Já aqui tenho dito por diversas vezes que a direita se move dentro dos chamados sistemas de democracia representativa como peixe na água. Os golpes militares deixaram de fazer sentido – carros de combate nas ruas, jactos bombardeando palácios presidenciais, fuzilamentos, tortura? É caro e é feio – dá mau aspecto. Para quê tanto espalhafato – com a Amnistia Internacional à perna e os jornalistas a especularem? Em vez de tiros, votos; em vez de tanques, aviões e fuzilamentos, promessas demagógicas que toda a gente sabe que não vão ser cumpridas. E nem vou dizer que estou surpreendido com o que aconteceu ontem no Chile, pois já o esperava.
As sondagens conduziam a um empate técnico entre Frei e Piñera. Quando se soube os resultados e se conheceu a vitória de Sebastián Piñera, milhares de pessoas nas ruas festejaram a vitória do candidato da Aliança para a Mudança. Na segunda volta das eleições presidenciais, com 99% dos votos contados, Sebastián Piñera, da Aliança para a Mudança, sagrou-se presidente do Chile, com 51,61% contra 43,38% de Eduardo Frei, candidato da Concertação e ex-presidente. Quem é Sebastián Piñera?
Miguel Juan Sebastián Piñera Echenique nasceu em Santiago do Chile em 1949. Empresário e político é membro do partido de centro-direita Renovação Nacional. Por este partido, foi senador entre 1990 e 1998 e nas eleições de 2005 foi candidato à Presidência da República, tendo sido derrotado pela socialista Michelle Bachelet na segunda volta. É sócio maioritário do Grupo Lan Airlines.
Marco Enríquez-Ominami, o candidato da Esquerda, derrotado na primeira volta, em que obteve 20 % dos votos expressos, ao saber os resultados de ontem, afirmou ter-se fechado um ciclo com a saída da socialista Michelle Bachelet e defendeu a necessidade de renovar o projecto das esquerdas – «Podia ter-se evitado a vitória da direita» (…) «Foi um erro», concluiu referindo-se à divisão verificada entre os partidos democráticos. Nestas primeiras eleições presidenciais depois da morte do ditador Pinochet, a direita chega ao poder por via eleitoral, o que não sucedia desde há 52 anos, quando, nas eleições de 1958, o ex-presidente Jorge Alessandri, da direita, venceu Salvador Allende.
A aliança derrotada, a Concertação, uma ampla coligação progressista que governou o Chile durante vinte anos, nascida de uma frente democrática contra a ditadura saída do golpe de 1973, perdeu ontem, pela primeira vez, umas eleições. Ao reconhecer a derrota, Frei referiu todos os presidentes do país pertencentes à Concertação (Patricio Aylwin, Ricardo Lagos e Michelle Bachelet), agradecendo-lhes o terem conduzido o Chile até à situação em que se encontra, de estabilidade democrática”. Frei terminou citando palavras de seu pai, o ex-presidente Eduardo Frei, assassinado pela ditadura de Pinochet Com os seus seguidores, entoou o hino nacional.
Pese embora o paradoxo de um povo que devia estar saturado de governos de direita, há, em todo o caso, a salientar o civismo e a correcção que imperaram durante as eleições, sem incidentes, sem picardias entre os candidatos – uma cultura democrática modelar e ímpar na América Latina. Conhecidos os resultados, Frei demorou apenas 30 segundos a, no seu discurso, reconhecer a derrota, felicitar Piñera e desejar-lhe o melhor para os eu mandato. Ao princípio da noite, deslocou-se com a família ao hotel onde o empresário festejava a vitória para felicitar pessoalmente o vencedor, obtendo uma prolongada ovação dos militantes de Piñera.
«Compartilho com Eduardo um grande amor pelo Chile, fui um grande admirador de seu pai (o também ex-presidente Eduardo Frei) e quero dizer-lhe que o nosso país necessita mais do que nunca de unidade», disse Piñera. O país pôde também assistir, pela rádio e pela televisão, à conversa que a presidente cessante, Michelle Bachelet, travou com Piñera: «Felicito-o e espero que o Chile possa prosseguir na senda do progresso», disse Michelle. »Peço-lhe um favor», respondeu Sebastián, «quero pedir a sua ajuda para poder continuar a sua obra, pois a sua experiência no Governo é muito importante». «Amanhã irei a sua casa e conversaremos», respondeu a presidente». Depois a esposa de Piñera, disse que, como mulher, se sentia orgulhosa de ter tido uma mulher como presidente dos chilenos.
Bem sei que são tretas, hipocrisias formais, mas revela-se aqui uma educação cívica incomum por aquelas paragens (e por outras).
