Da Catalunha a Jerusalém

Fonte: El Pais

Durante semanas, na imprensa como em significativa parte da opinião publicada, produziu-se e comercializou-se o dogma do fim do independentismo catalão. A reacção musculada de Madrid, a enfatização das contramanifestações, o receio provocado pela fuga de empresas de referência ou os presos políticos e exilados eram motivos de sobra para que o romantismo separatista se dissipasse.

Estavam enganados.

Apesar da vitória do Ciudadanos, que viu a sua força parlamentar crescer na exacta mesma medida em que o PP, o grande derrotado da eleição, viu a sua diminuir, e ainda sacou mais quatro representantes aos restantes, as forças independentistas conseguiram manter a maioria no parlamento, apesar da cisão no seio da alargada coligação que venceu as eleições de 2015. Independentemente daquilo que será o futuro da Catalunha, a estratégia do medo falhou.

Mas esta não foi a única boa notícia do dia. Em Nova Iorque, em solo controlado por uma das mais sinistras e aberrantes figuras que alguma vez habitou a Casa Branca, a sede da ONU foi palco de uma das maiores derrotas da presidência Trump no plano internacional, por simbólica que tenha sido, ou não tivesse ele ameaçado o mundo inteiro antes da sessão. Resultado? Dos 172 países que votaram, 128 mostraram o dedo à chantagem de Trump, 35 abstiveram-se, e entre eles algumas democracias europeias com tendências estranhas e vizinhos que não estão para se chatear, e na Trump Team, talhada para ser loser, um grupo de nações preponderantes: para além do óbvio Israel, votaram com os Estados Unidos a Guatemala, as Honduras, o Togo, as Ilhas Marshall, a Micronésia, Palau e Nauru. Satélites e desafortunados. Uma humilhação.

Infelizmente, um dia bom não resolve os problemas de ninguém. Na Catalunha, independentistas e constitucionalistas continuarão de costas voltadas, envoltos num clima de suspeição e antagonismo. É legitimo dizer que a causa separatista prevaleceu, por manter a maioria no parlamento catalão, mas Rajoy não parece estar disposto a permitir heresias. Nos EUA, e quem diz nos EUA diz no mundo, o pesadelo Trump continua, bizarro e assustador, e o imbecil lá vai fazendo das suas, grande demais para uma Sala Oval repleta de porcelanas. Um elefante com armas nucleares. Precisamos de muitos dias bons. Um só não chega.

Comments

  1. Nascimento says:

    Por onde anda o Almeida?Foi a Barcelona afagar Arrimadas e a sua vitoria de pirro😁?
    E agora Almeida?Que fazer quando o povo vota….FORÇADO,MAS VOTA?A TVE , aquela merda de cano televisivo,ontem, estava com as putas comentadoras avençadas em estado de choque….foram pra caminha mais cedo😂.

  2. antero seguro says:

    Um Mundo, cada vez, mais mal frequentado.

  3. joão lopes says:

    a Catalunha ganhou,rajoy perdeu e a Espanha…não ganhará o mundial,eis o resultado da profunda arrogancia da “direita” instalada em Madrid,com a mania que manda pela chantagem do medo e os outros baixam as orelhas(nota:os trablhadores da soane estão em greve, e mais uma vez,é muito bem feita para esta gentalha que só sabe mandar e nunca por nunca se preocupam ou pensam que os outros tambem são gente,tambem são humanos)

  4. Não vejo razão para festa. Não me parece que um país possa ser independente contra a vontade de metade dos seus habitantes, sendo ainda certo que a história (Quebeque, Escócia) demonstrou que o apoio a partidos independentistas não quer dizer, de todo, apoio à independência. Há uma grande trapalhada, que não se vê como será resolvida, e o execrável e corrupto Rajoy parece-me menos culpado por ela do que os estrambólicos defensores da independência catalã.

    • Nascimento says:

      O que é um tipo “execrável e corrupto”? Um filho da puta. Mas, menos ” do que os outros”….ai meu, que análise linda. É CM. no melhor estilo taxista.

  5. Podia ter escrito”não vejo razão para festa, porque apesar do gráfico todo laroca, os soberanistas tiveram menos votos que os espanholistas, mas a comunada, nunca foi boa em contas”, mas, lá está, tenho modos, digo “execrável e corrupto” e não essa outra coisa.

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