RESISTÊNCIA

Vemos muita gente a fugir da Ucrânia. É natural e os números tenderão a aumentar com o agravamento do conflito.

Vê-se também gente dirigindo-se para a Ucrânia, voluntariando-se para acções de defesa. Boa parte são emigrantes ucranianos residindo noutros países que se sentem motivados a defender a sua terra e os seus familiares. Outros, porém, são estrangeiros que se propõem lutar contra uma injustiça que acham gritante.

Haverá, entre todos eles, militaristas nostálgicos e românticos da guerra que gostam do cheiro da pólvora, de camuflados e de cenários de destruição. Serão, suponho, uma minoria.

Muitas destas pessoas são apenas gente corajosa, com o coração no lugar certo e grande generosidade. Não se lhes pode, em bom rigor, chamar belicistas nem pacifistas, mas vão para a guerra almejando a paz. Uma paz que não seja podre.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    A guerra é toda ela uma actividade irracional, movida por razões distintas por parte de cada um dos seus intervenientes.
    As guerras são declaradas quando um determinado poder político, num determinado Estado, tem ambições territoriais fora das suas fronteiras, com fins económicos. Uma irracionalidade. Ou quando dentro de portas esse poder está desgastado e em perda para uma alternância emergente, necessitando de forma desesperada de desviar as atenções dos problemas que vão surgindo dentro do espaço nacional onde se insere, projectando-o para o exterior. Outra irracionalidade.
    Aqueles que são sujeitos a uma guerra por invasão do seu território, acabam em desespero de causa por se tornar também eles irracionais, ao perceberem a sua condição de inferioridade, perante uma entidade belicista mais forte. Há uma espécie de sede de vingança a qualquer preço contra o agressor. O terrorismo tem muitas vezes aqui o seu campo de recrutamento. Então se for alimentado com uma forte dose de manipulação religiosa ou nacionalista, tanto faz, e com muita ignorância misturada, torna-se uma mistura explosiva.
    Por fim temos os voluntários. Sejam eles cidadãos estrangeiros ou nacionais, mas a viver num espaço fora da zona de conflito.
    Nota-se que há alguma irracionalidade neste ímpeto de fervor nacionalista ou, pior ainda, nos nostálgicos do cheiro a TNT.
    Ninguém sai de casa para ir para uma morte provável. Até porque não estamos perante forças militares da ONU, por exemplo, em proteção das populações após um acordo de paz, mesmo que frágil. Estamos sim no coração da guerra. Quem está bem na vida, sendo que o bem, significa estabilidade emocional, profissional e familiar não vai para a guerra, sem ser obrigado a isso. Os que saem de forma voluntária para esses conflitos, fazem-no na maioria das vezes porque as suas vidas nessas paragens estão muito longe do projecto social e económico que tinham imaginado para si próprios e para os seus. A frustração leva-os a encontrar nesse desígnio patriótico uma espécie de salvação. E só assim arriscam as suas vidas por uma glória que se pode tornar inútil. Outra irracionalidade.

  2. A. Pedro Correia says:

    Quem é que falou em racionalidade?
    “Ninguém sai de casa para uma morte provável”? E na Guerra Civil Espanhola? E na França ocupada, para não falar noutros continentes.
    Mais uma vez, quem é que falou em racionalidade?

    • POIS! says:

      Sim, racionalidade não seria muita, mas a probabilidade de combater e “escapar” era muito maior. Mesmo assim…

      Bem , na Segunda Guerra já seria muito mais difícil. Já para não falar da da Coreia. E até do Vietname.

      Foi por isso que não existiu uma guerra desta dimensão durante mais de 70 anos.

      Dos milhares ou mesmo milhões que, motivados pelo que quer que seja, muitos por pura generosidade, estão dispostos a combater, apenas uma parte o chegará a fazer.

      E desses, dada a desproporção de meios, poucos tenderão a escapar.

      Ou seja: ou não se entra em combate, porque não adianta, ou quem entra em combate dificilmente sai (isto também vale para os Russos). As guerras de hoje são assim.

      Veja o que aconteceu no Iraque. Vimos em direto. E viu algures combatentes mais “motivados” (em grande parte por puro fanatismo, mas funciona) que os do Daesh, por exemplo? E o que é que lhes tem acontecido?

    • Rui Naldinho says:

      “”Ninguém sai de casa para uma morte provável.”

      Refiro-me aos voluntários, claro. Nunca me referi aos cidadãos nacionais a viver em território pátrio. A esses não lhes resta outra alternativa para salvar os pertences e a própria vida, incluindo a dos seus. Se não fui explícito, peço desculpa pela fragilidade da minha escrita.
      Os voluntários não estão propriamente a defender o território onde vivem. Não vivem o drama de perder os seus bens e famílias, uma vez que sendo estrangeiros, nada daquilo é seu.
      O que os move? Espírito aventureiro? Ideologia?
      Já os emigrantes, por estarem nessa condição em relação ao seu país, o mais provável é terem de lá saído por falta de condições de vida dignas. Tendem a desenraizarem-se.
      Restam-lhes as famílias. Mas qual família? Depende dos laços que essa família representa. Mulher e filhos? País? Não será mais seguro tirá-los de lá, do que acrescentar mais uma vítima ao conflito. Se ele morrer nos combates ou num ataque aéreo, é isso que lhes vai ajudar? Resolveu algum problema familiar?
      Penso que não.
      Na guerra civil de Espanha os voluntários estrangeiros guiavam-se pelo internacionalismo proletário, uma ideologia. Olhando para o desfecho dessa guerra, poderemos questionar-mo-nos se valeu a pena? Ainda assim, estávamos noutra época.
      Já na II Guerra Mundial em França, os voluntários estrangeiros eram poucos, em face dos números do conflito. Os soldados americanos foram mobilizados para a guerra por imposição, não eram voluntários. Os outros combatiam pela sua própria sobrevivência. Também não são propriamente voluntários.
      Aliás a emigração foi sempre uma forma encapotada de se fugir a um conflito bélico. Tivemos o nosso exemplo durante a Guerra Colonial.

      • Rui Naldinho says:

        Deve ler-se:
        …é isso que os vai ajudar?
        … questionarmo-nos