É a renovação democrática, como a água da foz que entra e sai renovando a vida. Não há melhor, o resto fica para com o caracter de quem é eleito, e aí…
Já sei que é assim. Não percebo é como trocam a Michelle Bachelet, que sempre me pareceu uma política séria, por um Sebastián Piñera, assumidamente de direita, que os vai pôr ainda mais a reboque dos EUA. Com o Pinochet, deviam ter ficado saturados de direita. Mas parece que não.
Isso é verdade! A Michelle foi do melhor que tiveram.
Caro Carlos, como sabe, escrevo desde um co mputador portatil com teclado ingles.Não da para corregir….O seu texto e tão bem informado, que passa a ser uma licao para mim. Vamos acrescentar apenas isto, ate a data da eleicao de Allende, a Republica esteve sempre governada pela direita,eceito dois casos,Pedro Aguirre Cerda,Radical em 1936 a 1939, sem completar o mandato por ter falecido um ano anos do fi, bem como Juan Antõnio Rios, Radical, entre 1940 e 43, sem completar o mandato por causa de morte como Presidente. Houve um terceiro Radical, denominado o presidente traidor,Gabriel Gonzalez Videla, eleito pot radicais e conunistas.Mal assumiu o poder, baniu ao PC, envio dois barcos cheios de membros, que foram afundados entre o Chile Continental e o arquipielago de juan Fernandez. Morreram todos. Os vivos foram a cadeia e Pablo Neruda, Senador Comunista, teve que fugir com a ajuda dos sobreviventes e outros latifundiarios de direita que admiravam a sua escrita.Tornou ao Chile apenas na eleicao de Allende. O primeiro Presidente fruto do primeiro golpe de Estado a liberada nova republica, Jose Miguel Carrera, foi fuzilado por conducta proprias de uma patricio e não de Presidente. Chile, fianalmente libertado em 1918, teve como mandatario a Bernardo O’Higgins, quem se declarara Director Supremo e Capitão Geral da Republica. Reprimiu tanto, assassinou aos melhores, ate ser expulso pelo Congresso em 1833, exilado no Peru do qual voltou com honras para transferir o seu corpo de Lima ao cemiterio de Santiago pelo finais do Seculo XIX.Durante todo esse tempo e depois, foi uma sucessão de golpes, levantamentos, tentativas de assassinatos de Presidentes, um Rpublica fascista de curta duracao em 1928 com Davila e Blanchet, “corridos” do poder pelo militar Calos Ibañez, como relato no meu post O Chile de Sempre. Apenas pos dtadura em 1990, o pqis ficou calmo.Teve 11 Constituicoes diferentes e entrava em guerra com paises vizinhos. O Chiile NÃO E UM PAIS PACIFICO, para a minha infelicidae. Estes 20 anos ate o dia de hoje, foram os unicos calmos e serenos, A sua analise dos candidaos, mostra ja esse baloico de pais. A eleicão de Frei, quem teria continuado essa ganha serenidade, foi roubada por quem se pensava aristocrata, tirando 20 % de votos a Frei ilho. Frei pai, morto pela ditadura, “parecia ser calmo e serno,mas era apenas o apoio da CIA qoe o ogrigara a governar em paz.Não esquecas que essa DC nasceu como Falange Nacional, a imitar a de Primo de Ribera Fiho, com o ditador no poder. Dizes bem, o Chile precissa de partidos de Direita para ser governado e Piñera ºe o melhor exemplo, junto com o arrogante Henriquez Onimani, esse membroo de Etnia Mapuche que eu esudo e tem fama de serem mentirosos e ladroes. Não estou contra eles, mas para eles eu sou um Huina estrangeiro, em Mapudungun, a sua lingua que tive que aprender.Como o derradeiro, por enquanto,ditador do Chile que “no saia aular” não sabia hblar, a sua lingua nativa er o mapudungum, do clã Picunche dos Mapuche. O chile e um pais de mesticos e gente servil, apa a dor de muitos de nõs… especialmente os socialistas. E o pais de inveja e do bisbilhotar e da fofoca e a desuniaão familiar e da traicao a mulher, por se estimarem ser mulherengos. Digo isto com pena, estou a “bisbilhotar” sobre o pais em que, por acaso, nasci mas do qual fugi muito novo, tornei com Allende, o resto da historia e conecida. Faz dois dias comemeoei o meu aniversarionem meia letra da minha familia mais chegada. E o que llamo o Chile le de sempre, arrogante, “altanero” e tambem com herois..poucos..ou muitos, o Roto Chileno.
