Foi-se o encanto

Foi-se o encanto

 Muito difícil é desembarcar, digo eu que nunca fui marinheiro. Não consigo acostar o barco. Há sempre uma onda e outra e depois outra. Mesmo que o mar esteja manso, ou se é da terra ou se é do mar.

 No dia em que eu voltar e vir a figueira com figos e a erva a crescer no merujo reluzente de prata das noites de luar, no dia em que eu voltar, vestido de ilusão, a olhar o mar e acreditar, nesse dia não chames por mim.

 Mata-me a memória e a história, não deixes que viva uma hora descrente ou indiferente. São duras as horas e os minutos das palavras descrentes, indiferentes, alheias, adiáforas, frias, incuriosas, passivas. Uma espécie de árvore seca sem frutos nem sementes. Um vento áspero que perpassa por entre os dedos dormentes. É cruel a falta de palavras. São dolorosas as palavras indiferentes.

 Na cegueira dos olhos sumidos de chorar sem lágrimas a noite ruidosa dos segredos, não há coisa mais triste do que olhar a chávena sem palavras cheias. Foi-se o encanto, e a poesia não passa de um saquinho de açúcar rasgado sobre a mesa abandonada do café vazio.

Filosofia de bolso (9)

Antes de fazer o mal, devemos reflectir, e só avançar se for por uma boa causa.

Vaticano cúmplice do nazismo e do fascismo


Por mais desculpas que venham pedir…

A entrevista de José Sócrates ao JN

Quando José Sócrates entrou para o gabinete onde geralmente reune com a imprensa, já o Director do JN, José Leite Pereira, o esperava. Vestira o seu melhor fato para a ocasião, comprado de propósito na melhor loja do edifício Avis.
– Boa tarde, sr. Director – disse o primeiro-ministro.
– Muito boa tarde, sr. primeiro-ministro -José Leite Pereira levantou-se atarantado para cumprimentar o primeiro-ministro, mas logo se pôs na posição original. Atabalhoado, deitara abaixo um pass-partout com a foto de um projecto que José Sócrates acarinhava especialmente, o da moradia de Valhelhas, dos tempos em que era técnico na Câmara da Covilhã.
– Peço desculpa, sr. primeiro-ministro.
José Sócrates dirigiu-se ao seu lugar e, sem querer, calcou José Leite Pereira enquanto passava por ele.
– Peço muita desculpa, sr. primeiro-ministro.
Sem tempo para conversas de circunstância, José Sócrates foi directo ao assunto:
– Sr. Director, não sei se o nosso amigo Joaquim falou consigo…
– Falou, falou, sr. primeiro-ministro. Aquilo das perguntas que os putos da redacção andam a fazer, não é? Peço muita desculpa, sr. primeiro-ministro, mas a rapaziada nova tem sangue na guelra. São jovens, têm a mania da independência e não têm medo de ninguém. Às vezes, nem eu tenho mão neles. Mas para já está resolvido, sr. primeiro-ministro. Pu-los a fazer a cobertura da transmissão do Loto 2.
– Óptimo.
– A do Euromilhões não, que aquilo dá na TVI e nunca se sabe…
– Agradecia que não me falasse desse canal.
– Tem razão, sr. primeiro-ministro, não volta a acontecer. Peço muita desculpa. Pensei que as coisas estavam melhores, agora que está lá o Júlio. Nunca mais falaram do Freeport!
Sócrates arregalou-lhe os olhos.
– Peço muita desculpa, sr. primeiro-ministro.
– Olhe lá, não deixar publicar aquela do anúncio a pedir um blogger que me apoiasse foi um tiro no pé, não acha? Claro que aquele Ricardo Santos Pinto, esse sujeitinho ordinário, ia logo aproveitar.
– É um porco, sr. primeiro-ministro, é um porco!
– E depois publica aqueles anúncios do «relax». Não é muito coerente, pois não, isso?
– Pensei que não ia gostar do anúncio, sr. primeiro-ministro. Foi por si. Peço desculpa, sr. primeiro-ministro.
– Foi por mim, foi por mim, mas eu é que fico mal no retrato.
– Peço muita desculpa, sr. primeiro-ministro, não volto a repetir.
– Bem, vamos começar a entrevista. Onde é que está o outro jornalista, o que vai fazer as perguntas difíceis para dar sinal de imparcialidade?
– Deve estar a chegar, sr. primeiro-ministro. Seja como for, fui eu que escrevi as perguntas dele. Já as enviei ontem, sr. primeiro-ministro.
– Eu vi. Bom, vamos começar.
– Quando quiser, sr. primeiro-ministro.
– Ó homem, ao menos levante-se. Vai estar de joelhos durante toda a entrevista?

