Olaf Scholz e a opinião pública alemã

Foto: Michael Kappeler / dpa

The chancellor of Germany said that a military solution to the war in Ukraine “makes no sense” and urged for a diplomatic solution. I urge @OlafScholz to come to Mariupol and try his “diplomatic solutions” to stop Russian shelling.

O Chanceler alemão, Olaf Scholz (SPD) pode estar a ser o primeiro líder europeu a recuar por motivos económicos. Já sei que muitos dirão que se estava mesmo a ver e a célebre frase “É a Economia, estúpido” será a primeira a surgir. Só que o problema de Olaf é outro.

Obviamente, o preço do barril do petróleo, do gás ou dos cereais está a gerar pânico em muitas das grandes empresas alemãs e imagino a pressão que devem estar a exercer sobre o governo alemão. O problema do chanceler é outro. A sociedade alemã. Ou seja, os eleitores. No último estudo de opinião conhecido (Instituto FSB), 49% dos alemães eram favoráveis ao envio de tropas da NATO para a Ucrânia – e este estudo foi publicado na última semana de Janeiro, ainda antes da invasão e existe a noção que esta percentagem hoje é maior. Além disso, em Berlim, realizou-se uma das manifestações mais participadas na Europa a favor da Ucrânia. Ou seja, a opinião pública alemã está de um lado e os grandes interesses económicos alemães estão do outro.

Falta saber de que lado da barricada se vai posicionar Olaf Scholz. Sobretudo quando já se percebeu o lado que os Liberais e os Verdes, seus parceiros de coligação, escolheram. A opção que o Chanceler alemão tomar vai ser um importante indicador para o que podem vir a fazer os restantes líderes europeus. Esta pode mesmo ser a primeira grande batalha entre a opinião pública europeia e os seus lideres, depois de  boa parte dos especialistas terem afirmado que até agora foram os primeiros a impor aos segundos o caminho a seguir.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    49% dos alemães serem a favor do fim do mundo diz muito sobre ao que estão habituados.

  2. Victor says:

    O interesse das grandes empresas é fazer bons negócios e, naturalmente, procurarem preservá-los, evitando a falência e simultaneamente garantindo os lucros aos accionistas e os oligarcas ou multimilionários seus proprietários. O interesse da generalidade dos consumidores e dos pequenos e médios empresários é conseguirem que os seus rendimentos e actividade garantam que uns podem pagar as despesas básicas para (sobre)viverem e outros possam manter o “negócio”.

    Ora a falência das pequenas e médias empresas e o aumento do desemprego/subemprego conjugados com uma baixa de rendimentos ou sua diminuição atingirão gravemente a esmagadora maioria das populações europeias, agudizando os conflitos sociais.

    De qualquer modo os governos da União Europeia só governarão se o fizerem salvaguardando os interesses das grandes empresas, nacionais ou transnacionais.

    Havendo identidade de objectivos e de interesses entre os oligarcas dos países capitalistas, sejam membros da Nato, sejam os da União Europeia, sejam os da Federação Russa, sejam os dos EUA, o que se constata é que, no conflito com a Federação Russa os Governos da União Europeia acabaram por submeter-se aos interesses económicos e geoestratégicos dos EUA, a quem não interessa uma Europa economicamente unida e forte. Á Federação Russa e á União Europeia interessa que hajam bons reacções económicas e bons negócios, assim como o fortalecimento e desenvolvimentos dos mesmos. O que de modo algum interessa aos EUA.

    Não deixa de ser “curioso” que sendo a UE, a Federação Russa e os EUA economias capitalistas neoliberais, onde vigoraria a livre-concorrência onde o mercado deve ser livre e sem entraves, embora quem nele decida e ordene sejam oligopólios e monopólios, os EUA tenham conseguido impor á União Europeia a impossibilidade de conseguirem matérias primas essenciais como o gás natural, o petróleo e cereais, entre outros, a preços mais competitivos na Federação Russa, favorecendo em consequência as transnacionais estado-unidenses como fornecedoras, contribuindo simultaneamente para um aumento galopante do custo de vida e o agravamento da crise do capitalismo. Crise económica e social a que não escaparão as populações europeias, tenham sido ou não favoráveis ás medidas tomadas pelo seu governo para “arruinarem” a Rússia, qualquer que seja o posicionamento dos eleitorados face ao actual conflito no Leste Europeu.

    Falta saber de que lado da barricada se vai posicionar o “chanceler / 1º Ministro? Mas há dúvidas? Para já está lucrando a indústria armamentista

  3. POIS! says:

    Pois.

    Realmente, o Putin, não tem o problema dos eleitores. Já o resolveu há muito.

