Filosofia de bolso (12)

Para mim, bossa nova é fado transformado em jazz.

Pastel de Vouzela

O pastel de Vouzela conjuga dois ingredientes que apenas estão ao alcance dos melhores entre os pasteleiros: o creme de ovo, essa bomba proteínica capaz de levantar um doente da cama (ou mandá-lo de vez para o lado de lá) e a finíssima massa folhada, leve como uma pluma, a desfazer-se contra o céu-da-boca.

Vouzela, situada na região de Lafões, no distrito de Viseu, é famosa pelos seus pastéis, cuja versão original apenas lá se pode encontrar, acreditem, e muito enganados andam os que se contentam com a caixinha da estação de serviço.

Retrato da terra e das gentes que a fazem, reflexão sobre o passado e o futuro da região, assente num equilíbrio delicado entre o olhar enternecido sobre um passado histórico cuja memória se deve resgatar, e o espírito crítico que siga com lucidez o rumo que a vila leva, eis o Pastel de Vouzela, o blogue que esta semana provamos, em tarde de amena primavera, sentados na margem do Zela.

Voando num ninho de cucos

O primeiro estudo que pretende retratar a saúde mental dos portugueses tem um resultado curioso: em cada cinco, um de nós não bate bem da bola.

Tenho as minhas reservas quanto a estes estudos por amostragem (eu sei que não há outro meio) e um dos resultados é suspeito: só 1,6% de perturbações provocadas pelo álcool levanta dúvidas quando se sabe através de estudos sistemáticos que “cerca de 10.3% da população portuguesa com +15 anos é doente alcoólica (800.000 alcoólicos) e 13.7% é bebedora excessiva (1.000.000)”. Alguém se enganou, ou bebeu um copo a mais.

Comparando internacionalmente parece que somos os maluquinhos da Europa a grande distância, e ficamos ao nível dos EUA, o que não é lá muito abonatório.

Apesar de tudo estes números encaixam na perfeição num país que se quer de poetas e marinheiros. E explica muito bem pelo menos os últimos 200 anos da História política de Portugal.

Pode não ser verdade, mas explica mesmo muita coisa.

Louvor à polícia do meu bairro

Andou aqui um alvoroço na minha rua com uns barbudos mal-encarados que se passeavam por aí, a olhar para cima, como que a tomar nota de cada prédio, quem sabe também a atentar nos hábitos dos moradores para saber a que horas poderiam encontrar a casa desamparada. Deu-se o alerta na esquadra aqui do bairro, e lá saíram para a patrulha os agentes da zona.

Entre os agentes policiais existem duas categorias: aquela a que no submundo se chama “a bófia” e a que ocupa a esquadra do meu bairro. Quando vejo o agente A, bigodudo, com os quadris gordos e gingões, com a arma que se vê que é velha como um bacamarte de museu a gingar, também ela, a caminho da tabacaria do comunista,  e o ouço a saudar os trabalhadores da transportadora que aguardam, à porta, a chegada do camião, com um jovial “então bom dia, meus senhores”, eu não consigo não gostar da polícia do meu bairro.

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Admirável Mundo Novo: redes sociais

Miguel Sousa Tavares tem uma visão apocalíptica dos blogues e das redes sociais, especialmente do Facebook, por ele considerado “a maior ameaça do séc. XXI”. Eu, por mim, confesso que há outras coisas de que tenho mais medo e que considero ameaças maiores. Apesar disso, não deixo de olhar com repugnância – e até preocupação, admito – algumas redes sociais que vão aparecendo e conquistando cada vez mais aderentes e seguidores.

Se algumas seguem uma “filosofia” meramente exibicionista e voyeurista, como, por exemplo, o Dailyboot.com, onde os membros publicam fotografias suas com legendas do género “isto sou eu a comer um bife” ou “isto sou eu a ver televisão”, ou o Failin.gs.com onde os aderentes se expõem às críticas anónimas de terceiros com base no mote “veja aqui o que ninguém teve a coragem de lhe dizer antes”, outras são a encarnação do pesadelo orwelliano levado a extremos de estupidez e exposição. E, pior ainda, voluntariamente.

Veja-se o Blippy.com, cuja pergunta-base é “O que estão a comprar os teus amigos?”. Nesta rede os membros registam o seu cartão de crédito e todas as compras efectuadas são tornadas públicas acompanhadas da informação “O Manuel acaba de comprar uns sapatos de x dólares no sítio y“. Os amigos podem depois comentar, perguntar a cor dos sapatos, se são confortáveis, gostar ou não gostar, etc.

Outra rede, o Foursquare.com, funciona com recurso a telemóveis de última geração e, após registo e descarga de uma aplicação, permite que terceiros saibam onde o utilizador se encontra. Quantas mais vezes este acionar o mecanismo de localização, mais vai subindo na “hierarquia” da rede até ganhar o estatuto de super-utilizador.

