3.º Calhau a Contar do Sol

Luís Branquinho

Ora, ora, saem uns e entram outros. Ninguém parece perceber nada de nada e todo o mundo parece saber mais do que alguém até encontrar outro que sabe menos ou parece saber mais do que eles próprios e ai volta tudo, anormalmente, à estaca zero.
Dançam o velho jogo das cadeiras onde há 10 cadeiras e 11 pessoas e a cada nova dança menos uma cadeira fica.
Música já há, ao bom e fiel som de gaita-de-foles e velha pianola desafinada que estão a ser tocados de forma capaz de aterrorizar um alto e digno residente natural dos ocultos vales marcianos e neptunianos e talvez, por isso, nem os altos dignatários extraterrestres de outros planetas vizinhos queiram entrar em contacto connosco, terrestres loucos, devido às nossas famosas bubuzelas capazes de fazer completas e gratuitas carecadas em rebanhos inteiros.
E já agora sabem que há muita gente que crê que saiu uma nova bebida? Não? Então quanto forem a um bar de praia, peçam lá e assim mesmo:
– “Umas Swap’s, fresquinhas, para esta mesa se faz favor!”Nem que seja só “para inglês ver”, que afinal, sempre percebemos mesmo de bebidas das de água gaseificada com amarelinha casca de limão e ambos produtos de importação onde misturamos romanticamente e as inúmeras línguas com a nossa própria e como se fosse a coisa mais natural deste mundo e até mesmo do outro mundo.
Vindas as tais fraquitas garrafitas de colorido vidrinho reciclado, cujo formato parece ter vindo e saído de um antigo e educativo documentário cinematográfico a preto e branco sobre “Os Limões Virgens de Saturno”, e também importado, depois de demorada procura pelo ocupadíssimo garçon do bar entre outras tantas demasiadas e mal amontoadas garrafitas de “nome tão bem parecido” que tanto o confundiu e lhe causou, na certa, mais uns cabelos brancos ou até uma bela e inconfessável ausência de vários tufos na sua farta cabeleira estilo Einstein e em que já se avizinha, e prevê discretamente da parte de cada cliente do costume, a existência a cada dia de novos e gratuitos aeroportos, encham-se os copitos baratuchos a imitar futurista cristal de rara pedra-pomes originária dos famosos vulcões de Úrano e brinde-se “Gesundheit!”
Mesmo que seja só para um belo chamariz daquelas vistosas e louraças turistas vestidas de escassos, singelos e bem eloquentes “fios dentais” que, muito elementarmente, revelam a conhecido detective da praça londrina de Baker Street que alguém passou artisticamente e ginasticamente algum tempo com o velho espelho, herdado de uma milenar falecida tia-prima-avó, colocado a jeito e a nível insuspeitado após umas quantas boas e falhadas nivelações matemáticas iniciais.
Depois, já refrescados e aliviados na sede nascida do suspeito salgadíssimo d magro bacalhau por tão saborosa bebida importada à sombra de decrépitos velhos guarda-chuvas vindos do virar do outro século hippie, e cujas famosas bolinhas na água garantem pelo menos um digno e respeitável arroto público sempre na boa e exigida medida de padrão internacional, e logo sejam iniciados os prolongados discursos em capítulos longos e até curtos episódios doutoralmente pronunciados com todos os dignos grandes floreados muito mal imitados sobre o novíssimo assunto do dia sob e sobre o título: “Coligate e Talgate, Sociedade de Irresponsabilidade Ilimitada” com sede na Ilha Misteriosa do Submarino Avariado.
E que ninguém diga depois disto, lá fora e até noutros conhecidos e desconhecidos planetas que na certa assistem também, pois, às inenarráveis terrestres notícias diárias, que aqui neste louco Mundo afinal e milagrosamente se percebe nada de nada e que afinal temos até planos a curto e longo prazo para plantar couves azuis e pencas rosadas tanto na Lua como em Júpiter e criar importantíssimas quantidade de variedades de manadas de gambozinos esverdeados em Saturno.
E diante de um futurístico ecrã, sentados em belas poltronas, também elas, de pele de gambozino lambariscado às riscas, os extraterrestres de grandes cabeças ovais atentos às notícias do nosso famoso “Terceiro Calhau a Contar do Sol” comentarão brevemente, entre si, inteligentemente, astronomicamente e muito cientificamente:
– “… redondo pedregulho doido varrido que se farta!”
E de seguida, sem sombra de alguma outra qualquer dúvida que aqui nasça ma cachola humana, mudarão de canal como manda a saudável praxe universal…

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