Rentrée: à terceira é (possivelmente) de vez

rentrée

A rentrée, depois dos anteriores ensaios-resposta às rentrées dos outros. Com bolinhos e bolinhós para enfatizar o habitual enredo.

Dizem que o PSD deu um tiro nos pés com o voluntarismo da revisão constitucional. Terá facilitado a argumentação mas creio que não tenha sido assim tão decisivo para os discursos proferidos. Quanto a mim, se não tivesse sido esta  tagline, outro assunto acabaria por servir de suporte à tese "nós bons, eles maus". Porque no mundo dos sound bites não importa a relação com o real. Tal como nos romances históricos, basta uma ficção com pontes para algo que tenha ocorrido.

Para este ano temos a história do "João Sem-Medo", que vai apresentar um orçamento salvador do SNS, da educação e do Estado social. Um filme onde as cenas cortadas são as escolas fechadas, os centros de saúde fechados, a redução dos apoios sociais e a guerra sem quartel com os professores para conseguir cortes salariais.

O crescimento das crianças- 3ª parte (II) – Foste feito

cacique picunche, o rei de uma aldeia, hoje jornaleiro para sobreviver

Foste feito, eu existo. Como era.

Questão que se coloca qualquer antropólogo que deseja entender o que toda criança observa. Como era. È a primeira questão que colocamos nas suas mentes, quando estamos a observar o presente. Exemplo paradigmático do assunto, é o caso dos estudos de Jack Goody, especialmente na sua Lógica da escrita e a organização da sociedade, escrito em inglês em 1986. Mas, como o próprio Goody reconhece ao longo da sua obra, bem como Maurice Godelier ao longo da sua são as ideias, oralmente exprimidas e transmitidas, as que constituem a organização e a interacção social. A pequenada que temos observado, orientada por nos, têm-nos demonstrado nos seus diários de campo, como é que entende aos seus adultos. E o que cada criança vê, é um mundo heterogéneo, cujos antecedentes só começa a perguntar já em adulto, ainda que em pequeno, viva os resultados. Como era? Como é que era? Se eu existo, como será que tu foste feito? E o que é o que foste feito? Um produto de produtores, como eu tenho denominado já em outros textos? (1995 e 1992). Será a genealogia pela qual a criança pergunta? Ou o contexto social total, que, como no seu caso, envolve também aos seus progenitores?

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E entrada na discoteca com uma bebida

(…)para quem fosse ao comício de Matosinhos, o PS pagava a viagem, a alimentação (almoço, lanche, jantar) desse dia, dormida e para os jovens socialistas entrada na discoteca com uma bebida.

Conta-nos o  João Mineiro, coisas que se descobrem numa suecada. Ora perto de 10.000 almoços, lanches e jantares, mais os autocarros, é fazer as contas.

Por outro lado o local da rentrée (o último galicismo da política portuguesa) parece que não era o mais adequado.

Não ficava tudo muito mais barato com uma dúzia de figurantes multiplicados digitalmente? O choque tecnológico demora muito a chegar ao PS? Ou vai uma aposta em como a participação do aparelho do PS na candidatura presidencial que apoia vai ser mais virtual do que isso?

Cara-de-pau

Apesar de ter tentado encarar o discurso do Primeiro-Ministro, ontem em Matosinhos, com algum espírito, o certo é que o seu conteúdo evidencia uma enorme “lata”, pelo que não há temperança que resista.

Ao cabo de 5 anos e meio a chefiar dois governos que nos conduziram a uma situação que além de desgraçada parece  ser a curto prazo completamente insustentável, vem falar de responsabilidade. É preciso desplante. Sabe “Senhor Engenheiro”:

– Verdadeira responsabilidade é assumir a incompetência de um governo que conseguiu aumentar, monumentalmente, a despesa pública, agravar, substancialmente, o défice das contas públicas, empolar, avassaladoramente, a dívida externa, colocar o índice de desemprego em níveis calamitosos, transformar a nossa justiça numa caricatura, permitir ao nosso sistema de saúde ter resultados muito, mas mesmo muito abaixo do que custa e gasta, ter um ensino público que além de inadequado e pouco produtivo, transmite uma enorme sensação de insegurança a quem a ele tem de recorrer, etc., etc., etc..

– Verdadeira responsabilidade é não atirar areia para os olhos dos eleitores e falar de Portugal como se fosse um oásis e um paraíso quando os Portugueses sofrem na pele todos os dias essa mentira.

– Verdadeira responsabilidade é não apregoar um estado social que não existe. Verdadeira responsabilidade é não culpar os outros pelo seu provável fim, o que irá acontecer devido à sua própria inépcia. Verdadeira responsabilidade é não enganar as pessoas e agitar-lhes o fantasma que os outros querem acabar com esse estado social quando a única coisa que pretendem fazer é permitir-lhe a sobrevivência e de uma forma que realmente seja justa.

– Verdadeira responsabilidade é assumir que se foi e é incompetente e demitir-se para que outros, bem mais válidos, possam conduzir os destinos do nosso País e encetar o caminho da recuperação e do desenvolvimento.

Sabe, verdadeira responsabilidade seria perceber que, neste momento, o “Senhor Engenheiro” não faz parte da solução, mas sim do problema. Mais, o “Senhor Engenheiro” é o problema!

Laicidade avança em Lisboa

Nao posso senão dar as minhas mais vivas congratulações pela decisão tomada pela vereação  da CML no  sentido de abrir os Paços  do Concelho da Câmara e outras instalações de prestigio da cidade de Lisboa, para a realização de casamentos civis.
Quando  foi  aberta a possibilidade dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo  recordo ter avançado,entre Maio e Junho, com a ideia de que a CML devia ceder os seus espaços para a realização das cerimónias de casamentos civis a todos os cidadãos, por altura do 5 de Outubro, ou outras datas laicas, porque havia quem quisesse abrir polémica com os casamentos religiosos de Santo António,e eu pretendia evitá-la.
A CML foi agora  mais longe e fez bem!
Muito há ainda a fazer neste percurso, díficil, pela Igualdade e Laicidade, mas este passo foi na direcção certa.
Fico na expectativa de que outros passos também venham a ser dados durante o mandato desta equipa politica, tal como foram sufragados  e foi prometido nos documentos da campanha eleitoral que tive o gosto e o dever cívico de então apoiar a título pessoal.
Aproveito para sugerir, por ora publicamente, que nos cemitérios municipais se criem espaços neutros, utilizados por pessoas sem religião ou de outras que não a católica, os tanatórios, embora eu próprio seja católico.
Evidentemente, ainda há muitos outros passos a dar em termos de igualdade e diversidade na cidade de Lisboa, que neste caso serve de motor e modelo para o resto do país, e alguns são só simbólicos,sem custos para o erário. Mas até esses, por vezes justamente pelo seu valor simbólico, são mais custosos de arrancar.