Existem outras redes do mesmo estilo, mas acho que basta para exemplificar. E, se não concordo com a visão apocalíptica de MST, tenho que concordar com ele em alguns pontos: eu também odeio a devassa, também odeio que invadam a minha privacidade e, de uma vez por todas, quero lá saber dos sapatos do Manuel ou onde está a Maria, a menos que eu me queira encontrar com ela. Mas para isso, já que a coisa funciona por telemóvel, basta-me dar-lhe uma apitadela.

É preciso ter viajado no Douro

Para perceber que raio de riqueza ali se gerou e ali se deixou ficar meio século depois da chegada das barragens.Portugal visto de Lisboa é um sítio com piada…

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Como Se Fora Um Conto – Na capital do País que um dia foi um Império

“Assim, tratei dos papeis, tomei as vacinas, fiz as malas e rumei à capital.”

Quem me conhece saberá, por certo, o quanto me terá custado esta viagem. Ou melhor dizendo o quanto me terá custado aceitar fazê-la.

Isto de descer a sul de Coimbra tem sido, nos últimos anos, uma impossibilidade para mim. No entanto, depois de mais de três lustres, lá me decidi a aceitar a ideia de ir até lá, e mais do que isso, ficar para o dia seguinte.

Porém, antes de mais, tenho de me desculpar perante os amigos que por lá tenho. Alguns, que antes de o serem já o eram, e outros, que antes de o serem já o são. A Maria, o Luís, os Carlos, o Nuno, para só citar aqueles com quem mantenho um maior contacto, entenderão, tenho a certeza, o meu silêncio e o secretismo da viagem, que foi decidida em cima da hora e teve como objectivo curar alguns pequenos males familiares, e uma tristeza em mim instalada. Outra oportunidade haverá.

Assim, decisão tomada, tratei dos papeis, tomei as vacinas, fiz as malas e rumei à capital. [Read more…]

A problemática do “couvert” e as soluções da lei em geral e da das práticas comerciais desleais em particular

Em tempos, suscitou a apDC – sociedade portuguesa de Direito do Consumo – a questão de um uso negocial, qual seja, o da oferta nos restaurantes de acepipes ou aperitivos tão logo os comensais se instalassem ou ainda em momento anterior.

E, por aplicação das normas gerais ínsitas no ordenamento jurídico dos consumidores, concluía a instituição que não seriam devidos os montantes exigidos e que os fautores de tais práticas se sujeitariam a coimas que, no limite, seriam susceptíveis de atingir, tratando-se de sociedades mercantis, os 35 000 euros.

De novo corre na internet, de lés-a-lés, a notícia, numa redescoberta tardia de alguém que se propôs difundir urbi et orbi o escrito de origem.

Claro que o tema, ao tempo, provocou distintas reacções, mormente de quem, com menor apetência pelo direito do consumo, entendia que os usos negociais deveriam distorcer as leis, sobrepondo-se-lhes. E de particulares que, dissociados do direito, a criticavam porque entendiam que quem não quer não come, recusa…

E até a televisão, omitindo, com censurável quebra de ética, a audição dos autores da notícia, ousou ouvir uma outra instituição que não a que se propusera propagar as soluções havidas como correctas.

Independentemente de o couvert constar ou não da ementa, repare-se no enquadramento factual:

– ou as pessoas mal se sentam e têm diante de si os acepipes;

– ou surgem após a ocupação da mesa.

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Subsídios, a nova agricultura

É um produto dada à cultura biológica, rico em proteínas, sais minerais, vitamina C que baste. Útil na confecção das mais variadas sopas. Cultiva-se em terrenos pobres e ricos, no sequeiro ou no regadio.

Importado da Europa o subsídio  veio substituir com vantagem muita batata e muita couve e mostra-se bastante rentável. O parque automóvel de veículos todo-o-terreno está aí a atestá-lo.

Eleições regionais francesas,semelhanças e diferenças portuguesas

Três mulheres francesas , unidas, do Partido Socialista Francês , Europa Ecologia, e Frente de Esquerda, comunista,   ganharam em França as ultimas eleições regionais  deixando a aura do Presidente Sarkozy em crise,e a esfumar-se.Foi a maior derrota eleitoral da direita, desde a ultima guerra mundial,e foi lhe infligida por três mulheres.
Os analistas apontam  inúmeras razões ,mas algumas dos temas  que lá se colocam ,também se põem em Portugal.
Para Martine Aubry ,lider do P.S , vencedora, “os franceses  rejeitaram a politica de Sarkozy,que premeia com  isenções fiscais,os que mais têm, protege bancos e banqueiros,e pôs  em perigo a Escola Pública , e  o generoso Sistema de Saúde nacional francês. [Read more…]

A água e o seu desperdício – privatizar ?

