O Estado e a Casa Pia

Através de órgãos da comunicação social, aqui e aqui por exemplo, soube-se que o acórdão do tribunal sobre o processo ‘Casa Pia’ será distribuído, apenas, na próxima semana. Trata-se de mais um episódio de um caso, bem triste, de cujas responsabilidades o Estado e a instituição Casa Pia não podem considerar-se isentos.

O adiamento da entrega do acórdão aos interessados – mais do que a divulgação pública para alimentar mediatismos e polémicas – evidencia aberrantes ineficiências e ineficácias do Sistema de Justiça português, já de si debilitado na imagem por outros casos noticiados até à exaustão.

Além de interesses particulares, provavelmente até de arguidos, este adiamento serve de feição os argumentos e objectivos daqueles que, a cada oportunidade, procuram desacreditar o papel social do Estado. A meu ver, esta ideia não se aplica a Maria José Nogueira Pinto que, em artigo de opinião, critica o Estado, mas fala “em cúmplices do que se passava”.

Conheço razoavelmente a Casa Pia. Tive um familiar casapiano (“ganso”, na gíria interna), assim como colegas de trabalho e amigos, ex-alunos. Uns do Colégio ‘Pina Manique’, outros do ‘Maria Pia’. Deste último, e desde que nasci até aos trinta anos, fui vizinho próximo. Tão próximo que do terraço de casa dos meus pais via as instalações do recreio, constituídas por diversas zonas, entre as quais um campo de futebol, um campo de basquetebol e andebol e, ainda, um tanque adaptado a piscina.

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O presente do Natal de 2000

presente scut

E cá estamos nós, que não andamos de volta dos refugiados, para pagar.

O chapéu dos impostos

o chapéu dos impostos

O certo é que a solução será sempre a mesma enquanto se puder aumentar a receita e não houver coragem para enfrentar os que tenham a perder com cortes na despesa. Especialmente quando um país inteiro vive à sombra do orçamento de estado.

O Diário do Professor Arnaldo – 10 de Setembro

Terminaram ontem os primeiros Conselhos de Turma do ano. Devo confessar que acho algo extemporâneo estar a fazer Conselhos de Turma nesta altura, quando, muitas vezes, nem os Directores de Turma conhecem os respectivos alunos.
Seja como for, fiquei muito sensibilizado com uma colega do 7.º ano que dirige a turma pelo segundo ano consecutivo. A certa altura, quando falava de um menino que em criança foi abandonado pelo pai (toxicodependente) e pela mãe (prostituta) e que acabou por ser adoptado por uma família desconhecida, emocionou-se e começou a chorar copiosamente. É que, ao que parece, o miúdo é hoje um aluno fantástico e uma criança exemplar.
Finalmente, deram-nos os horários agora de manhã. Tive algum azar. Vou ter de ficar os fins-de-semana aqui na terra, porque tenho aulas até às 21 horas de 6ª feira (os CEF’s nocturnos) e começo na 2ª feira logo às 8.30 com um 9.º ano. A carreira não funciona ao fim-de-semana e à 6ª Feira a última camioneta é às 19 horas.
Sou o único professor da escola sem dia livre. Fico contente pelos meus colegas. Alguns são daqui da terra e têm dia livre à 2ª ou à 6ª Feira. Tiveram muita sorte, mas alguns nunca estão contentes. Um deles, que já tem uma certa idade, protestava porque à 6ª Feira vai ter dia livre e era obrigado a ir à escola na 5ª à tarde.

SCUTs: Mais um prego no país a várias velocidades

Um país inclinado para o litoral, com uma balança financeira a pesar cada vez mais para a região de Lisboa e Vale do Tejo, com uma máquina estatal demasiado dispendiosa, acaba de ganhar mais uma desigualdade.

Uns marmelos, muito provavelmente portugueses de segunda, vão começar a pagar mais cedo portagens nas SCUT que utilizam com mais frequência. Um alegado Governo de todos nós assim decidiu. E ainda têm coragem de dizer que todos têm de ajudar a combater a crise. Ah, acho que ainda ofereceram uns doces, para compensar.

Lautaro. Política indigenista. Bodes expiatórios

com um Lautaro líder, o povo Mapuche não era perseguido pelos Huinca

Gritam os Mapuche desde o centro do Chile: pulchetun… pulchetun… Esta palavra, na língua dos “hombres de la tierra: mapu-che”, quer dizer: faça deslizar a flecha mensageira. Para quem escreve, a mutação da palavra flecha é para chamar à atenção para mais uma das incontáveis dores que o povo originário chileno está vivendo. Desde o dia 13 de Março, um grupo de quatro pessoas, três delas Mapuche, vivem uma greve de fome. Passam mais de cinquenta dias e a situação chega a seu ponto crítico, visto que a partir do primeiro de Maio, os quatro decidiram nem beber água. A vida se esvai e muito pouco está sendo feito para denunciar o terror.

Os grevistas são prisioneiros do Estado, acusados de terem incendiado instalações de uma empresa florestal multinacional. A empresa é responsável pela destruição das florestas e da vida do povo Mapuche que é, afinal, o guardião de Mapu (a terra) e por isso, têm como responsabilidade cuidar de tudo o que fazem com ela. Mas, lá, no Chile, quem virou vítima é justamente quem destrói Mapu e não quem luta para proteger a vida.

Perante esta situação, apenas é possível gritar pulchetún, envie a flecha mensageira a Lautaro o para um como ele., nos tempos de hoje…podia salvar a Pátria e a Nação Mapuche, como fez o Lonco Lautaro no seu tempo – Rei em Mapudungum, a língua da terra em português.

Parece uma lenda mas é uma verdade que não se duvida. Duvidar da existência de Lautaro, e dos Lautaro de hoje, seria duvidar da forma heróica em que se defenderam os Mapuche do Chile da sua habitual liberdade Bem sabemos que o Chile foi a derradeira colónia organizada pelos conquistadores hispânicos, na hoje denominada América Latina.

 Foi fundada por Pedro de Valdivia apesar de ter ser descoberta antes por Diego de Almagro em 1535. Mas achou o país pobre e perigoso e não havia a riqueza em ouro que ele pensava encontrar. Bem se sabe que estes espanhóis não eram soldados, eram convictos espanhóis que andavam a pilhar. Valdívia não, era de profissão soldado do Rei da Monarquia Espanhola. Sabia o que fazia.

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