O ataque das empresas à minha liberdade

Os (neo)liberais sentem-se sempre muito coarctados na sua selvática noção de liberdade por tudo aquilo que vem do Estado, por regulamentações dos governos. Pois eu acho isso estranho, porque no meu dia a dia só pontualmente sinto esses incómodos estatais. Eu até acho que pagar impostos é útil à sociedade e necessário, para serem garantidos os serviços públicos e diminuídas as desigualdades.

O que me incomoda sobremaneira e atenta contra a minha liberdade, é a forma invasiva e abusiva com que as empresas, que esses (neo)liberais tanto idolatram, me obrigam a usar coisas que não quero e se intrometem na minha vida para roubar os meus dados pessoais e fazerem os seus negócios.

Isto a propósito do segundo telefonema da NOS que recebi, a querer impingir-me uma qualquer estúpida campanha em que não estou interessada.

Telefonaram ontem, interrompi de imediato o telefonema com um “não estou interessada”, não deixando o agente comercial sequer expor as super vantagens da campanha; pois voltaram hoje à carga e, como eu nunca tive nenhum contrato com a NOS, desta vez quis mesmo saber de que via se serviram para chegar ao meu nome e número; a pobre alma do outro lado do telefone bem tentou desviar a conversa e quando voltei a insistir titubeou que “os contratos têm umas clausulas de uso comercial”, e eu pois, “mas eu recuso sempre autorização para isso”; bom, acabei por poupar o infeliz precário que não tem culpa nenhuma e ainda é explorado por cima, mas fui-lhe dizendo que os consumidores têm direitos e que não voltassem a contactar-me.  Sempre quero ver.

Desde o omnipresente Google que esgadanha tudo quanto é informação sobre as pessoas, às permanentes tentativas das empresas nos entrarem nos computadores por via de cookies, à obrigatoriedade de usar apps para aceder aos serviços que acabo por ter de ser eu a fazer, e de “escolher” “pacotes” que incluem opções que não me interessam, para já não falar na ininterrupta poluição publicitária, isto sim, é um ataque maciço à minha liberdade!

 

Comments

  1. JgMenos says:

    Pois claro, o Grande Irmão é que seria o grande descanso!

    • João Peneda says:

      Ó menos, se não fosse estúpido queria ser o quê?

    • POIS! says:

      Pois seria!

      “O Grande Oliveira da Cerejeira vela por ti, irmão, desde Santa Comba Dão!”

      Ai que saudades, meu deus! Lá se foi o descanso!


  2. O insigne defensor do capitalismo selvagem sentiu-se incomodado pelo legítimo desabafo da Ana contra as absurdas intrusões do marketing na nossa vida.
    Oh menos! A única coisa a fazer é emigrar para esse paraíso terreal que são os States onde as corporações fazem tudo o que querem. Deve ser aí que reina a felicidade suprema. Boa viagem!

  3. Elvimonte says:

    Camarada cassete, cloque isso na conta das alterações climáticas comerciais, industriais, publicitárias e energéticas. Revista-se de painéis foto-voltaicos e coloque uma turbina eólica à frente do nariz. Em seguida ligue-se à rede e vai ver que isso passa.

  4. Paulo Marques says:

    Bom, o Google Adsense já é ilegal na França, Áustria e Bélgica (se não me falha a memória).
    Onde andam os arautos do cumprimento da lei, a bem da concorrência?

  5. Joana Quelhas says:

    Tadinha da Aninhas , estão a destruir-lhe a “liberdade” .
    As Aninhas gostam que lhes cobrem impostos a torto e a direito (quase 6 meses no ano sem ver a cor do dinheiro) e não acham que isso lhes tira a liberdade mas quando lhe perguntam se quer um produto/serviço ao qual podem pura e simplesmente decidir que não , ai sim, estão a tirar-lhe a Liberdade.
    As Aninhas não conseguem perceber que isso é um custo precisamente de se ter liberdade.
    Nos países que isso não é permitido não há liberdade nenhuma , apenas a liberdade de pagar impostos.
    Enfim o que as Aninhas querem é acabar com aquilo que elas acham mal, pouco lhes importando se os seus semelhantes acham . Mas mesmo assim as Aninhas acham que defendem a liberdade , enfim…. A esquerda desfaz a inteligência … Ou melhor , para ser de esquerda é preciso esquecer de pensar.

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Pois…”a esquerda desfaz a inteligência”?

      Bem, e a direita desfaz o quê a Vosselência? A inteligência não pode ser.

      Não se pode desfazer o que não existe.

    • Paulo Marques says:

      Claro que pode escolher não estar contactável, não poder procurar emprego, não poder entrar em contacto com serviços públicos e privados, a liberdade é maravilhosa
      Esperemos que a Joaninha esteja a aproveitar a liberdade da escalada de preços da energia, ou, quem sabe, venha a escolher a liberdade de desligar o contador e livrar-se dos veículos privados.