Louvor à polícia do meu bairro

Andou aqui um alvoroço na minha rua com uns barbudos mal-encarados que se passeavam por aí, a olhar para cima, como que a tomar nota de cada prédio, quem sabe também a atentar nos hábitos dos moradores para saber a que horas poderiam encontrar a casa desamparada. Deu-se o alerta na esquadra aqui do bairro, e lá saíram para a patrulha os agentes da zona.

Entre os agentes policiais existem duas categorias: aquela a que no submundo se chama “a bófia” e a que ocupa a esquadra do meu bairro. Quando vejo o agente A, bigodudo, com os quadris gordos e gingões, com a arma que se vê que é velha como um bacamarte de museu a gingar, também ela, a caminho da tabacaria do comunista,  e o ouço a saudar os trabalhadores da transportadora que aguardam, à porta, a chegada do camião, com um jovial “então bom dia, meus senhores”, eu não consigo não gostar da polícia do meu bairro.

Gosto do agente B, benfiquista empedernido, que acena sorridente da moto quando nos vê passar, e a quem se podia lançar (agora, quem se atreve?) um “então e  o Benfica, este ano vai ganhar alguma coisa”? A gente poder dizer isto a um polícia e ele encaixar a provocação com um encolher de ombros resignado e sorriso de boa pessoa é uma coisa que dispõe bem.

Não sei qual dos agentes foi, mas algum descobriu que os moços de barba, que não eram mal encarados mas apenas de cor de pele mais escura, acabadinhos de chegar ao país, só buscavam uma casa para alugar. Serenaram-se os ânimos, as portas voltaram a ficar só com o trinco, os nossos polícias barrigudos voltaram a fazer as rondas pós-prandiais, com o vagar de quem sabe que não está ninguém aflito, e a harmonia regressou ao nosso bairro.