Bronislaw Malinowski

Bronislaw Malinowski, Doutor em Física e Química pela Universidade de Cracóvia, nos seus jovens vinte anos sofreu um problema pulmonar, que o forçou à imobilidade. Durante esse período, para se entreter, leu vários livros, entre os quais O Ramo de Ouro (título original: The Golden Bough. A Study in Magic and Religion), de James Frazer, 1890, 1ª Edição, The MacMillan Press – a edição que uso é de Papermac, 1995. Livro que o impressionara a tal ponto, que abandonou as suas denominadas ciências exactas e, já curado da sua doença, foi de imediato (1910) para a London School of Economic, onde, sob a orientação de Edward Westermarck, escreve a sua tese, na área da antropologia, intitulada The family among the Australian Aborigines. A sociological study, University of London, Monographs on Sociology, Nº 2, University of London Press, 1911. 

Até este ponto, a minha fonte são os seus antigos estudantes que em Cambridge, me contaram estes factos, especialmente a minha amiga e vizinha Audrey Richards. Conheço a história toda, mas vou usar as palavras da Wikipédia para continuar: Bronisław Kasper Malinowski (Cracóvia, 7 de Abril de 1884 — New Haven, 16 de Maio de 1942) foi um antropólogo polaco, considerado um dos fundadores da antropologia social, foi o iniciador da escola funcionalista. As suas grandes referências teóricas incluem James Frazer e Ernst Mach. Na sua tese (The Family Among the Australian Aborigens), publicada em 1911, critica duramente o evolucionismo e prova um vasto conhecimento teórico. Para Malinowski, o evolucionista Morgan desorientou por gerações a pesquisa antropológica com o sistema classificatório de termos para parentes quando o demonstrou como aquilo que já foi e hoje já não é mais (DUHAN: 1986). Da mesma forma, Gräbner, outro evolucionista, teria desenvolvido uma abordagem antifuncional imbecil, que não estabelecia relação de objectos com propósitos e uso pessoal (IDEM: IBDEM).

Segundo o antropólogo Ernest Gellner, Malinowski tomou uma posição original em relação aos conflitos de ideias do seu tempo. Ele não repudiou o nacionalismo, uma das ideologias nascentes e marcantes do século XIX. Ele juntou o romantismo com o positivismo de uma nova maneira, tornando possível investigar as velhas comunidades mas ao mesmo tempo recusando conferir autoridade ao passado. Ele rejeitou a especulação evolucionista e a manipulação do passado para fins do presente, pecados vulgares do seu tempo. Fonte: as minha lembranças e as palavras de http://pt.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski.

Sem dúvida, a principal contribuição de Malinowski à antropologia foi o desenvolvimento de um novo método de investigação de campo, cuja origem remonta à sua intensa experiência de pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu (1915) e posteriormente com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16, 1917-18), os Massim, denominados também povo Kiriwina. Fez a sua tese de doutoramento em três anos, tese que passou a ser livro em 1911. Este texto pode ser lido aqui, ou aqui, com uma introdução de John Barnes publicado em Nova Iorque, Schoquen Books, 1963, onde diz: Malinowski é especialmente lembrado pelos seus livros sobre os Ilhéus Trobriand da Papua New-Guine, pela sua teoria sobre o funcionalismo e pelo brilhante grupo de discípulos em Antropologia Social que estudaram com ele durante longos anos na Universidade de Londres. The Family Among the Australian Aborigines é parte de uma fase anterior da sua vida como Antropólogo, antes de ter viajado fora da Europa, como também antes de começar a sua metodologia de observação directa ou participante dos povos tribais dentro do seu próprio habitat. Foi escrita nos tempos em que os teóricos da antropologia eram directamente endereçados a favor ou contra as ideias da evolução e de história universal. Ideias que passaram a ser um sucesso no Século XIX. Os académicos europeus estavam interessados nos povos primitivos para inferir de esse presente, o seu próprio passado, e não propriamente dos seres humanos que investigavam, como pessoas de hoje e agora. Aliás, o livro foi escrito nos tempos em que a informação dos povos de fora da Europa, era colectada de relatos de viajantes… Como acima afirmado, o livro publicado em 1911, foi escrito em 1910, época de académicos de leitura. O texto pode ser lido em inglês aqui.  O próprio Frazer mais tarde Sir James George Frazer (1 de Janeiro de 1854, Glasgow, Escócia — 7 de Maio de 1941, Cambridge), um influente antropólogo, defendia que as informações sobre os povos primitivos deviam ser obtidas junto das instituições ou pessoas que controlassem o comércio, a vigilância e a ordem; ou por exploradores, missionários e outros viajantes e não por antropólogos formados nessa ciência ou etnógrafos treinados nos primeiros estágios dos estudos modernos de mitologia e religião comparada. Foi a sua obra a que inspirou Malinowski pela metodologia comparativa, não por causa de trabalho de campo in situ. De facto, o primeiro a usar a metodologia de observação participante, foi Malinowski… quem se deparou com uma surpresa: tinha escrito o seu livro sobre a família aborígene, pensando-a como nuclear. Todavia, quando se deslocou à Austrália, por ser cidadão de países inimigos na primeira grande guerra, verificou que a família era um conglomerado de indivíduos separados ou reunidos pela organização clãnica. A partir dessa altura, não descansou em comparar os efeitos económicos e psicológicos diferentes que a também diferente organização de uniões matrimoniais, traziam. Muito escreveu sobre a inexistência do Complexo de Édipo e de rituais económicos prévios à compra e venda de bens. Foi a sua grande descoberta e, a partir de então, não há antropólogo que não faça observação participante para reconstruir a história do povo ou para entender as formas psicológicas, emotivas e de pensamento de outros povos. Malinowski marcou e definiu o começo de uma nova era para a Antropologia Social.

