
Em Braga, à saída do comboio, salto para a espinha da minha bicicleta dobrável e faço-me à rua do Caires. Duas faixas em cada sentido, uma delas quase sempre ocupada por malta do “Movimento Volto Já”.
Expor ao vento. Arejar. Segurar pelas ventas. Farejar, pressentir, suspeitar. Chegar.
O ministro das finanças alemão afirmou que “Portugal é a melhor prova de que os programas funcionam“.
Ora para lhe dar a conhecer o nosso paraíso, Herr Schäuble, cada um de nós, subscritores deste evento, contribuirá com um cêntimo (ou com uma bosta) para a aquisição de um vôo low cost (porque somos um país resgatado que poupa nas despesas) para Lisboa, sem bilhete de regresso à sua zona de conforto.
Não queremos perder a oportunidade de lhe dar a conhecer o país real em que vivemos. O país da fome, da miséria, dos desempregados e dos empregados famintos, dos suicídios que deixaram de ser noticiados, das casas devolutas abandonadas por quem já não as pode pagar, do pequeno comércio falido, dos velhos que morrem sozinhos em casa ou na rua, à fome e sem dinheiro para medicamentos, das crianças que desmaiam nas escolas e não têm livros escolares, das escolas degradadas, com salas de aula sem vidros, WC’s sem papel higiénico, nem sabonete, dos professores escravizados, dos alunos ignorados, das famílias sem água e sem luz, dos incontáveis sem abrigo. Dos que morrem nas urgências de hospitais à espera de serem atendidos e dos que morrem depois de atendidos pela inexistência dos medicamentos necessários. O país dos que emigram, quando podem, e dos que ficam num suicídio colectivo.
Teremos muito gosto em afundá-lo no pantanoso beco a que nos confina, Herr Schäuble. Seja bem-vindo. Cá estaremos para o receber.
O convite será entregue na sua embaixada. Subscreva-o
“O euro não seria o mesmo hoje se Portugal ou a Irlanda tivessem falhado os seus programas“, Passos Coelho, como habitualmente sem pensar, disse. Recordemos as metas iniciais e não as que foram sendo reescritas à la Animal Farm:
Ah!, perdão, o número de privatizações foi superior ao planeado, tal como o foram os cortes em salários e pensões. O número de dias de trabalho aumentou e as amnistias fiscais para fugas ao fisco passaram a ser lei. As nomeações continuaram em bom ritmo e a duplicação do estado continua (agora com a chamada municipalização da educação). Deve ser a isto que o primeiro-ministro se referia ao pretender que o “programa” não falhou. Pontos de vista, lá está.
Passos Coelho “ergue-se sobre as patas traseiras” – escreve um jornal.
– J’ai l’air con – disse o luxemburguês.
– Eu cá não pareço, sou mesmo idiota – respondeu Marques Guedes.
O Expresso, ao traduzir excertos do discurso de James Comey na Universidade de Georgetown, apresentou (há cerca de uma semana) uma proposta, no mínimo, ousada.
Comey disse:
We need to come to grips with the fact that this behavior complicates the relationship between police and the communities they serve.
O Expresso traduziu:
Temos de enfrentar o fato de que esse comportamento dificulta a relação entre a polícia e as comunidades que servem.
Muito bem.
Por seu turno, o Diário da República continua em excelente forma.
Felizmente, “em Portugal, as novas regras estão a ser aplicadas sem atropelos“.
afeta ao Super Dragões». Não percebo: “uma pessoa afeta“? E o ‹s› de ‘aos’ não é pronunciado? Sendo pronunciado, quem é o Super Dragões? A Bola procurou uma reação? Uma [ʀjɐˈsɐ̃ũ̯]? Que grande confusão.
Sigmar Gabriel, líder do SPD, defende que a carta grega é um primeiro passo numa boa direcção.
«(…) Num país de consensos, onde uma sociedade acrítica sobrevive no meio da infiferença (…) e em que as elites dominantes aproveitaram a crise económica mundial para internamente restringir direitos adquiridos.»
