A Carla escreve um excelente texto sobre as perplexidades que a atingem quando vê espectáculos que procuram novos caminhos, tal como o Vitor tambem já aqui escreveu sobre a sua desilusão num espectáculo de dança da Olga Roriz ainda em cena.
Eu lembro-me, nos idos de 70, quando ficava sozinho ou quase, após o intervalo nos filmes do sueco Ingmar Bergman, filmes que são hoje considerados obras primas como é o caso de O Ovo da Serpente, Desejo sob os Ulmeiros, O Sétimo Selo…
Eu tenho que confessar que ficava até ao fim por puro diletantismo, não fazia ideia nenhuma que estava a ver uma obra prima, agarrava-me à cadeira porque achava que quem se ía embora eram os que gostavam de filmes de cow-boys, estúpidos e trôpegos no escasso conhecimento e capacidade de análise do que estavam a ver. Hoje não os esqueço( aos filmes), embora tenha passado por uma fase de descrença, será que só perdi tempo, a armar ao intelectual?
Uma experiência que não esqueço foi uma tarde no Centro Pompidou, no espaçoso largo que o rodeia., onde um artista de rua tinha à sua frente uma mão cheia de panelas e tampas, um microfone que não passava de um bocado de madeira e contava histórias e sacava dinheiro aos incautos que por alguma razão não saiam dali. Era uma atração fatal! Às tantas, as muitas dezenas de pessoas já convictas que o artista não conseguia mais que o som tirado à força de pontapés nas panelas, riam e cantavam como nunca vi uma multidão rir e cantar, uma alegria genuína de quem balançava entre o enganado e o saborear a esplendorosa tarde, um espectáculo único, com as pessoas a darem pontapés nas panelas e nos tachos, com o ar de, enfim, revelarem o artista que cada um de nós trás dentro de si.
É isto um espectáculo? Isto é arte? Não havia perícia musical, nem um bom texto que me tornasse melhor ser humano, então o que me levou àquela euforia, ao puro gozo de dançar e cantar, quando a poucos metros tinha á mão, os filmes que não via em Portugal por serem proíbidos, os teatros, o Moulin Rouge…
Se calhar porque aquele ambiente, os sons da multidão, o encontro de pessoas que nunca mais vi, preencheram as minhas emoções e me fizeram feliz por uma tarde.
É pouco? É tudo? É arte?
Sempre que ia a Paris parte do tempo era passado no centro Pompidou… se estava bom tempo ficava-me primeiro pelo exterior, naquela parte do lago artístico que está do lado esquerdo, depois deixava-me contagiar pela alegria dos artistas de rua… já no interior perdia-me nas exposições, debates, cantos de leitura, de teatro…
Temos por aí algures muitos slides tirados no tempo da sua construção e de quando foi inaugurado, já lá vão mais de 30anos