Um dia ainda vamos saber qual foi o verdadeiro papel das redes sociais em toda esta guerra. Porém, neste momento, já não tenho muitas dúvidas da sua importância nalgumas tomadas de posição surpreendentes dos governos ocidentais – sim, nas democracias é quase impossível termos governantes imunes à força da opinião dos seus cidadãos.
Os principais governos europeus eram completamente contra lançar a “bomba atómica financeira” chamada Swift contra a Rússia. Ora, foi claro nas redes e nas ruas que essa era uma das exigências e quando os governos ocidentais divulgaram a segunda fase das sanções e não estava lá a retirada da Rússia do sistema Swift a revolta fez-se ouvir e em menos de 48h os governos mudaram de posição. Outro exemplo mais flagrante foi o caso da eterna neutralidade da Suíça. A força esmagadora da opinião dos seus cidadãos nas redes foi suficiente para este país dar um passo de gigante e quebrar a neutralidade. Ou que dizer do caso da FIFA? Primeiro veio com a velha história de que o desporto está fora da política. A seguir, graças à verdadeira avalanche de críticas começaram as federações locais a pressionar e a FIFA decide assim uma coisa meio parva de que os russos podiam jogar mas sem hino e bandeira. A coisa piorou e neste momento já é dado como adquirida a decisão de expulsão da Rússia do Mundial – e cheira-me que no fim de tudo isto vão rolar cabeças nas mais altas esferas da FIFA… E o que dizer das decisões tomadas pela Alemanha? Basta olhar para as redes sociais ou para a grandeza das manifestações de rua e a coisa está minimamente explicada.
Claro que alguns dirão que é o espelho da fraqueza das lideranças ocidentais. É a velha história do preso por ter cão e por não ter. É não perceber que essas lideranças, em países democráticos, sabem que a sua sobrevivência depende do voto popular e que este é bastante influenciado pelas redes. E que o velho quarto poder, o que realmente borrava de medo os políticos, está completamente tomado pela espuma dos dias das redes sociais – nesta guerra primeiro sabes o que se passa pelo Twitter e depois pelas televisões. Como nunca antes. Como nunca visto. E os políticos estão todos lá. Os velhos políticos só tinham medo do quarto poder e da violência nas ruas. Os novos políticos borram-se de medo das redes sociais e da violência nas ruas. É essa mudança a mais visível. E em Portugal estamos a ter um bom exemplo disto: o Bloco de Esquerda e o PCP.
O PCP não percebeu que o mundo mudou. Ainda confia que o importante é o quarto poder e estava confiante que a coisa seria fácil de resolver. Ora, foram as redes sociais a esmagar as posições do PCP sobre a Rússia e o imperialismo. A explicar-lhe da forma mais cruel que este PCP nestes tempos é uma espécie de filme em VHS quando já estamos na era do streaming. E que até o quarto poder lhe perdeu o respeito e o medo (o ataque mais violento e demolidor ao PCP foi mesmo na CNN/TVI24 e vindo de um militante do Partido Socialista). O Bloco, mais fino, emendou a mão a tempo. Começou por uma das irmãs Mortágua (no Linhas Vermelhas da SIC Notícias) em debate com o Adolfo Mesquita Nunes, a tentar o discurso do “Sim mas….” e rapidamente emendaram a mão até ao ponto de dividirem a rua em manifestações em cuja organização até estava, entre outros, a IL ou a Juventude Popular. O Bloco percebeu o que o PCP ainda não entende. Dirão alguns que isso só fica bem ao PCP pois revela o seu lado genuíno enquanto que o Bloco está é a ser hipócrita. Não sei, limito-me aos factos e ao óbvio. Contudo, a maior surpresa e a enorme lata veio mesmo do Chega. Até ontem eram todos amigos do Putin (quem paga manda, sempre ouvi dizer) e de braço dado com os partidos da sua área política financiados pelo vladimiro e de repente vejo um cartaz nas redes anunciando a participação do Chega na manifestação pela libertação da Ucrânia…. O Chega, cum catano, aquilo não é um cata-vento, aquilo é uma eólica!
O problema destas coisas é o perigo que não deixam de representar. É que da mesma forma que agora serviram para obrigar os seus governos a tomar decisões em prol dos agredidos amanhã podem estar a obrigar a os transformar em agressores. Quanto ao problema da manipulação esse não é diferente do passado, quantas vezes foi o quarto poder manipulado? Quem não se lembra do que era o DN a 23 de Abril de 74 e como passou a ser a 27 de Abril do mesmo ano? Sem pestanejar….
Pois olhe que…
A “retirada da Rússia do sistema SWIFT” não é a bomba que parece. O Ricardo Cabral explica bem a coisa no “Público” de hoje.
Para já, as transações com as empresas russas, em vários domínios, continuam a realizar-se. E pelo sistema SWIFT. Nem poderia ser de outro modo, ou o gás já teria faltado em qualquer lado.
No mesmo artigo explica-se que, mais efetivas, são as restrições ao uso pela Rússia dos 180 mil milhões que estão depositados junto do Eurosistema. Mas atenção: é uma medida que comporta grandes riscos (seguindo o mesmo artigo): ser interpretada como um ato de guerra por parte da NATO e pode abalar a confiança no euro e no dólar.
Arrisco a acrescentar, da minha lavra: se não abalar, é porque a convicção dos “mercados” é a de que a restrição não será total.
E há muita transação financeira, por esse mundo fora, que se realiza fora do SWIFT. Não digo que não cause mossa, e grande, mas, mais uma vez, os exageros da propaganda não levam a nada.
Engraçado, quando deviam ser os fanáticos a perceber que afinal foi. o mercado liberal que financiou está guerra, a culpa é de quem sempre avisou para que serve o sistema.
Nem a descoberta de que, ai, afinal há dinheiro, ai, afinal pode-se ir ao bolso dos investidores, ai, afinal os bombardeamentos são maus muda alguma coisa, porque o mundo é a vermelho e azul. Só ninguém note que há um mês diziam que a Ucrânia era vermelha, xiu.
E, já agora, os srs liberais já vieram pedir desculpa pela nacionalidade e lavagem de dinheiro que andaram a vender aos amigos do tal “comunista”?
Gostaria de informar os autores do blog que a pessoa que tem publicado como “Fernando Moreira de Sá” parece estar num etapa avançada de senilidade, já tenho notado sinais desde há vários meses, por favor informem os familiares do(a) indivíduo(a)