Manual sobre perda de competitividade

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Imagine que tem um nicho de mercado com ar modernaço. Seja, a título de exemplo, uma rede de carregamento de carros eléctricos. Suponha que essa rede foi construída sem que existissem clientes que a usassem, apesar de ter custado uma pequena fortuna. Como era algo modernaço, bastou-lhe o élan para justificar a sua concretização. Imagine, ainda, que passados 7 anos essa rede continua com uma utilização residual e que a adesão de novos clientes não passa, digamos, de 1% das vendas anuais desse mercado. Isto, apesar de os novos clientes terem um subsídio de adesão na casa dos 12%.

Ainda está a seguir este exercício criativo? Óptimo. Suponha, por fim, que o Estado decide dar, a fundo perdido, 4,2 milhões de euros para renovar e ampliar essa rede que não teve nem se antevê que tenha, em tempo útil, utilidade.

Imaginou tudo isto? Muito bem. Fique então sabendo que o cenário não é hipotético. É real. A sociedade Mobi.E gere de facto a rede descrita e vai receber os milhões indicados. Dizem que estes vêm de fundos comunitários, como se o dinheiro não fosse um lençol que se puxa para tapar de um lado, enquanto destapa do outro.

Para criar este “incentivo”, algo teve que ser desincentivado, seja por não ter recebido incentivo, seja porque foi contribuinte líquido para o incentivo. É tudo uma questão de competitividade.

Comments


  1. o que nasceu primeiro ; os carros ou os carregadores? a pergunta é tão idiota como certas “merdidas”. acabaram com os incentivos ao abate de automóveis em fim de vida o que se fosse equacionado e melhorado : AUMENTADO, na troca por veículos elétricos, cujo custo inicial é bastante elevado, talvez a “competitividade”, na aplicação dos tais fund ILHOS, trouxesse melhor resultado á economia, ao ambiente e até á otimização dos pontos e.mobile.

  2. anónimo says:

    Isto chama-se, ser roubado à descarada.

  3. Rui Silva says:

    Não se preocupem, então… por cada euro de investimento público não são “gerados” 4 ? Na CGD o factor multiplicativo ainda é maior ( não querem uma comissão de inquerito – pois pode-se dar a conhecer a formula mágica de tanto “multiplicativo”, que será de pronto roubado pelo Scheuble!)
    A intervenção estatal tem o toque de Midas.

    Rui Silva

    • j. manuel cordeiro says:

      A questão, Rui, é que o mundo não é a preto e branco. Nem tudo o que é público é bom, tal como nem tudo o que é privado é bom. Idem para o que é mau. Isto poderia ser uma daquelas afirmações atribuída a La Palice, mas que, por alguma razão, acaba negada por quem sistematicamente acha que se é privado, é bom. Como é o caso do Rui. E, em abono da verdade, também há quem ache que tudo o que é público é que é bom.

      • Rui Silva says:

        Caro J.M.Cordeiro, aceito que o mundo não é preto/branco, no entanto pergunto se não concorda que a gestão pública está à partida ferida por 2 grandes desvantagens:
        1) Administração do dinheiro dos outros ( configurando um gasto do tipo 4 , justamente o tipo de gasto onde o dinheiro encontra a sua menor eficiência).
        2) A administração não tem que assumir os resultados das sua decisões ( risco moral ).

        Estas 2 condições estão na base dos resultados das administrações socialistas que acreditam que tudo deve ser administrado pelo Estado.
        Veja, que os países são tanto mais pobres quanto mais economia pública tem.
        Assim o raciocínio lógico diz que a gestão pública deve ser limitada apenas para casos pontuais e logo que possivel esses caso devem passar para a administração privada.

        A gestão pública leva a situações completamente absurdas, veja o recente caso do ensino, em que colocada a questão de “fechar” escolas, a decisão é fechar as melhores e mais baratas em detrimento das mais caras e de pior qualidade.

        cps

        RS

        • j. manuel cordeiro says:

          “pergunto se não concorda que a gestão pública está à partida ferida por 2 grandes desvantagens”
          Não. E até dou dois exemplos, sem pensar muito. CTT e PT. A primeira era pública e sempre deu lucro; a segunda é privada e foi à falência.