Tem a certeza que tem direito ao ar que respira?

Porque já faltou mais para que até o ar seja privatizado.

PEC, mais uma voz discordante.

Consta que o governo se encontra dividido quanto ao PEC, com Vieira da Silva, Alberto Martins e Ana Jorge em rota de colisão com o ministro das finanças. Consta, porque o governo necessita de aparentar unidade e discordar em voz alta implica pôr o lugar à disposição, como é das normas. Fora do governo, Alegre e Ana Gomes, manifestam-se publicamente. Ainda há um restinho de esquerda no PS?

E lá em casa, fazem a mesma coisa?

Afinal podemos ficar descansados. Os computadores são pessoais, podem parti-los à vontade.

Já é azar

E se o azar do primeiro-ministro influenciar a sorte dos portugueses? Porque sorte o homem parece não ter.

Excelentíssimos professores doutores

Lembram-se de “Annie Hall”? Da cena da fila no cinema? Um tipo está a debitar uma série de opiniões despectivas sobre Fellini, Beckett, Marshall Mcluhan, etc, para grande desespero do Woody Allen, que se indigna com o que vai ouvindo.

Quando já não aguenta mais, Woody interpela-nos, a nós, espectadores, sobre o que fazer numa situação destas. O tipo ouve-o, vem pedir-lhe explicações, e acaba a gabar-se de leccionar a cadeira de “TV, Media e Cultura” na Universidade de Columbia para justificar as suas opiniões sobre McLuhan.

Perante isto, Woody vai buscar o próprio McLuhan, que, pasme-se, estava ali mesmo, para que ele diga, na cara do opinador, que ele não entendeu nada sobre o seu pensamento e que não percebe como é possível que tal pessoa possa leccionar essa matéria. Desabafa Woody para a câmara: “Se a vida real fosse assim…”. Vale a pena rever esse excerto, embora infelizmente sem legendagem em português:

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Santo Padre

Santo Padre

Peço humildemente perdão de me dirigir a Vossa Santidade desta forma, mas penso que Vossa Santidade poderia visitar todos os países que quisesse, nomeadamente o nosso, a expensas do Vaticano, como peregrino e não como imperador. Penso que nem Vossa Santidade nem a Igreja ganham nada com isso em termos morais. Mas também penso que não é a moralidade, na sua verdade e essência que preocupa a Igreja, mas outras ambições bem menos louváveis.

Penso que Vossa Santidade, sobretudo depois do sermão do Angelus sobre ambições e bens materiais, não deveria aceitar luxos de qualquer espécie, nem sequer o palanque do Rui Rio, pago por nós, e rezaria missa em dois ou três daqueles bancos de jardim que o Siza Vieira arrancou da Avenida, arranjados e enfeitados para o efeito.

E pediria ao Siza Vieira para plantar junto aos bancos meia dúzia de metros quadrados de relva a fim de Vossa Santidade poder ajoelhar sem magoar os joelhos na pedra ou cimento duro daquela eira que ele ali estendeu. [Read more…]

A Jaula

A nossa economia é uma jaula de onde não se sai por meios próprios.Ou somos ajudados pelo exterior ou então vamos empobrecer ainda mais. Como se percebe não há nenhuma política coerente, voltamos ao mesmo de sempre, aumentar impostos, que Sócrates jurou não aumentar, congelar salários…

Com Sócrates, crescemos sempre abaixo das outras economias europeias e ao fim de uma maioria absoluta a nossa posição é muito pior do que quando ele começou. E não se diga que é da crise porque não é, a crise começou em em 2009 e ele está lá desde 2005. Enquanto a Espanha e a Alemanha não arrebitarem nós nada ou muito pouco podemos fazer. O tecido empresarial é o mesmo, nem sequer se aproveitou para inovar, modernizar…

