Já muito se escreveu no Aventar sobre as mais recentes movimentações em torno da recandidatura de Rui Moreira à CM do Porto, pelo que não quero bater na mesma tecla. Tenho a sensação, tal como o Fernando, que esta decisão já estava tomada há algum tempo, e não engulo a teoria de que as declarações de Ana Catarina Mendes, que me parecem normalíssimas, tenham feito transbordar o copo. Outra razão haverá.
O PS, experiente e mais versado nestas coisas do eleitoral, não perdeu tempo e anunciou Manuel Pizarro como seu candidato, que não sendo uma das figuras mais brilhantes da constelação socialista, me parece agora a melhor opção que o PS tem para correr contra Rui Moreira. Porquê? Porque Rui Moreira assim o quis. Porque, apesar da ruptura que provocou com os socialistas, faltou-lhe a hipocrisia dos carreiristas quando elogiou o agora candidato do PS pela sua “lealdade” e “competência”, afirmando mesmo a intenção de convidar Pizarro para seu vereador. E se é o seu adversário quem o diz, os socialistas não perderão a oportunidade de retirar máximo partido das declarações do autarca.
Com um argumento destes do seu lado, aliado a uma estratégia de vitimização já em marcha, Manuel Pizarro surgiu na convenção socialista deste fim-de-semana, alterada à última hora para uma recepção encenada e apoteótica, destacando os bons resultados da parceria entre os socialistas e a equipa liderada por Rui Moreira e sublinhando que essa parceria deixou de ser possível, fruto da decisão de autarca portuense. Agora é uma questão de dias até que a máquina eleitoral socialista implemente a sua narrativa, em torno de um candidato considerado leal e competente pelo seu principal adversário, que não hesitou em abdicar de uma candidatura do seu partido em nome do superior interesse da Invicta, e que se vê agora traído por Rui Moreira, sem que nada o fizesse prever.
Rui Moreira até pode revalidar o título, mas o seu segundo mandato não será tão fácil como o primeiro. A menos que chegue a acordo com o PSD, o que parece altamente improvável, pelo menos a julgar pelas duras acusações de que foi já alvo por parte do Álvaro Santos Almeida, candidato “independente” do PSD, que, em entrevista ao Expresso, classificou o seu adversário de “figura decorativa” de um executivo controlado pelo PS, não perdendo a oportunidade de se demarcar da elite portuense (à qual colou, e bem, Rui Moreira), e dos negócios imobiliários da família do autarca do Porto, através dos quais, afirma, a campanha do autarca é financiada. No Sábado, ainda a crise Rui Moreira/PS estava no adro, já Santos Almeida a cavalgava habilmente, qual independente virgem nestas matérias. O cerco está montado e Rui Moreira parece ser um dos mais valiosos activos dos seus oponentes.
http://www.insonias.pt/o-voto-dos-portuenses-nao-tem-dono/amp/#more-6421
A única solução razoável, será um enorme silêncio de ambas as partes, para que cada um deles acabe por salvar a sua própria face, diminuindo o impacto da desavença.
Caso contrário, a probabilidade de Rui Moreira ser reeleito diminui dia após dia. Até porque as circunstâncias hoje são diferentes do passado. E mesmo reeleito, Rui Moreira corre o risco de ficar em minoria. Mas numa situação minoritária, que o torne refém de um dos grandes partidos, sem hipóteses de voltar a clamar por autonomia. Uma vez que nessa altura os apoios serão logo negociados no início do mandato.
Por outro lado, o PS corre o risco de ficar igual ou pior do que nas últimas eleições, continuando com um resultado abaixo do PSD, inclusivé, o que abrirá as portas a recomposições na vereação.
Cada vez que Rui Moreira criticar o PS, ele perderá votos para o candidato do PSD. Cada vez que o PS criticar Rui Moreira, incluindo no caso “selminho”, dará votos ao PSD, e porventura a outros partidos mais à esquerda, porque ninguém compreenderá a razão, porque só agora colocam certos assuntos na agenda.
Rui Moreira para lá e para cá, Pizarro para cá e para lá, mas afinal isto tem alguma relevância em termos das políticas que vão ser adoptadas? Se se troca um pelo outro num abrir e fechar de olhos, estamos a falar de quê exactamente? 🙂