«Um país debilitado, empobrecido e a caminho da demência. (…) Depois das políticas sociais de combate à pobreza, verifica-se (…) um desprezo pela igualdade (…) e um apodrecimento das conquistas feitas em 1974. (…)»
Na imagem (uma página da revista TimeOut), uma representação da pobreza que se vê, com a assinatura satírica a que João Tabarra nos habituou (ele que é que tantas vezes objecto e sujeito das suas imagens fotográficas). Mais desafiante será representar a outra, prevalecente, e que não se vê: a miséria envergonhada, a miséria moral (dos que não votam, por exemplo), e tudo o que fica escondidinho na casa e no espírito dos portugueses, pobretes cada vez menos alegretes.
Foto@Freedom Bytes
Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças holandês, presidente do Eurogrupo e ponta de lança do Austeridade FC, foi apanhado num momento Miguel Relvas: o seu CV referia um mestrado em Economia Empresarial pela universidade de College Cork, Irlanda, algo que, infelizmente para Dijsselbloem, nunca seria possível na medida em que tal mestrado simplesmente não existe na referida universidade.
Vamos imaginar, por breves momentos, que o CV aldrabado era de Varoufakis. Conseguem imaginar a tropa de choque do regime, montada nos seus unicórnios cor-de-rosa, bandeira com os focinhos de Hayek e Hitler em riste, a despejar chumbo grosso no alvo do momento? Seria épico mas, as far as we know, a cavalaria do regime terá que esperar porque o CV do Varoufakis é mesmo dele, não um embuste pseudo-académico relviano (acho que inventei uma palavra).
Durante e após a II Guerra Mundial, era fácil identificar os germanófilos: tendo filho varão chamavam-lhe Adolfo (e muitos netos por aí andam). Agora, nascendo menina, vai chamar-se Ângela.
Escola vencedora foi financiada pelo mais recente membro da CPLP, o regime do carniceiro Teodoro Obiang.
Fico sempre na dúvida se estes radicais islâmicos são apenas patetas ou se usam argumentos desta categoria para manter os seus correlegionários na infinita estupidez subjacente a qualquer radicalismo religioso. E, como de costume, os piores exemplos acabam sempre por chegar desse nosso estimado aliado que é a Arábia Saudita, a referência maior no financiamento do fundamentalismo islâmico.
À hora a que escrevo, a Carta Aberta de Alexis Tsipras aos Leitores do Handelsblatt e o artigo Não há tempo para jogos na Europa somam entre si 12 mil partilhas no Facebook. Outros textos sobre o que se passa na Grécia são também habitualmente populares aqui no Aventar, indicando, claramente, que os portugueses não estão desatentos quanto ao desenrolar desta crise política europeia.
Há uma bola de neve que começou na Grécia e, tal como aconteceu com a expansão das revoluções da Primavera Árabe, pode tornar-se na avalanche que derrube a hegemonia nórdica, alemã, sobretudo. A popularidade destes textos, bem acima do habitual não só deste blog mas também do panorama nacional, aponta para que não estejamos apenas perante wishful thinking.
Continua a bom ritmo o processo de municipalização da educação. Como tem sido hábito, especialmente nos últimos dez anos, trata-se de uma medida imposta pelo governo ao arrepio da maioria dos que trabalham no terreno.
Vale a pena, apesar de tudo, ler o Decreto, especialmente o palavreado introdutório, porque nunca devemos perder uma oportunidade de nos rirmos, mesmo no meio das desgraças. Aqui pelo Aventar, Santana Castilho glosou o tema. O Paulo Guinote tem dedicado vários textos ao assunto (para além dos publicados no blogue, recomenda-se “Municipalização da Educação: uma reforma necessária e coerente?”). O Arlindo, como de costume, colocou vários materiais ao alcance dos leitores, sendo de realçar a Declaração conjunta ANDAEP, CONFAP e FNE sobre transferência de competências para as autarquias (a primeira sigla é a da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, a segunda é a da Confederação Nacional das Associações de Pais, sendo a terceira a da Federação Nacional de Educação). A FENPROF tem uma página especificamente dedicada esta questão.
No que se refere à transferência de competências para as câmaras municipais, o Arlindo comenta “nada disto me parece um bicho papão.” Mesmo que seja verdade, pergunto-me se deverá ser esse o critério para que um governo imponha medidas, seja em que área for.
Finalmente, o Conselho de Escolas, órgão consultivo do Ministério da Educação constituído por directores de escolas, emitiu um parecer em que são levantadas várias reservas ao processo de transferência de competências para as câmaras. Leia-se a notícia do Público sobre este parecer, com direito a contra-argumentação do Ministério.
