A homofobia não tem ideologia, mas…

Assinala-se hoje o Dia Internacional contra a Homofobia. Um dia que nos recorda a todos o muito que há a fazer para combater a incivilidade, o preconceito e a crueldade, neste país em que os brandos costumes continuam a esconder níveis elevadíssimos de machismo, homofobia e perseguição, que começam em casa, se estendem à vida escolar e vivem instalados em alguma comunicação social, em alguns partidos políticos e numa série de instituições, publicas e privadas, onde a mentalidade retrógrada impera.

Não gosto de colocar a questão da homofobia em termos de esquerda e direita, por se tratar não de uma questão político-ideológica, mas de decência e humanidade. Contudo, é evidente que, num país em que a direita está cada vez mais refém do passado e de um conservadorismo bacoco e não raras vezes extremista, a luta pelos direitos da comunidade LGBT continua entregue e dependente da esquerda, que não é responsável pela aparente demissão da direita destas questões, excepção feita à Iniciativa Liberal.

Basta, aliás, olhar para a nossa vizinhança, para perceber que a luta contra a homofobia não é de esquerda nem de direita. Vejamos o caso de Madrid: governada desde 1995 pela direita conservadora, bem mais conservadora que a nossa, a capital espanhola é considerada uma das cidades mais gay-friendly do mundo. Quem conhece bem a cidade sabe que corresponde à verdade. E se algum autarca em Lisboa ousasse fazer com alguma estação de metro aquilo que foi feito no bairro da Chueca, certamente seria crucificado como marxista cultural ideólogo de género, em busca de converter as criancinhas à homossexualidade.

Referi Madrid mas poderia ter falado em Londres e no seu herege Soho, onde podemos encontrar vários marcos do correio e passadeiras pintadas com as cores do arco-íris. Poderia ter dado inúmeros exemplos de países onde a direita abraçou uma luta que, por cá, ainda a faz perder eleitores, e que dá gás a partidos como o Chega ou às franjas mais extremistas do CDS. Mas é inútil perder mais tempo com isso. I believe I’ve made my point. Lamentavelmente, a maioria dos partidos portugueses de direita, onde se inclui também grande parte do PSD, sobretudo a norte e no interior, pretende insistir no retrocesso. A decadência deste espaço político, em Portugal, não é alheia a este facto.

A urgência de lutar contra a homofobia, um imperativo ético de qualquer ser humano que se considere democrata e defensor dos direitos humanos, é, por si só, a evidência do muito que há a fazer. Quando vejo homofóbicos primários revoltados com as marchas do orgulho gay, a propor marchas do orgulho hetero, como se os heterossexuais fossem oprimidos, discriminados ou espancados por o serem, percebo o quão atrasados estamos nesta matéria. E não é à toa que isto acontece por cá: ser a cauda da Europa não se resume a indicadores económicos. É, em larga medida, uma questão civilizacional. E se há dimensão na qual estamos perigosamente a regredir, é na dimensão civilizacional. A ascensão do Chega é a prova disso mesmo.

Em todo o caso, retrocessos à parte, hoje é dia de celebrar aquilo que já conquistamos enquanto sociedade. Celebrar as lutas ganhas e as que ainda haveremos de ganhar, sem nunca baixar a guarda, porque esta luta não é apenas da comunidade LGBT, mas de todos os democratas e defensores dos direitos humanos. Porque é de democracia, liberdade e direitos humanos que estamos a falar. E porque, a este respeito, não existem meios termos: ou somos pela liberdade, ou somos pela opressão.

Comments

  1. JgMenos says:

    A esquerdalhada, com a sua idiotia de se armarem em excelsos seres, sempre precisam de ter vitimados que lhes sirvam de altar que destaque o seu narcisismo.
    Como os trabalhadores e os pobres já lhes merecem pouco interesse – são vulgaridades do passado – não-brancos, emigrantes e homo, é o que está a dar.
    Como sempre não ajudam ninguém, mas da rejeição da direita a esse circo retiram enorme exaltação.

    • Paulo Marques says:

      Sim, estou sempre a ver imagens do coisinho a ir a locais de trabalho e a defender melhoria das condições de trabalho, bem como subida de salários e pensões. Todos os dias.

  2. luis barreiro says:

    Nos países de esquerda os paneleiros são muito mais atacados.