Canção para um país agrícola (Poesia & etc.)

Hoje, deixo-vos um poema que publiquei em 1970 no livro “A Poesia Deve Ser Feita por Todos”. Este poema foi transcrito em diversas publicações e colectâneas, nomeadamente na antologia «800 Anos de Poesia Portuguesa», organizada por Orlando Neves e Serafim Ferreira, publicada pelo Círculo de Leitores em 1973.
Canção para um país agrícola

Quem a morte semeia
a morte colhe,
que a espingarda é arado
que não escolhe
leira ou prado
para lavrar.

Quem a morte semeia
a morte colhe,
que a baioneta é foice
que não escolhe
courela ou seara
para ceifar.

A espingarda tem gatilho,
mas não memória,
tem cão,
destino não,
hoje incendeia o dia,
amanhã constrói a História.

Quem a morte semeia
A morte colhe,
que a espingarda é enxada
que não escolhe
a terra que trabalha –
destrói e constrói,
liberta e escraviza,
incendeia sem destino,
mata hoje o herói,
amanhã o assassino.
Não escolhe o peito,
o sangue, a veia.
Quem a morte semeia,
a morte colhe.

).

Comments

  1. Luis Moreira says:

    belíssimo!

  2. maria monteiro says:

    Lindo

  3. Obrigado, Maria e Luís.

  4. ricardo says:

    Magistral.

Trackbacks

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