O leitor sensato pensará “Se eu fosse ministro, iria, no mínimo, ler todos estes pareceres e, muito provavelmente, iria reconsiderar, tendo em conta que provêm de pessoas e entidades informadas e conhecedoras.” O leitor tem, no entanto, um problema: é sensato.
C’est vraiment trop injuste… — Calimero *** Não pretendo meter foice em seara alheia, pois há abundante literatura acerca do fenómeno de não se aceitar um resultado negativo, na perspectiva de, obviamente (o obviamente é, por definição, indiscutível), sermos os maiores e, logo, se perdemos, como somos os maiores, é claro que fomos prejudicados por algum […]
Como escreve Natalie B. Compton, “um urso fez uma pausa para uma extensa sessão fotográfica“. Onde? Em Boulder, CO, nos Estados Unidos da América.
N.B.:
Debate político entre Aventadores. A Esquerda, a Direita, e não só.
A actualidade em análise com as opiniões dos participantes no Aventar sobre a actualidade.
Debate sobre política, sociedade, actualidade, entre outros.
As músicas escolhidas pelos participantes do Aventar com espaço para entrevistas e apresentação de novas bandas, tendências e sonoridades.
Aqui reinam as palavras. Em prosa ou poesia. A obra e os autores.
e comprou-lhe um imóvel a preço de custo, após investimento de 340 mil euros da autarquia. Serão Carreiras e Pinto Luz os mais recentes avençados do PCC?
Discordo. Os *aspetos nunca são positivos.
Quem foram os 1,7% de militantes Cheganos que não votaram no querido líder André Ventura e quando é que devem ser empurrados de um penhasco?
Hoje, por causa de umas pipocas, lembrei-me das melhores da minha vida (com manteiga), comidas em Show Low, AZ, no regresso de Fort Apache. Entre Show Low e Holbrook, há uma terra chamada Snowflake.
agora fazei o favor de ler o artigo do Henrique Burnay, no Expresso. Totalmente grátis.
li por aí que uma liberal acusou a IL de ter uma espécie de familygate na estrutura do partido. Estou chocado (NOT).
e até o sniper que queria abater o Marcelo foi apanhado. As forças de segurança funcionam, os juízes é que não querem prender larápios. Investigue-se.
Sabem quem é, no tal Conselho Estratégico Nacional do PSD (uma invenção do Rui Rio e que o Montenegro foi atrás) o responsável pela área da Cultura ? Por aqui vi tudo. Além do CV que está aqui, é comentador de bola num programa da CMTV.
Há um provérbio turco que reza assim “Se meteres um palhaço num palácio ele não se transforma num príncipe, mas o palácio transforma-se num circo”.
Parabéns Dr. Luís Montenegro!
Exército Americano estima que o plano climático custar-lhes-á mais de 6,8 mil milhões USD em 5 anos. Só podem estar doidos, a gastarem dinheiro em algo que não existe.
Ariana Cosme e Rui Trindade escrevem, hoje, dia da manifestação dos professores em Lisboa: «Está na hora de se reconhecer que este Governo e este ministro são, afinal, os melhores interlocutores que os professores e os seus sindicatos poderiam ter.»
diz o Der Terrorist.
Isto não é a Ribeira. E o <i> de Fontainhas não leva acento. É como o <i> de ladainha, rainha, grainha, etc. Siga.
“As autoridades *diz que sim”. Se as autoridades *diz que sim, estou mais descansado. Menos bola, menos precipitação, menos espectáculo, menos propaganda (“está a ser reposta a normalidade”…) e mais rigor, sff.
Nos últimos dias enquanto funcionário público, o CEO da Iniciativa Liberal cumpriu a promessa de tornar os liberais mais “populares”: agora chama-se Quim.
conduzido pelo Daniel Oliveira. O artigo no Expresso é aberto e merece ser lido.
o Presidente da República promulga o OE2023. Mas faz mal. Faz muito mal.
Em entrevista a Piers Morgan que sairá amanhã, Pedro Nuno Santos critica o seu anterior clube e diz que o cozinheiro do PS ainda é o mesmo do tempo do engenheiro Sócrates.
Se a renúncia ao cargo na TAP nos custou meio milhão, nem imagino a factura que virá com a demissão do governo. Que tal criar um imposto para acautelar o próximo job?
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