O pequeno mundo da criança

família forte

Adultos já, esquecemos que há outros seres humanos bem mais novos que nós, que fabricam um mundo que é deles, apenas deles. Ninguém tem permissão para entrar nesse mundo, como o filho do meu colega de ensaios, Pedro Correia, quem inventou um blogue para seu próprio uso. Depois, perguntou ao seu pai quais eram as utilidades dos blogues e como se usavam. Pedro, um pai babado como todos os seus amigos e colegas de ensaios, esclareceu-o. Por aqui vivemos num mundo de paz e camaradagem, como nunca antes vi: debates, ideias que se cruzam, com novas maneiras de confiar nos amigos.

Tal como as crianças fazem em todos os sítios do mundo que eu conheço. Camaradagem que começa pelo jogo de berlindes, continua com a macaca e pela concorrência com os piões, para saber quem é o rapaz que ganha, mas quem perde porque o seu brinquedo é partido ou é filho de um Pedro Correia e outros semelhantes que andam por ai, não fica triste, sabe que a vida é um risco e que é necessário confrontar, sem tristezas nem alegrias exageradas: ganha, é o seu troféu; perde, outro pião deve aparecer, nem que seja no jogo ao derrotar o seu opositor.

O mundo das crianças parece pequeno, mas acaba por ser do tamanho dos adultos. Um tamanho que não tem barreiras, nem cronologia, nem histórias para contar, excepto as que se ouvem em casa da boca dos pais e dos avós. Histórias com H grande porque são conversas de instrução, como quem criou Portugal e o respeito que teve o fundador com os que tinham invadido este território antes dele. Que os espanhóis eram invasores, então para a rua com eles, como ocorreu na batalha de Ourique e os mouros de volta ao seu país, perto do Algarve. Os judeus não tinham pátria, foram admitidos em Lisboa e outros tiveram que fugir porque sabiam muito de doutrinas nada convenientes para a forma de pensar lusa, que era cristã. Foi o que aconteceu com David Ricardo, o famoso economista inglês, filho de judeus lusos, exilados primeiro para Holanda e transferidos depois para Inglaterra, como se denominava nesses tempos, o que passou a ser o Reino Unido: a família Tudor que governava nesses tempos, apropriou-se do Reino da Escócia, encarcerando a sua Rainha Mary Stewart, sendo o seu filho criado pela sua tia, Isabel I de Inglaterra, passando a coroa das duas monarquias, após o falecimento da Rainha (Isabel I) e o assassinato da mãe  (Mary Stewart) na prisão, para a cabeça do filho Stewart, sobrinho Tudor, que passara a ser James I de Inglaterra e Sexto da Escócia, Rei que se apoderou, também, do Reino da Irlanda e do Principado de Gales. Assim nasceu o reino unido ou Grã-Bretanha, com estas monarquias e a tutela de outros estados soberanos, como a Índia, Canadá, Austrália e um protectorado para Portugal.

As conversas dentro desta família não julgavam ninguém, apenas narrávamos factos e se os mais novos pediam explicações, eram fornecidas pelos adultos, até eles crescerem a saber tanto como os seus pais. Não havia concorrência de factos nem críticas aos que desgovernaram o país, mas sim opiniões sobre os factos da crise que hoje em dia nos faz sofrer. Se uma criança sabe o porquê do ajuste de cinto, de menos passeios, de meses sem férias, acaba por entender e aceitar a realidade que é explicada, sem se intrometer nos debates políticos, que os que governam têm entre si, seria una desilusão para crianças que sabem de história, de educação cívica, de matemáticas.

As conversas mais interessantes, eram sobre a família, porque o pai casou com a mãe, ou os tios com as suas mulheres. A cronologia familiar bem estabelecida é a melhor forma de aprender das crianças, bem como da sua genealogia. A emotividade está sempre no bordo dos sentimentos, para ser cultivada e entender sem criticar. Mas com opiniões esclarecidas pelos adultos.

Não há pais babados. É apenas uma frase emotiva de quem se orgulha da aprendizagem da sua descendência. A emotividade é necessária de cultivar, para que a descendência aprenda a entender sem medo como acontece a vida. Criar filhos de forma aberta, em que nem falar de sexualidade, instinto que leva ao mundo a sua continuidade.  Adultos que se orgulham publicamente do saber dos pequenos de casa, estão a assentar as bases para futuros adultos independentes e autónomos, que podem governar o país sem crises políticas e económicas. A emotividade é a base de toda a interacção e respeito pelos outros. Há muitos adultos que sabem abrir as portas da realidade dentro da pequena família, sem punir, nem bater, a pior das felonias, que acontecem em muitos lares. Esses adultos nem falam nem se orgulham dos seus pequenos. O lar é o pequeno mundo da criança, que enquanto cresce, demonstra a realidade do seu grupo doméstico e apoia-se nessa realidade, para saber e crescer em paz e harmonia.

Nós Aventares, temos recebido uma lição, que eu respeito e agradeço, não para qualificar o comportamento adulto com os descendentes, mas sim porque essa abertura fez sentir nos nossos olhos essa pequena lágrima pela opinião partilhada da forma de pais criarem os seus filhos….Lição que agradeço por aprender, na minha idade, o cuidado das crianças e a abertura de se estar junto.

Raúl Iturra

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