A receita que se vai obter com o aumento dos impostos é igual ao dinheiro que se meteu nos bancos, ninguem sabe para quê, não há posição nenhuma conhecida e ninguem os quer. As privatizações são os anéis a saírem dos dedos, depois disto pouca coisa o Estado tem para vender, talvez as Berlengas…

É uma situação de desespero que leva a estas privatizações mas a pior notícia é que o dinheiro arrecadado vai desaparecer nas mãos dos boys e das girls, não vai ser utilizado para relançar a economia, modernizar o tecido empresarial. A pobreza é o futuro dos portugueses, pela mão “deste animal feroz”.

O PS é isto, um Estado nas mãos das corporações que mamam sem cessar, gastar o que há e o que não há, não sabe criar riqueza! Em vez de um prepotente  e arrogante político (qualidades dos incapazes) deveria haver, uma vez por todas, um consenso alargado entre Empresários, Sindicatos, Partidos, associações sectoriais, sobre as actividades e os “clusters” em que o país tem vantagens competitivas e estabelecer um plano estratégico a dez anos e cumpri-lo. É a isto que se chama governar!

Uma coisa é certa, entre muitas outras, as empresas de tecnologia que estão a ser criadas e desenvolvidas em Portugal, face à pobreza da nossa economia vão ser compradas por empresários de economias mais fortes e que sabem para onde vão!

Um desastre, o que temos pela frente!

Peyroteo, o stradivarius dos cinco violinos (Memória descritiva)

Já aqui homenageei outras figuras do futebol nacional – Eusébio, Pinga e Pepe. Esta galeria não ficaria completa sem Fernando Peyroteo, um jogador excepcional. Como os anteriores, não se pode dizer que seja uma figura que pertença exclusivamente ao Sporting Clube de Portugal – eu diria que Peyroteo pertence ao seu clube, mas também a todos os portugueses.

Nascido em Humpata, Angola, em 1918, chegou a Lisboa em 1937, com 19 anos. Dera a sua palavra ao Sporting, mas não assinara qualquer contrato. Outros clubes (pensa-se que o Benfica e o Porto) assediaram-no, oferecendo-lhe melhores condições. Peyroteo não aceitou – estava comprometido com o Sporting. Outros tempos. [Read more…]

O Museu da Cidade

Instalado num belo palácio da primeira metade do século XVlll, conhecido como Palácio Pimenta ou por Palácio do Campo Grande, é um edificio notável com uma bela fachada e com uma  bela decoração azulejar.

Em 1942 foi alojado no Palácio da Mitra e transferido para o Palácio Pimenta em 1979, conserva importantes colecções que mostram a evolução histórica nas suas vertentes urbanística, social, simbólica e social da capital portuguesa. Em particular na domínio da pintura, desenho,gravura, cartografia, cerâmica,azulejaria, arqueologia e outras.

Uma maqueta de grandes proporções representativa de Lisboa de antes do Terramoto de 1755, dá-nos uma ideia global da cidade, identificando os mais importantes edifícios, praças e ruas.

Reconstituição de uma das alas da Praça do Rossio, que se insere numa importante colecção europeia de gravuras sobre o terramoto e os projectos pombalinos de reconstrução da cidade.

Cerca velha, ainda se reconhecem a monumentalidade e solidez das muralhas que foram durante séculos a única defesa da cidade, estendendo-se desde o Castelo até ao Rio.

Protegendo-nos do bulício da cidade e completando o Jardim do Campo Grande, ainda podemos visitar o Jardim Bordalo Pinheiro, magnífico, com importantes obras gigantes dos famosos animais cerâmicos do grande artista.

O Aqueduto das àguas Livres, com os seus planos e projectos de chafarizes, cujo monumentalidade ultrapassa o carácter funcional, remetendo para a Lisboa Barroca.

Alex Chilton (1950-2010)

Apontamentos de Óbidos (14)

(Caminhando pelas ruas de Óbidos)

Mensagem do Presidente da Nação

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