Onimani e Piñeira reepresntam todo isso
Obrigado pelo comentaria e a licao. Saiba que os meus livros estão publicados em linguas que eu no enendo e na America Latina. No Chile, nem meia pagina..Em 1997 foime solicitado ser o coautor de um livro,que ate o dia de hoja nada sei deele…!Esse o meu pais, como diz Isabel Allende Llona,e um pais inventado e o sera mais ainda com o novo mandatario.A paz acabou, o escrevo com lagrimas nos olhos…Onami e Piñera E o Chile. Porque Neruda, Arau Isabel Allende nunc
a mais voltaram vivos? O eu?
Obrigado por um comentário que, de maneira tão vivida e sábia, enriquece a minha síntese. O Chile, o Uruguai e a Argentina, parecem-me países que sobressaem do amálgama latino-americano. A minha apreciação e discriminação (positivas), resultam talvez do facto de serem países mais europeízados e, por isso, com os defeitos e as qualidades dos europeus. Mas, nem por isso, como se vê neste comentário e se sabe desde 1973, escaparam ao caudilhismo, ao populismo de esquerda e de direita e ao fascismo. Na realidade, a escolha do eleitorado chileno é estranha, quando sabemos que é a escolha de um povo que ainda há pouco tempo estava mergulhado nas trevas de uma feroz ditadura.
Caro Carlos,
torno a responder na base do meu computador portatil e teclado britanico,e dizer cheio de gralhas que de certeza os aventores de turno, devem saber corrigir. O meu comentario e apenas uma resposta para a tua licao sobre o Chile. Penso que a melhor resposta ao teu comentario e Gabo Garcia Marquez e o seu texto de 1989 O general no seu Laberinto. Se te lembras do livro, Simon Bolivar andava perdido dentro do laberinto da hoje America Latina. Queria organizar a apenas um pais La Gran Colombia. Não consigiu. Ninguem nunca conseguia.Se te lembras, Bolivar andava com uma manta por cima dos ombres, o paludismo o não deixava en paz nem o seu desencanto pela grande causa que tinha tomado nas suas mãos. Apenas que esqueceu que a populacao de essa America, era um conjunto de etnias,de Incas a Quechua, pasando pelos Aimara, como descreve bem o escritor peruano Ciro Alegria no seu texto de 1983 El mundo es ancho y ajeno, Alianza Editorial Madrid. Os dois autores narram como os paises de America Central, son paises com cidades com imensas populacao e campos quase não habitados.Esquecem que as cidades tem industria que da dinheiro enquaanto as areas rurais, apenas imenso trabalho. Não falam do Chile, Peri e Uruguay com areas depoadas que precissam encher com pessoas que no forem Guaranis ou Xivaros. Alias, e nestes tres paises em que se debate qual nacão pertence ou esta ligada aos paises europeus. Uruguay,enche com encomenderos da Europa e os seus vicios de caudilhismo, Argentina era um pais de imensas dimensoes habitadas por Mapuche no Sul e um grande espaco vazio, a Pampa,que Blasco Ibanez no seu livro de 1939 descreve bem, Os quatro cavaleiros da Apocalipse.Importaram italianos em 1853, tempos das revoltas da Europa e as unificacoes de pequenos reinos, em Estados Nacoes.Eis os motivo de serem tão brancos e denominados “Tanos”.No Chile, sob a presidencia de Doningo Santa Maria, um dos poucos governos estaveis do pais,denominados a epoca dos decenios, por se ter estabilicado o pais com a Constituicao de 1833 a 1925, convidam a povoar suicos,, prussianos e dos varios estados germanicos em vias de unificacao. Desde Puerto Montt ate Llanquhue, e como andar pelos Alpes. A decriminacao entre europrus e chilenos era imensa, desprecando os primeiros aos segundos, pela sua falta de civisno e higiene.Estes europeus levabtaram uma especie de fronteira para não permitir a entrada dos proprietarios do Pais, dentro das suas teras. As perteurbacoes da America Latina não entraram nos sitios habitados por eurpeus, cidadaos que adereiram a funcao ditadura e as suas terras pasaram a ser campos de concentracao. Suficiente Carlos, ou fica este texto nais un post….
Excelente explicação. Li o livro de Gabo «O General no Seu Labirinto» e, claro, «Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse», de Blasco Ibañez. A grande vaga de emigração europeia, verificada ao longo do século XIX e princípio do XX, explica o fenómeno da europeização de vastas áreas da América Latina, reforço da colonização feita por portugueses e espanhóis três séculos antes e que produzira já uma tremenda devastação entre as populações indígenas. Aliás, podendo haver crioulos nas lutas de libertação, muitos dos próceres das independências latino-americanas, eram descendentes de europeus. No Brasil, o primeiro imperador era, nem mais nem menos, o herdeiro da coroa portuguesa. A Europa exportou para as Américas todas as suas numerosas enfermidades.