Admirável, a forma como se analisam as situações, dependendo de quem exerce o poder. Mário Soares que é, de longe, do melhor que o regime ainda pode apresentar, discursou uma vez mais. Numa conferência inserida na comemoração do glorioso golpe de Estado que deu a Portugal o progresso, democracia e paz, o ex-presidente abordou as questões mais prementes da actualidade. O emprego, ou melhor, a falta dele, mereceu umas tantas palavras que serviram como aviso. Assim, foi dizendo que a propósito dos “gritos” por mais salários, ……”é preciso também saber de onde é que ele (o dinheiro) vem. Não basta pedir e descer uma avenida a gritar para julgar que o dinheiro vai cair, pois não vai”. O conforto auto-confiante dos aposentados de cinco estrelas, dá-lhes uma certa autoridade para increpações a quem se atreve a “não compreender” uma “conjuntura grave e que veio de fora”.
Não deve ser o mesmo Mário Soares do “direito à indignação” dos tempos de Cavaco Silva, hoje seu sofrível ersatz belenense. Este círculo vicioso do “Chefe de Estado supra-partidário” que faz os favores ao seu Partido, conduz ao completo descrédito dessa raridade que se limita a uns tantos países do planeta. De facto, a democracia não se extingue na formalidade dos grandiloquentes enunciados e das formalidades eleitorais que a legitimam. Significa antes do mais, o sacrifício pessoal daqueles que a defendem, ordenam e conduzem. Isto é precisamente, aquilo que tem faltado. Uma política de Estado que se sobreponha à de grupo e que noutros países, é nitidamente extensível à educação, relações externas, defesa e economia.
Quando o optimista Mário Soares afirma que …”a situação é grave, mas é uma situação que tem saída. Nós temos de lutar e não estarmos sempre a dizer que queremos isto e que queremos aquilo”, bem podia iniciar um aturado período de circunspecta autocrítica.
Qual é a saída?
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