De boas intenções está o CNE cheio

De acordo com a notícia do Público, o Conselho Nacional de Educação defende o fim das retenções, argumentando que os alunos sujeitos a essa medida têm mais dificuldades em recuperar e que, para cúmulo, é uma medida dispendiosa para o Estado. Para além disso, o CNE faz referência a uma alegada “cultura de retenção”, reduzindo, no fundo e de modo simplista, as causas do problema, como é costume, aos maus hábitos dos professores.

Já começa a ser cansativo repetir que as causas do insucesso escolar são várias e que muitas delas têm origem no exterior das escolas. É igualmente cansativo relembrar que as escolas, apesar do folclore da autonomia, têm falta de recursos humanos, docentes e não docentes, o que dificulta a detecção e resolução de muitos problemas. Relembre-se, ainda, e muito a propósito, que a municipalização da educação em curso corresponde a uma diminuição da autonomia das escolas.

Tirando isso, há recomendações que me parecem razoáveis, mesmo que estejam muito longe de ser originais, nomeadamente as que se referem à necessidade de detectar o mais cedo possível os problemas que poderão dificultar aprendizagens e à realização de exames apenas no final do ano lectivo (ao contrário do que acontece para os 4º e 6º anos). De qualquer modo, e voltando a meter o rabo na boca da pescada, a primeira recomendação implica autonomia das escolas e, muito provavelmente, contratação de recursos humanos.

Com o PSD e o CDS nunca nos veremos livres da austeridade

Com o PS não sei o que aí virá, apesar de achar que a política será de continuação do programa PSD/CDS, como de resto tem acontecido na alternância deste bloco central. Mas, quanto a estes dois, é claro como água:

Logo na sexta-feira, dia do acordo com o Eurogrupo, jornais gregos, mas também outras publicações, como o britânico The Guardian, noticiaram que a maior oposição ao entendimento entre os parceiros do euro e a Grécia veio dos ministros ibéricos. O jornal alemão Die Welt escreveu depois que a governante portuguesa pediu “pessoalmente” firmeza ao homólogo de Berlim, Wolfgang Schäuble. [PÚBLICO]

Repetindo-me, a vitória de uma alternativa, qualquer que ela seja, é a derrota da base ideológica deste governo: a política do “não há alternativa”. Por isto, não esperemos destes protagonistas uma inversão de política, nem agora, nem no futuro. Agora, porque isso seria a negação do que têm feito e tal inversão conduziria à aniquilação eleitoral destes dois partidos. E nem no futuro, já que reformar, para PSD/CDS, consiste em baixar salários, aumentar impostos, baixar pensões e desmantelar serviços públicos.

Ana de Amsterdam

Leitores da Ana Cássia Rebelo, exultemos: acaba de ser publicada em livro uma antologia de textos do blogue.