Carro eléctrico, electricidade-fóssil

Em 2007, a capacidade de produção eléctrica foi a seguinte:

Capacidade de produção eléctrica - Portugal

e na Europa a 27 foi (clicar para aumentar):

Capacidade de produção eléctrica - UE27

Fonte: Statistical pocketbook 2010 (site, PDF, XLS)

Portanto, quando se fazem títulos como este «Carro eléctrico: adeus século do petróleo, olá século da electricidade?», ou quando se decide avançar com projectos megalómanos de redes de abastecimento eléctrico ou quando um primeiro-ministro resolve falar de uma prometida revolução com o carro eléctrico, é preciso não esquecer que

  • mais de 50% da actual produção eléctrica nacional (e europeia também) provem da queima de combustíveis fósseis, com as consequentes emissões de CO2 e dependência energética do exterior;
  • se todos os carros deixassem de queimar combustível para gastar electricidade, simplesmente estaríamos a transferir os actuais problemas dos carros para as centrais termo-eléctricas (para aumentar a capacidade produtiva) e possivelmente ainda haveria questões como a capacidade da rede de distribuição eléctrica e da respectiva eficiência;
  • além de não resolver os problemas energéticos e ambientais, o carro eléctrico vem ainda criar um novo: o da reciclagem das baterias (produto de elevado perigo ambiental);
  • finalmente, a adopção de tecnologias embrionárias tem o elevado risco de se escolher as que não vingam (que o digam, por exemplo, os que apostaram no formato vídeo betacam ou no HD DVD) e de poderem ser caras e com baixo rendimento.

Não tenho grandes dúvidas sobre um futuro com o carro eléctrico mas aposto que não o veremos em massa com as actuais tecnologias. Enquanto uma alternativa prática aos combustíveis fósseis não for encontrada, estes ímpetos modernistas não passam de um frisson para embelezar programas eleitorais.

Leituras adicionais:

O Estado-providência segundo TONY JUDT

 

Do legado do historiador e académico Tony Judt, falecido em Agosto passado, julgo oportuno, nesta hora, destacar a obra “O Século XX Esquecido”. A determinado passo da introdução, ‘O Mundo Que Perdemos”, Judt escreve:

…foi o governo do tempo de guerra de Winston Churchill que encomendou e aprovou o Relatório de William Beveridge (ele próprio um liberal), que estabeleceu os princípios de fornecimento da providência pública: princípios – e práticas – reafirmados e garantidos por todos os governos conservadores até 1979.

No parágrafo imediato, prossegue:

O Estado-providência, em suma, nasceu de um consenso transpartidário do século XX. Foi implementado, na maioria dos casos, por liberais ou conservadores que haviam entrado na vida pública muito antes de 1914, e para quem o fornecimento público de serviços médicos universais, pensões de velhice, subsídios de desemprego e doença, educação gratuita, transportes públicos subsidiados, e os outros  pré-requisitos de uma ordem civil estável, representavam não o primeiro estádio do socialismo do século XX mas o culminar do liberalismo reformista do fim do século XIX.

A dissipação do papel social do Estado, histórica e substantivamente definido por Tony Judt, é consabido, tem sido protagonizada pelos governos da Europa Ocidental, nas últimas duas décadas do século XX e primeira do século XXI – protagonismo a que se associa um processo desgovernado de globalização.

O Mundo transformou-se, com a queda natural da União Soviética. Na Europa de hoje, o equilíbrio adequado entre a iniciativa privada e o interesse público define-se ainda sobre uma linha muito ténue e amovível segundo os interesses de poderosos. A ‘economia (desregulada) do mercado’ e o avassalador domínio do ‘sistema financeiro internacional’ geraram a dinâmica da calamidade social denunciada há dias em Oslo pelo director-geral do FMI, Strauss-Khan. [Read more…]

A Múmia (ou Humor Azul-Alaranjado com Humor Negro se Paga)

Mantemos o preâmbulo da Constituição para preservar uma peça arqueológica.

disse Paulo Teixeira Pinto, o monárquico presidente da Causa Real, a quem o PSD confiou a direção da proposta de revisão da Constituição da… República.

Parece-me bem, acho que é uma razão atendível, provavelmente até legalmente atendível (pois podia dar-se o caso de ser atendível, mas ilegalmente). Sou dos que concordam com a preservação das peças arqueológicas.

Ironicamente, sempre que olho para Paulo Teixeira Pinto, fico com a sensação de estar perante uma múmia falante e em movimento. Preserve-se, portanto. A arqueologia nacional agradece, a nação engrandece e por aqui se veria, se dúvidas restassem, quão fascinante  pode a arqueologia contemporânea realmente ser.

Só se Mourinho fosse maluco


Pensam que Mourinho é um tarefeiro?

A EDP Zelará Por Todos os Portugueses

Esse dia há-de chegar; entretanto:

“No próximo dia 18 de Setembro irá decorrer em Lisboa uma Vigília em defesa da Linha do Tua. Esta iniciativa, enquadrada na “Semana Europeia da Mobilidade”, visa reafirmar perante o poder central o direito das populações transmontanas à mobilidade e o importante contributo que esta linha férrea, cujo valor patrimonial de excepção é inegável, deu desde a sua inauguração há 123 anos atrás, para essa mesma mobilidade e para o desenvolvimento do Vale do Tua. [Read more…]

Educação – rir para não chorar II

A Senhora Ministra quer mais sucesso – como todos queremos, nada a dizer.
Claro que o meu sucesso é diferente do sucesso da Senhora Ministra, mas isso são detalhes.
Mas… delicioso é o momento de um tal Adalmiro Botelho da Fonseca, Presidente de uma Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP):

“Se as escolas são responsáveis por atingir os resultados têm de ter os activos materiais e humanos à sua responsabilidade. Temos de começar logo pelos professores. Temos de ter mais influência na contratação de professores”

E, caros leitores, o que se tem passado nas escolas TEIP é um exemplo fantástico… de como isto é mentira!
Tem valido tudo menos tirar olhos!

“Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.” (citação de Brecht)