Um santo bebedor

 

À parte o Cary Grant, com quem nunca troquei bons-dias, a encarnação do perfeito cavalheiro surgiu-me sempre na figura do Sr. Magalhães. Repare-se, para início de conversa, que eu nem sei o nome próprio dele, não me passaria pela cabeça chamar-lhe outra coisa senão Sr. Magalhães. Era um homem de outro tempo, um tempo impreciso e se calhar mítico, em que os homens eram cumpridores de um código de honra austero. A sua amabilidade era sempre distante, não por arrogância mas para não arriscar encurtar distâncias indevidamente. Nunca lhe ouviram uma palavra impensada, foi sempre cortês e digno, capaz de voltar costas a uma provocação sem que alguém se atrevesse a ver nisso cobardia. Passara poucos anos na escola, era oficiante de uma profissão agora caída em desuso, e não sei se gostava do seu trabalho mas fazia-o com brio. E era dedicado à família, um desses homens que não precisam de manifestações públicas de afecto para deixar claro que continuam enamorados das mulheres década após década. Trabalhou até ao limite do suportável, já minado pela doença, e foi sempre amado e respeitado pelos filhos, que eram três pequenas réplicas do cavalheiresco pai. Era, como vêem, um homem perfeito. Mas era um bêbedo. [Read more…]

Admissão de culpa

6.egas[1]

 Foto (http://cativarparaaprender.blogspot.pt/2012/05/uma-questao-de-honra.html)

Tenho consciência, não estou esquecido, conheço a Lei, fui notificado várias vezes. Infelizmente, devido à política seguida pelo Governo nos últimos 4 anos, não tenho é dinheiro!

Versão integral publicada originalmente em: http://wp.me/p29WGc-AU

Alarme social: meses com maiúsculas no site do IAVE

Meses_IAVE2Nos últimos dias, várias vozes chamaram a atenção para os prováveis prejuízos decorrentes da obrigatoriedade de usar nos exames nacionais apenas a grafia permitida pelo acordo ortográfico de 1990 (AO90). Naturalmente, fiz parte do coro.

Hoje, no jornal Público, apresentei vários argumentos a favor da utilização das grafias de 1945 e de 1990 nos exames nacionais, tal como acontecia até ao ano passado,  e, ontem, comentei as infelizes declarações de Edviges Ferreira, que, a propósito do mesmo assunto, conseguiu a quadratura do círculo, ao reconhecer que pode haver prejuízo para os alunos, defendendo, apesar disso, que não devem ter direito a duas grafias, castigando-os por culpas que atribui aos professores. [Read more…]

O potencial destruidor de Nuno Crato

Santana Castilho *

1. A comunicação social referiu-se abundantemente a um documento produzido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre o problema das reprovações (“retenções” na novilíngua vigente). O tratamento jornalístico glosou os aspectos mais susceptíveis de chamar a atenção do grande público, tirando conclusões que não estão no documento ou dando uma interpretação descontextualizada a recomendações feitas. É o caso do custo das reprovações. Alguém multiplicou o número de “retidos” anualmente (150.000) por 4.000 euros (custo médio atribuído por aluno) para concluir que as ditas reprovações significam a perda de 600 milhões de euros. Ora é bom de ver que o custo de funcionamento das turmas pelas quais estão dispersos os alunos que reprovam não se altera por eles reprovarem no final do ano, num sistema de ensino com obrigatoriedade de permanência até aos 18 anos. É de outra natureza o prejuízo e as contas não se fazem assim. Mas a imprecisão foi amplamente propalada. E é o caso de se ter passado implicitamente a mensagem de o CNE sugerir transições administrativas, coisa que o documento não defende. Tudo, talvez, porque a narrativa da análise do CNE é descuidada, a linguagem pouco clara e as ideias se contradizem por vezes. [Read more…]