Entre as suas obras, podem ser referidas «The economic aspects of the Intichiuma ceremonies», ensaio escrito no Nº11 Fetshrifl Tillegnad Edwuard Westermarck, Helsingfors, 1923; The foundalions of failh and morais, The Riddel Memorial Lectures, Oxford University Press: Londres, 1936. B. Malinowski e Júlio de la Fuenle, Malinowski in Mexico: the economics of a Mexican market system, Routledge and Kegan Paul: Londres, 1982. Textos escritos na juventude de Malinowski, que podem ser lidos na obra editada por Robert Thorton e Peter Shalnik The Early writings of Bronislaw Malinowski, 1992; ou na compilação do seu discípulo Robert Redfield: Magic, Science and Religion and other esays, Beacon Press: Boston, Massachussets, 1948. Há versão portuguesa, Edições 70: Magia, Ciência e Religião, 1984.
É mais um fundador que um homem de ciência.

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Óptimo, como sempre!

  2. Raul Iturra says:

    Caro Luís,
    Agradeço o seu infatigável comentário habitual. Não tenha medo, ainda não vou embora do Aventar, mas essa desconfiança depositada pelos chefes sobre a minha pessoa, restam forças ao meu desejo de escrever. Vou continuar com mais três sobre esta história da Antropologia, todos já preparados, e, a seguir, vou pensar. Obrigado por “empurrar” o meu texto para as horas combinados com os lusos do norte do Douro. Nós, os do Sul, somos Mouros, Afonso Henriques não nos matou! Aliás, o meu amigo Augusto Santos Silva, Ministro da Presidência, quem sempre aceitara os meus convites para integrar júris quando era académico, disse-me mal entrei em Portugal faz 30 anos: Nós os do Norte, é que somos lusos….Vocês….mouros. É evidente que estava a brincar, porque é um bom amigo…

    • Luís Moreira says:

      Não há desconfiança nenhuma prof, são jovens, não pensam…mas são boa gente!

  3. maria monteiro says:

    Prof Raul eu não comento porque teria que repetir quase sempre o que o Luís diz “Óptimo … Excelente … ”

    são daqueles textos que dá vontade de guardar para voltar a ler mais tarde … estou a aprender muito
    Obrigada e continue a escrever. Eu daqui continuarei a ser uma sua atenta leitora
    Abraço amigo
    maria

  4. Raul Iturra says:

    Querida Maria, Caro Luís,
    Obrigado pelos comentários. Nenhum vai ao fundo da questão nem têm porque, não estão formados na minha ciência! Como eu, que envio post “desformatados” porque a minha ciência é para curar mentes e não para a Informática. Lamento imenso se ofendi com o meu comentário, longe de mim ser mal comportado! Pedi desculpas ao Ricardo e estamos combinados que eu escrevo e envio todo para os que sabem formatar! Quanto a Malinowski, é o nosso herói, a seguir a Franz Boas que foi desde a Alemanha ao Canadá para observar presencialmente o comportamento dos Kwakiutl do Sul do Canadá e formou escola com Ruth Benedict e Magareth Mead, essa da etnografia ou de viver com as pessoas analisadas. Fica em nós esse afã de estar sempre em trabalho de campo, incutido em nós por Bronislaw Malinowski. Morou cinco anos com os Massim do arquipélago Kiriwina da Papua Nova Guiné. Desde esse dia de 1914 em frente quem não vá ao terreno acaba por não ser Antropólogo de qualquer especialidade. A minha é Etnopsicologia.
    Obrigado pelos vossos comentários e peço desculpas se ofendi alguém com os meus. Maria, com calma, vou continuar a escrever!
    O que acontece em casa, em casa deve ficar! O nosso único problema é saber explicar o nosso saber como deve ser!

    • Luís Moreira says:

      Prof. eu aprecio imenso os seus textos mas não sei o suficiente para lhe fazer perguntas. Ontem descobri que os juros da dívida representam 6% do PIB e que o SNS 8%! Um homem já não dorme. Já viu que pagamos lá fora quase tanto como a todos os hospitais, medicamentos…

  5. Carlos Loures says:

    Caríssimo Raúl Iturra, todos no Aventar, tenho podido testemunhá-lo, têm o maior apreço pela tua colaboração e pela tua pessoa. O não haver comentários muito profundos, não significa desinteresse. Falo por mimj, leio os teus trabalhos e, salvo raras excepções, não me sinto competente para os comentar. E dizer que gostei ou que me agradaram, seria verdade, mas pouco relevante. Quanto a essa questão dos Mouros e dos Lusitanos, podes responder-lhes assim: Nós, os do Sul, é que somos Lusitanos. A Norte do Douro, era a Galécia, dominada ora por Braga, ora por Lugo.

  6. Raul Iturra says:

    Meu Caro Editor! Obrigado, Carlos, pelos teus comentários tão aprofundados e tão sérios. Bem sabes que podes comentar os meus posts. Acabas de fazer um contributo. O que o meu amigo Augusto (Santos Siva) diz, é brincadeira, tem bom sentido do humor. Era o que eu pensava respeito aos nossos colegas que, finalmente, aprenderam a rir. Deixei o post em rascunho, com tags e tudo. Quanto ao Augusto, não contei toda a história: o Norte do país é celta, alugado aos Suevos Germânicos para tomarem conta da imensidão de cavalos que havia nessas terras, invadida sempre pelos Romanos: daí, Brácara Augusta, hoje Braga, ou o porto Lisa bona, latim que em português, como bem sabes, significa brisas pacíficas. Foi assim que nasceram os nomes dessas cidades e que é raramente comentado.
    Agradeço a tua paciência de leres o meu texto e do comentar. Abraço

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