          Não sei se os países ricos são onde há mais iniciativa privada. Teria que olhar para a Europa do Norte para perceber. Mas sei que os EUA, bandeira do privado, é onde existe das maiores diferenças entre ricos e pobres.

          O que escreve sobre a escola pública é falso. Vá ler o jornal da direita.
          http://observador.pt/2016/06/25/escola-ser-publica-ou-privada-nao-influencia-resultados-dos-alunos
          Mesmo sobre o custo, isso já foi desmontado n vezes.
          E mesmo que fosse mais barato, a questão não se resume a escolher o preço mais baixo. Não vou perder tempo a explicar porquê, mas dou-lhe uma pista: ensino de elites. Ver UK e EUA.

          • Rui Silva says:

            Dois bons exemplo, vejamos:
            CTT: uma empresa pública monopolista dá sempre “lucro” e nunca vai à falência. Mas à custa do contribuinte, que paga a ineficiência , em que inexoravelmente caem as empresas públicas por falta de concorrência.
            PT é o mais recente demonstração de como a intervenção estatal destrói tudo à sua volta. A empresa foi pública até 2011. Quando foi privatizada o estado resolveu entrega-la aos seus “amigos”, em vez de deixar que o mercado funcionasse ( impedindo que a Sonae adquirisse a empresa). Resultado da intervenção : Falência !
            Em relação à diferença entre ricos e pobres gostava de dizer que o que importa a um pobre não é a diferença mas o nivel de riqueza. Ou acha que um pobre da Venezuela ou Namíbia por exemplo, apesar de uma diferença pequena para os ricos do seu pias não gostava de ser um “pobre americano”, com carro , telemóvel, tv, frigorífico etc ?
            Em relação ao custo do ensino, sim, foi desmontada, mas o resultado foi que é o público é mais caro! Veja que o próprio orçamento de estado de 2016 diz que cada turma custa este ano mais 25.000 € que as turma privada. Aliás seria um “case study” a nível mundial , uma administração pública ficar mais barata que uma administração privada ( pelas 2 razões que já evoquei no meu primeiro comentário).
            Sim,concordo consigo numa coisa, não é só o preço mais baixo que interessa. Só que está a esquecer que na iniciativa privada e com concorrência, a evolução da qualidade é indissociável da descida dos preços. Alias a estas duas variáveis ( qualidade e preços) se deve o sucesso do Capitalismo, que trouxe ao mundo ocidental o bem estar que hoje usufruímos.
            Os países do norte da Europa são realmente um caso que justifica “que nem uma luva” esta situação. ou seja os países do Norte tornaram-se ricos devido ao sistema Capitalista que fez que estes povos podem revelar todo o seu espírito, inventivo e trabalhador. Veja o caso da Suécia, no inicio do séc.XIX , era um pais pobre, e no fim do mesmo século era dos países mais prósperos do mundo. Não me vai dizer que não foi no sistema Capitalista que isto aconteceu ? Quando aprofundou o Socialismo veja o que aconteceu . Nos anos 90 a Suécia após um iminente risco de falência, tem paulatinamente privatizado grande parte da economia que tinha sido “socializada” e tem vindo a recuperar a sua economia, e tem de novo subido nos ranking dos mais prósperos.

            Rui Silva

          • j. manuel cordeiro says:

            Muito bem, Rui. Tem razão. Retiro os meus argumentos.

            PS: a CP é uma empresa pública e não dá lucro.

            PPS: ainda não leu o Observador.

  4. Ferpin says:

    Não conheco a fundo este caso, mas conheço bem o monte de obras que se fazem não por serem necessárias (por vezes mesmo em vez de obras necessárias), mas porque há pilim da UE, ou seja porque a UE assim decidiu.
    Só um exemplo: as rotundas com as suas obras de arte espetadas no meio.


  5. É opção do dão sebastião Costa e comparsas seguir as pegadas do ex chefe socrates que consegiu a proeza de com dias e dias de abastecimento de electricidade exclusivamente renovável paguemos a electricidade caríssima; os malandros dos alemães reflectem na descida do preço a produção eólica, nós os espertos mantemo-la; espertezas de Zorrinho e Costa