Das boas ideias

Esta reportagem do Público merece ser lida não só pela qualidade do trabalho, mas pelas reflexões que pode – e deve – provocar. Ultimamente, devido ao Brexit, houve um crescimento no número de pedidos de nacionalidade portuguesa por parte de judeus britânicos. Esta reportagem vai à Turquia em busca de famílias sefarditas que fugiram no século XVI. Numa altura em que falamos tanto de refugiados, de pessoas que fogem da morte e da perseguição, muitos esqueceram-se que os judeus foram durante séculos os perseguidos por excelência na Europa. E tanto que insistimos em expulsá-los, e tanto que normalizamos a perseguição, que mesmo na altura mais dramáticas de todas, quando a Europa já se achava ingenuamente civilizada acabámos a matá-los aos milhões. E parece que não aprendemos.

Muito se fala também, embora não tanto em Portugal, na questão das reparações. Devem as antigas potências colonizadoras pagar reparações? Devem as nações negreiras pagar reparações aos descendentes de escravos? Deviam ter sido mais avultadas as reparações aos judeus?  São discussões longas e difíceis com as quais a maioria das nações – com a possível excepção, ironicamente, da Alemanha – não lidam muito bem. Portugal como país, como espaço político, cultural e identitário deve olhar para os seus pecados mais vezes, mais frequentemente. Penso que o fazemos pouco. E é por isso que esta medida de atribuição da nacionalidade portuguesa aos descendentes dos judeus sefarditas expulsos é tão importante, porque é simultaneamente, um pedido de desculpa e uma excelente ideia de apaziguamento.

Aos Habid, bruchim haba’im.

Comments

  1. Nascimento says:

    Estou cheio de peninha dos Judeus Ingleses.Vou já apelar ao Bibi….

  2. Rui Naldinho says:

    Concordo com o seu artigo.
    A História da humanidade está cheia de barbarie. Mas reparar danos materiais e morais é sempre muito complicado, pela simples razão de que um pai, uma mãe, um filho/a, famílias inteiras não têm preço.
    É um bocado como aquela frase atribuída a Estaline, a morte de um homem é uma tragédia, a morte de uma comunidade é apenas um mero dado estatístico.

  3. Paulo Só says:

    Concordo igualmente, era preciso que fosse claro que os judeus eram tão portugueses como os cristãos, estavam aqui muito antes da nacionalidade, a maioria deles sendo certamente constituida de população local convertida. E há uma informação lacunar que quero pesquisar quando tiver oportunidade. Houve vários “pogroms” em Lisboa, desde a primeira dinastia. Depois da expulsão ou conversão dos judeus, continuaram as rixas entre as duas comunidades. D. Manuel pediu a Inquisição ao Papa que só a autorizou muitos anos depois, já no reinado de D.João III. A inquisição foi solicitada para perseguir os judeus ou para tentar suster a hostilidade entre cristãos velhos e novos?
    Finalmente assim como os judeus acho que os escravos, tanto os que vieram para Portugal como os foram para as Américas também mereceriam um gesto.

  4. Alex says:

    Sim porque os judeus são todos umas vítimas coitadinhos. Never mind the fact that eles são as elites que controlam a maior parte do dinheiro do mundo. E que a maioria deles nem são verdadeiramente judeus, apenas se autodenominam como tal. Foram eles que criaram o sistema fiduciário e as “onzenas”. São eles que todos massacram milhares de não judeus (nomeadamente muçulmanos – coff coff Palestina) já para não falar dos sacrifícios dos gentileza que aconteceram ao longo da história e que levaram os reinos a decretar a sua expulsão. Enfim, talvez fosse melhor explorar a matéria mais a fundo. No mundo de hoje há muitos coitadinhos mas os judeus, certamente que não se encontram entre eles.

    • Paulo Só says:

      Não sei o que são “verdadeiramente” judeus, nem portugueses, nem negros, nem árabes. Sei o que são verdadeiramente mulheres e homens.

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