Zeus

Às vezes encontrava-o no restaurante, ele vendia a «Cais» e quase ninguém a comprava, mas o pior nem era isso, era o ar de nojo com que lhe diziam que não, não fosse a sua presença ao lado da mesa contaminar a batata assada e a costela mendinha, diziam-lhe que não com um gesto enfastiado da mão mas não olhavam para ele, e ele agradecia e afastava-se devagar, com aquele corpo lento e cerimonioso, mas havia uma tensão nos seus lábios, rápida, logo afastada, que denunciava uma violência que ele tinha de conter a cada instante, uma luta nunca vencida.

Depois deixou de ter a «Cais», não sei que aconteceu, porque apareceu com uma revista gratuita, uma publicação dos lojistas de uma rua qualquer, e eu disse que não precisava da revista, que o ajudava na mesma, mas foi um gesto indigno, o meu, e arrependi-me logo porque ele insistiu em dar-me a revista. Aceitei-a, ele agradeceu de novo com aquela vénia solene que eu já lhe conhecia, mas desta vez demorou mais tempo a erguer a cabeça, vi-o sonolento, pesado, ferido e percebi que o grande deus caído em desgraça estava cansado da sua penitência. [Read more…]

A pocilga do caciquismo e as directas do PSD

Pedro Marques Lopes assina um artigo de opinião no DN, Quotas, caciques e eleições internas, que no mínimo merece a reflexão daqueles que se preocupam com a saúde da nossa democracia. O fenómeno do caciquismo, e em particular dos pagamentos em massa de cotas, que antecedem actos eleitorais internos nos partidos do costume, representam uma subversão dos processos democráticos, que devia corar de vergonha todos aqueles que recorrem a estes procedimentos, se tivessem vergonha na cara, que não têm. Nas palavras de Pedro Marques Lopes: [Read more…]

A Cimeira África – UE: Esbracejando no alto mar da hipocrisia

Meia despercebida, teve lugar a 29 e 30 de Novembro passado em Abidjan, capital da Costa do Marfim, a 5° Cimeira entre a União Europeia e a União Africana, destinada a “definir o rumo futuro da cooperação entre os dois continentes”.

No final da cimeira, chefes de estado e de governo de 55 estados africanos e de 28 países europeus assinaram uma declaração de encerramento que já tinha sido depenada de passagens desconfortáveis: pelos africanos, de partes relativas a democracia, estado de direito, salvaguarda da alternância do poder e ao Tribunal Penal Internacional para crimes de lesa humanidade, genocídio e guerra; pelos europeus, de compromissos financeiros concretos. O comunicado conjunto da cimeira refere, num rol de boas intenções, quatro domínios estratégicos para o reforço da cooperação: oportunidades económicas para os jovens, paz e segurança, mobilidade e migração e cooperação em matéria de boa governação. O que o comunicado não revela é de que forma isto deverá acontecer na prática.

Plano de resgate de migrantes

O único resultado palpável da Cimeira foi o anúncio de medidas de resgate de 3.800 refugiados da Líbia – onde são tratados pior que animais, torturados, violados, vendidos como escravos, conforme um filme da CNN mostrou  aos líderes europeus e africanos presentes. A essa realidade, há muito conhecida, andaram os líderes europeus que agora se mostram muito indignados a fazer vista grossa, pois a Líbia serve de carcereiro à saída para a Europa. [Read more…]

E novidades?

Isto provocou alguma “intifada” na CS tuga?

Caracas invade o FMI

ou algo assim do género, com totalitarismos e cenas comunistas à mistura.

Postcards from Greece #33 (Galatistá)

Todas as aldeias têm o mesmo cheiro

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especialmente no inverno. A frio e a lareira. Uma mistura que para mim é como voltar a casa dos meus avós, nas aldeias em que nasceram os meus pais. Hoje cheirava assim, tal e qual em Galatistá (Γαλάτιστα), a aldeia onde vive uma das minhas colegas, a uns 40 quilómetros de Salónica. Mas é absolutamente o campo. As montanhas imponentes e a seguir os vales ora verdes, ora carregados de oliveiras. As azeitonas na Grécia são, provavelmente, as melhores do mundo. Quanto ao azeite tenho dificuldades em decidir entre o nosso, o italiano e o grego. De qualquer maneira é bom, tal como é boa a comida grega, especialmente a que comemos hoje ao almoço na pequena taverna da aldeia, onde toda a gente fuma, pois claro. A refeição, abundante, composta por diversos pratos gregos, muito queijo feta (com tomate, no forno), souvlaki de galinha, carne de porco frita em azeite e regada com sumo de limão, salada com molho doce, barriga de porco grelhada, regada com mais sumo de limão, batatas fritas caseiras como já não há, uma espécie de salsicha enorme grelhada de que não sei o nome. Tudo bem acompanhado com retsina, um vinho branco ao qual é adicionada resina de pinheiro durante o processo de fermentação. Depois, café grego e uns bolinhos de mel tradicionais nesta altura do ano. Os bolinhos, tal como o é, geralmente, a sobremesa aqui na Grécia, foram oferecidos. Outro dia também me ofereceram o café no Zythos. Filoxenía, portanto, já sabemos.
 

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