gabinete. E não se pense que o dia de trabalho era curto pois na esmagadora maioria dos casos, já passava da meia noite quando terminava o serviço. Isto, meus caros/as, todos os dias para desespero dos seus colaboradores mais chegados e da sua família.
Uma visita nocturna pelas ruas do concelho a verificar se as estradas estavam em condições, se as obras que estavam a ser realizadas andavam a bom ritmo, eram uma constante de quem conhece o concelho como as palmas das suas mãos. A visita às associações e colectividades, às escolas, às dezenas de actividades diárias fruto do pulsar intenso da vida deste concelho faziam parte da sua agenda diária assim como o acompanhamento directo de todas as decisões que eram tomadas internamente. Sem esquecer as constantes viagens a ministérios para reivindicar aquilo que considerava importante e de que a Maia era credora. Não imaginam as dezenas e dezenas de convites que recebia para tudo e um par de botas, desde a loja que um comerciante ia abrir na Maia, o aniversário de uma velhinha centenária, a festa dos meninos de uma escola, o sarau de uma colectividade, o jogo de uma associação ou a nova empresa que era criada no concelho. E Bragança Fernandes, nem que fosse estilo “visita de médico”, procurava não falhar nenhuma. Recordo aqueles dias intensos por altura do Natal com três e quatro jantares por noite a que ele não faltava seguindo uma regra de enorme disciplina e inteligência: numa comia a sopa, na seguinte comia um “filete”, na terceira uma maçã e na última o café. Sempre a um ritmo alucinante!
Porém, mais importante que a sua imensa capacidade de trabalho, era (e é) a sua enorme humildade e proximidade. A humildade de quem mesmo sabendo quem era, institucionalmente falando, não deixava de ser aquilo que era enquanto Homem e enquanto cidadão. A sua proximidade na forma como a todos tratava por igual, independentemente da sua origem, do seu estatuto e da sua condição económica e social. Recordo como se fosse hoje a forma carinhosa como tratava os munícipes que a ele se dirigiam. A paciência para os ouvir mesmo quando o que diziam não era agradável nem justo. A sabedoria humilde como se dirigia aos outros nas mais diversas situações. E o seu humor. Sim, Bragança Fernandes é senhor de um humor fantástico.
Pessoalmente, nunca esquecerei os ensinamentos (e tanto que me ensinou), os momentos de angustia e tristeza (foram poucos felizmente), as enormes alegrias, os momentos de euforia (fui um privilegiado em ter vivido e ter feito parte daquela que foi a sua maior vitória eleitoral e a maior vitória eleitoral até hoje do PSD na Maia, em 2009) e os momentos de lazer e amizade. Nunca vou esquecer uma coisa que é muito rara nos homens e em especial nos políticos: quando o nosso trabalho não corria como era desejado nunca lhe ouvi uma palavra torta, uma crítica, uma reprimenda. Pelo contrário, Bragança Fernandes aproveitava esses percalços para nos incentivar e por isso mesmo, na vez seguinte o nosso empenho e comprometimento era ainda maior. Foi uma das grandes lições que aprendi com ele.
Foram anos intensos, foram anos de imenso prazer. Não gosto de olhar para trás pois faz parte do meu feitio ter saudades do futuro e não viver do passado. Contudo, não sou de esquecer nem ser ingrato.
Por isso sei perfeitamente que Bragança Fernandes merece a devida homenagem, sobretudo agora que está no seu último mandato. Uma homenagem em que possam estar presentes todos aqueles milhares de maiatos (sim, não me enganei, milhares de maiatos) que lhe querem dar um abraço solidário, um abraço de agradecimento por tudo o que fez pela sua terra. Aqueles maiatos que o conhecem, que guardam em suas casas com carinho aquelas cartas simpáticas, simples e amigas que nos enviou nos nossos momentos mais tristes e nos nossos momentos mais felizes; que o cumprimentam na rua e são retribuídos com humildade e simpatia; que o trataram como uma “estrela”, citando a comunicação social, na cerimónia de abertura da “Maia Cidade do Desporto 2014”; que o sentiram “sempre presente” nas suas realizações e nos seus momentos especiais. Esses maiatos que não estiveram ontem presentes por não terem sido “contemplados” com um simples convite por força da limitação de espaço (penso eu) e que sabem que António Bragança Fernandes é credor não só da nossa amizade e estima como de um verdadeiro reconhecimento público num espaço amplo e digno da sua grandeza e da grandeza da Maia.
O António Bragança Fernandes que eu conheço, que os maiatos/as conhecem, não é homem de salões ou de eventos VIP. É um homem do Povo que se sente bem no meio dos seus sem piroseiras nem salamaleques mas com a alegria, a simplicidade, o carinho que o caracteriza e sem deixar ninguém para trás.
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