    São, realmente, um grande empecilho.

    O melhor, mesmo, para a Alemanha, é dissolverem o povo e elegerem outro.

    Se não resultar, repete-se. Quantas vezes forem precisas.

  4. Rui Naldinho says:

    Quando se olha para uma guerra com olhos de quem está a ver um jogo futebol, depois vai tendo surpresas destas.
    Começo por dizer que o mais provável é muitas das sanções aprovadas nunca saírem do papel. Ou melhor, “saem do papel à segunda e quando na sexta feira começarmos a sentir os efeitos nefastos na nossa própria contabilidade, recuamos”. Sempre foi assim e não é agora que vai mudar.
    A Europa está refém dos EUA, motivado por uma atitude consciente, que foi a sua desmilitarização. Esse fenómeno não é recente. Já vem de muito longe. Basta olharmos para Portugal. E nós somos uns peões de brega.
    A Europa canalizou boa parte dos fundos para o sector social da nossa economia, e aqui o sector social é transversal. Vai da autarquia lá no interior à grande empresa no litoral. Até porque somos um país de pequenas e médias empresas. Não é por acaso que o PRR vai ser absorvido em grande parte pelo tecido empresarial. Já o tinha sido noutros quadros comunitários de apoio. É necessário ajudar as empresas fustigadas por uma pandemia, mas também o sector social. A pobreza na Europa é um drama e um incómodo. No EUA é uma excrescência.
    A economia dos EUA é muito mais liberal. Eu diria mesmo neo liberal.
    Os EUA com os seus 8 milhões de Km2 tem uma indústria de guerra que gera milhares de milhões de dólares, além de inúmeros recursos energéticos e agrícolas. E quando não dispõem deles, ou quando esses recursos estão caros, vai daí um golpe de estado num qualquer sítio, para que não fiquem de mãos a abanar. Foi aquilo que fizeram ao longo dos últimos cinquenta anos.
    A Europa por ter vivido duas grandes guerras no seu próprio território, sempre preferiu a paz e os acordos bilaterais, ou, melhor ainda, criar um espaço comercial comum como ainda hoje é a CEE, mesmo que com algumas fragilidades.
    Depois temos a globalização. Esse fenómeno à escala mundial que transformou a China na maior potência económica do século XXI. Só que, quando se fala deste fenómeno pensa-se logo no extremo Oriente. Mas ele começou aqui ao lado, por exemplo, quando a Renault abriu uma fábrica de automóveis em Timissoara, a Dacia. Ou a Alemanha quando deslocalizou alguma da sua indústria para a Rep. Checa.
    Os antigos países de Leste, na expectativa de saírem do subdesenvolvimento económico em que se encontravam, isto não significa que não fossem culturalmente mais evoluídos até que Portugal, por exemplo, entregaram-se de mão beijada à CEE e à NATO. Enquanto países como Portugal, Espanha e Grécia levaram mais de uma década para se integrarem na CEE, os outros países, vindos de um sistema económico socialista, em meia dúzia de anos já integravam a UE. Para agradar ao poder económico neo liberal, até plantaram lá dentro uns proto ditadores, como é o caso da Polónia e da Hungria. Ou estamos a ignorar esse fenómeno. O senhor Orban é um Putininho sem poder militar para anexar um quintal vizinho, mas suficientemente autoritário para eliminar adversários. Mas o pior foi terem sido aceites na NATO de braços abertos, e aí a Europa tem culpa, depois das promessas de nunca haver alargamento para além da antiga RDA, entretanto integrada na RFA.
    A ideia dos Europeus se tornarem independentes das energias fósseis e com isso ficarem cada vez menos dependentes da Rússia, do médio Oriente ou dos EUA, vai levar mais de vinte anos. Até lá vivemos como? Com cobertores e à luz da vela?

  5. Paulo Marques says:

    A Europa é neoliberal. Até o FMI explica o que é:

    «The neoliberal agenda—a label used more by critics than by the architects of the policies—rests on two main planks. The first is increased competition—achieved through deregulation and the opening up of domestic markets, including financial markets, to foreign competition. The second is a smaller role for the state, achieved through privatization and limits on the ability of governments to run fiscal deficits and accumulate debt.­»

    «Our assessment of the agenda is confined to the effects of two policies: removing restrictions on the movement of capital across a country’s borders (so-called capital account liberalization); and fiscal consolidation, sometimes called “austerity,” which is shorthand for policies to reduce fiscal deficits and debt levels.»

    https://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2016/06/ostry.htm


  6. Precisamente! Nada como deitar ainda mais gasolina na fogueira, mas cuidado que está mais cara.