” O maior desafio é não deixar que a água seja privatizada” diz o sr. William Cosgrove. especialista em água e consultor das Nações Unidas, foi vice-presidente do Banco Mundial.

” As pessoas podem viver sem petróleo mas não podem viver sem água” “A Tunísia, que tem muita pouca água, tem uma estratégia para o sector, começando a cobrar pela água utilizada em função das possibilidades de cada família, e aplicou uma taxa acrescida para o Turismo!”

” Na agricultura são utilizados 3/4 da água existente no mundo, que é suficiente.” “A boa gestão passa por não a desperdiçar, na indústria já se começou a reutilizar a água que aplicam. Em grande parte do mundo não se paga a água que se consome o que leva ao desperdício, uma medida é aplicar taxas segundo o consumo”.

Em Portugal o desperdício da água é muito alto, a ponto de haver quem defenda que o melhor investimento na actividade seria a manutenção da rede de distribuição. Calcula-se que andará pelos 60% a água desperdiçada. Nos últimos anos apareceram várias empresas privadas de distribuição, normalmente associadas aos municípios onde prestam o serviço o que tem vindo a ser visto como o ínicio da privatização do sector.

É um sector absolutamente vital e a água é um recurso natural que pertence à Humanidade, é impensável a sua privatização. Mas é preciso estar alerta!

Um dos sectores que mais consome água é o golf, e pior do que isso, contamina os aquíferos devido aos tratamentos intensivos da relva com fungícidas . Talvez se perceba agora porque temos tantos PINs (projectos de interesse nacional) que não passam de campos de golf. É a isso que se chama “economia periférica” vamos recebendo o que os outros não querem, como aonteceu nos anos 70 com a indústria de celulose, que além de contaminar o ar, suga a água dos solos com os eucaliptos “globulus” a principal matéria prima da pasta de papel!

E viva a Greve

Acabo de ouvir um senhor da TAP queixando-se que os trabalhadores com greve marcada não aceitaram os serviços mínimos que a administração exigia. E que exigia a administração: nada de especial: todos os voos turísticos para a Madeira, todos os voos que trouxessem emigrantes a passar a páscoa, e parece que sobravam dois ou três que podiam ser cancelados.

Esta nova prepotência patronal, a que se somam as ilegalidades hoje cometidas na CP, traduzem a realidade actual: a greve, arma por excelência dos trabalhadores, vai sendo amestrada e em tempo de desemprego facilmente contornada pelos empregadores, expressão que em linguagem contemporânea faz do patrão uma espécie de santa casa da misericórdia, benemérita, generosa, a que todos devemos obediência e respeito.

Num tempo em que se proletarizaram tantas profissões, sobretudo na área dos serviços, em que os direitos mínimos dos trabalhadores são transformados em poderes máximos dos que os exploram (sim, o trabalho é explorado, ou querem que enumere os bónus dos administradores, os dividendos dos accionistas, os espantosos lucros em época de crise?), num tempo de crise em que eles brincam com a bolsa de desemprego com que ameaçam os que hipocritamente chamam de “colaboradores”, o que se vai seguir é inevitável, e um clássico: as greves tendem a tornar-se selvagens, os desempregados um dia explodem, e o povo volta à rua.

Arranjaram a lenha, um dia vão-se queimar.

O governo é um fingidor! (mas não é poeta)

Álvaro Santos Pereira, economista e docente na Simon Fraser University, analisa assim, o PEC:

Sinal mais : As privatizações e previsões económicas realistas!

Sinal menos: Este é um PEC fingidor. Finge-se que o investimento público baixa, mas mentêm-se as parcerias público-privadas. Finge-se que as despesas com o pessoal descem, mas esquece-se que estas têm baixado principalmente porque se transformaram os hospitais em  empresas do Estado. Finge-se que se atacam os problemas estruturais da despesa pública, mas a consolidação orçamental é conseguida sobretudo com o aumento da carga fiscal efectiva e com as receitas das privitizações.

Acima de tudo, este é um PEC que adia mais uma vez a resolução dos problemas estruturais das contas públicas nacionais!

Apontamentos de Óbidos (16)

(Caminhando pelas ruas de Óbidos)

Nomofobia

Sabe o que é? “Medo causado pela possibilidade de ficar sem contacto através do telemóvel”.

Um novo clássico dos filmes de terror.

Concurso, quem é este?

Quem é a annoying orange, entre os candidatos à liderança do PSD? Passos Coelho? Aguiar Branco? Paulo Rangel? Dá-se um sumo fresquinho a quem acertar.