Quotas? A discriminação do bem.

Estava a fazer uma passagem pelo Twitter e deparo-me com este título de uma notícia: “Plano contra o racismo prevê quotas para acesso de alunos de escolas desfavorecidas às universidades”.

Antes de tudo, admiro-me que estas quotas sejam inseridas num plano contra o racismo. Só há “alunos de escolas desfavorecidas” não-brancos? Há desfavorecidos privilegiados? Sinceramente, esta parece ser a pior forma de racismo de todas: é quando vem disfarçado de igualdade. Esta ideia presume que uma pessoa tem mais ou menos condições, em princípio, pela sua etnia. É um insulto a pessoas de etnias que seriam beneficiadas, pois há uma elite pseudo-antirracista que considera que necessitam de um empurrão. E é também um insulto a quem não seria beneficiado, pois colocam nos ombros destas pessoas o sentimento de que apenas são o que são pela sua etnia, como se não tivessem de trabalhar.

Agora, o que são escolas desfavorecidas? Escolas públicas que existem num bairro apenas para os alunos fazerem a escolaridade obrigatória e entrar para as estatísticas? Qual é a solução? Quotas. Em vez de se estimular ao progresso, andamos para trás. Os problemas na Educação, certamente, não se tratarão por decreto.

Por último, quotas? Lamento, mas a solução para equilibrar o campo não é dizer a alguém que vai conseguir alcançar algo, porque há um decreto que o beneficia. Não devemos oferecer as oportunidades, devemos garantir o acesso. Devemos melhorar o nosso elevador social. Devemos garantir que todos os jovens têm acesso a uma educação de qualidade, que tenham hipótese de escolher e não ficarem condenadas a cumprirem uma simples estatística.

E não nos enganemos, é óbvio que um jovem que nasceu na Cova da Moura e outro do Restelo não têm as mesmas oportunidades à nascença, em princípio. Enquanto um rapaz que vive numa família de classe média ou alta pode ter explicações e aulas de ténis, o rapaz da Cova da Moura não tem dinheiro para explicações ou aulas de ténis e, em alguns casos, ainda terá de trabalhar desde cedo. Para isso, há que equilibrar o campo. Garantir que estes dois rapazes podem escolher a sua escola sem depender exclusivamente do dinheiro que têm, para que se possam destacar pelo mérito, seja lá o que isso for, e não porque a família tem mais ou menos posses.

Alguém de direita que recuse a necessidade do Estado em equilibrar o campo para que partam de uma posição mais justa, para mim, está ao nível da esquerda que acha que quotas são algo digno.

Mais uma vez, precisamos de uma política mais racional e menos emocional. Eu não estou contra as pessoas que nascem em situações piores do que outras, eu estou ao lado delas. Vocês é que não.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Sempre houve quotas, no ensino.
    Os atletas de alta competição no meu tempo de estudante, tinham acesso ao ensino superior por quotas especiais. Por exemplo, um nadador olímpico, sendo estudante, podia entrar em Medicina com média de 16,0 valores, enquanto os do regime geral, só com notas acima dos 18,0. Os militares em determinadas condições, idem. Os filhos de cidadãos portugueses no estrangeiro, nomeadamente o corpo diplomático, também.
    Haver quotas não me choca. Choca-me sim é as artimanhas que podem estar por detrás do processo. E aí sim, é necessário criar um regime que promova a coesão social, mas sem mácula.
    Não podemos é transformar isso numa espécie de RVCC, Regime de Validação e Certificação de Competências, para enganar as minorias, ultrapassando os outros que não tem culpa do sistema funcionar mal.
    Já agora, ideia peregrina de que um miúdo vindo dum bairro social de classes desfavorecidas, poderia e deveria ter acesso a entrar numa escola privada, qual(?), o Colégio dos Cedros ou o Colégio N.Senhora do Rosário(?), talvez o Valssassina, pago pelo Estado, claro, sem que isso fosse problemático para ele, para o corpo directivo e docente da escola, é uma grande treta. Se és pobre mas vens de uma família estruturada, as coisas até podem funcionar bem, ainda que no início haja alguma desconfiança. Já se a criança vem de uma família desestruturada, hoje é o que mais se vê por aí, infelizmente, a coisa complica-se e o aluno/a acaba expulso.
    Quando os colégios eram maioritariamente religiosos, com forte presença vocacional de freiras e frades, as coisas eram muito mais fáceis. A maioria desses Colégios hoje estão nas mãos de leigos.

  2. ANTONIO CARDOSO says:

    O sistema de “quotas” e simplesmente …estupido. Nos EUA o sistema foi introduzido (affirmative action) ha anos atras e resultou na degradacao dos servicos: educacao e funcionalismo publico em geral. Deu no que todos estamos a assistir!

    • Paulo Marques says:

      Nos EUA foi introduzido o sistema de quem tem melhores resultados, mais dinheiro recebe. Sim, falhou.

  3. Paulo Marques says:

    Os problemas na Educação, certamente, tratam-se por pagar mais umas rendas às escolas privadas.