O virtuosismo frugal que não assiste ao povo de nababos que somos, oportunamente assinalado pelo CEO do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida – um homem com “um apelido muito forte na banca” – trouxe-me à memória alguns casos, mais ou menos recentes, envolvendo a divisão portuguesa do banco espanhol.
O primeiro destes casos remonta a 2015. O Banif estava em colapso iminente e uma notícia bombástica da TVI levou à queda abrupta do seu valor em bolsa, acelerando a morte do banco insular. O Banif acabaria na carteira de activos do Santander, pela módica quantia de 150 milhões de euros, com o alto patrocínio dos contribuintes portugueses, que lá decidiram aplicar 2,4 mil milhões dos seus impostos a fundo perdido.
À data, a TVI era propriedade do grupo Prisa que, imagine o caro leitor, tinha o Santander como accionista da referência. Parece conveniente, mas, na verdade, não passou de uma triste coincidência, rapidamente aproveitada por essa gente que só protesta contra a banca porque é invejosa.
Uns meses depois, já em 2016, o último presidente do Banif, Jorge Tomé, foi à comissão parlamentar de inquérito criada para esmiuçar a queda do banco. Como se o cheiro a napalm e a conspiração pela manhã não fosse já insuportável, o banqueiro veio confirmar que, em Dezembro, após a notícia da TVI, vários clientes do Banif foram abordados e aconselhados a transferir as suas contas para o Santander.
Por quem?
Por funcionários dos balcões do Santander, que garantiam que o Banif fecharia portas no final de Dezembro.
Adiante.
Jorge Tomé acrescentou ainda outro dado: que o Banco de Portugal havia manifestado interesse no plano de reestruturação do Banif. Até às Legislativas de Outubro de 2015, pouco antes da formação da infame Geringonça. Desde então, a entidade presidida por Carlos Costa teria virado as costas ao plano.
Porquê?
Não sabemos. Mas podemos especular. Poderá ter sido para empurrar o problema para os senhores que se seguiram. Ou para mascarar as contas públicas, o que ajudaria a explicar a decisão do governo Passos/Portas de travar a venda do Banif no início de 2015. Ou ainda para insistir na fábula da “saída limpa” com entulho debaixo do tapete. Ou, quiçá, por simples incompetência. Qualquer uma das hipóteses parece válida.
A culpa, essa, morreu solteira. Como o Banif. O Santander, esse, continua a gozar de boa saúde, tão boa que a repartição portuguesa se deu ao luxo de distribuir, em meados do ano passado, cerca de 1,5 mil milhões de euros pelos seus accionistas, um valor que equivale a quatro anos de lucros. Chama-se a isto “contas certas”, caríssimo leitor.
E, como diria Carlos Moedas a Manuel Acácio, “aqui estamos”. De maneira que, prezado luso-nababo, tenha juízinho e não vá jantar fora, que hoje é Sexta-feira e o país não pode continuar a viver acima das suas possibilidades. Nunca se sabe quando vai ter que salvar o próximo banco que o Santander fará o favor de comprar. Comporte-se, seu grandessíssimo despesista. Este país não aguenta a sua obsessão por francesinhas e bitoques.
P.S: Sabe quem era o director de informação da TVI, à data da tal notícia bombástica? Era Sérgio Figueiredo. Sim, esse mesmo. E este também. Mas não se arreliem. Foram todos absolvidos.
Ainda estragas o jantar da sexta-feira com tais memórias….
Bpm apetite!
Não, não, pá. A culpa é de Sócrates.