Série Maridos (V)

MADAME VIAN

Julgo que soube que ele era meu marido quando li A Espuma dos dias pela segunda de muitas mais vezes. Entretanto, especializei-me na observação das formigas e na audição das suas canções, cantadas por ele e por outros: Je Bois, J’suis Snob, La Java des Temps Modernes, La Complainte du Progrès (esse hino à vida conjugal), e também aquelas canções celebradoras da vida, dos dias de sol, da magia das ruas da grande cidade, como a belíssima La Rue Watt, e por aí fora. Mas foi quando o traduzi (uma compilação de citações e aforismos seus) que confirmei esse casamento espiritual extraordinário. Comunhão que de resto me levara já a criar para um romance uma personagem chamada Boris Viana, ser incerto e múltiplo que quisera ser poema e surge fantástico num cenário português realista e salazarento a andar de eléctrico 28.

Bem sei que nasci cinco anos depois de Boris ter morrido. Que importa isso? Conheço uma mulher que é espiritualmente casada com o fotógrafo Nadar, que é ainda mais antigo. Mme. Nadar.

N’oublie pas ton tricot quand tu partiras ta trompinette sous le bras, il fait froid mon amour. (Não me lembro de ser assim tão carinhosa e maternal com nenhum marido real. Conclusão: um bom marido faz uma boa mulher.)

Acerca das mensagens eróticas barradas

Depois de ler esta notícia do Público, fui consultar a lei e verifiquei que, segundo a “oitava alteração à Lei n.º 5/2004, de 10 de fevereiro [sic] (Lei das Comunicações Eletrónicas [sic]), alterando as regras do barramento seletivo [sic] de comunicações relativo a serviços de valor acrescentado baseados no envio de mensagem e serviço de audiotexto”,

O acesso aos serviços referidos no número anterior [“serviços que tenham conteúdo erótico ou sexual”] só pode ser ativado [sic], genérica ou seletivamente [sic], após pedido escrito efetuado [sic] pelos respetivos [sic] assinantes ou através de outro suporte durável à sua disposição.

Ao ler o número 4 deste artigo 45.º, lembrei-me de algo que escrevi há uns anos, acerca do mito da percentagem de palavras alteradas com o Acordo Ortográfico de 1990 — aproveito para repetir que lamento o aspecto, mas não tenho culpa.

Como se pode verificar, no número 4 do artigo 45.º, há quatro palavras afectadas pela base IV do AO90. Considerando que há trinta e uma palavras no número 4 do artigo 45.º , isto significa que o impacto do AO90 no número 4 do artigo 45.º é de 12,9%.

Apesar de haver quem escreva que “[n]a prática (…) 1,55% sofrem supressão destas consoantes”, é o próprio ILTEC a admitir que “[e]stes dados dizem respeito aos lemas (i.e., às formas de citação) do VOP, não equivalendo, por isso, ao número de mudanças nas formas flexionadas da nossa base de dados ou em textos”.

Post scriptumOntem, escrevi: “[e]speremos que o próximo – ou a próxima – MNE acabe, duma vez por todas, com esta vergonha“. Acabo de ler esta notícia. Se assim for, não nos esqueçamos: Nuno Melo votou contra.

Matemática

A preocupação da extrema-direita com a queda da bolsa é inversamente proporcional à que teve com a miséria em que deixou os portugueses.

Brandos custumes

Gaspar foi cuspido do governo. Só.

Arranjem-lhe um emprego

O marido da ministra e a EDP.

O Expresso avançou

Depois de se ter assegurado que “[a] única coisa que precisamos é ter a certeza que as ferramentas existem, dar uma pequena formação aos jornalistas e aos “copy desk” [asseguram a revisão dos textos dos jornalistas] e avançar”, o resultado está à vista.

Sim, o Expresso ‘adotou’ o AO90 há exactamente três anos e oito dias.

Ainda bem que avançou.

Via Desacordo Técnico:

Retractar-se-á Paulo Portas?

Com cê, evidentemente. Com cê. Sem cê.

“A vontade colectiva que não se verga nem desiste”

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Franz Kafka, Mann am Tisch, 1905 (http://bit.ly/12GjDdV)

Depois do ‘acto’ de Paulo Portas, desconfiei de um ‘projecto’ de Passos Coelho. Enganei-me. Ao abrigo da base IV do Acordo Ortográfico de 1990, consumou-se a supressão do cê de ‘projecto’. Contudo, o Governo é coerente, mesmo quando a crise institucional se instala. Depois do ‘acto’ de Paulo Portas, é evidente que o primeiro-ministro não poderia ficar atrás: colectivos e colectiva — apesar de *julho, *atual, *atuais e, claro, *projeto.

Quando levarem finalmente a cabo o tal “diagnóstico  relativo  aos  constrangimentos  e estrangulamentos na aplicação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990”, não se esqueçam do Governo. Sim, deste.

Post scriptum: Parabéns, Franz!

Logo agora, quando há tanto para contar

Tanto para contar! Milhares de casais haviam reprogramado os horários em função da liturgia dos  ‘briefings’  do Lomba. Que desilusão!,  o diário dos ‘briefings’ caiu de Maduro.

O povo fez o que devia.

E os partidos?

Voltando uns dias atrás, poderemos ver o que levou o PC e o BE a darem a mão à pior direita que o nosso país teve em Democracia, para derrubar o Governo de Sócrates. Não dou, hoje, como certa a decisão, mas tenho uma certeza – não foi pelo país o que o fizeram. Foi apenas uma questão de contabilidade eleitoral.

E estes últimos dias confirmam a minha teoria – a nossa classe partidária vive dos e para os partidos, colocando, SEMPRE, esta dimensão à frente de tudo o resto.

Com Sócrates primeiro e com Gaspar depois, o povo fez tudo o que lhe foi imposto – despedimentos, cortes nos salários e nos direitos, etc…

Fizeram todas as promessas, sempre associadas a prognósticos de grande validade científica, mas com um resultado sempre igual: falhanço completo. Não acertaram uma e nesse aspecto Gaspar foi particularmente assertivo.

Os governos e os partidos do poder apontaram um caminho, à  partida errado, mas, em eleições, 80% do país escolheu este caminho. Não se tratava de saber se o governo era ou não competente – e não é, como agora se prova.

O problema era a direcção do governo e não só a competência (inexistente) dos seus elementos.

O povo não falhou e fez o que tinha de ser feito. Concorde-se ou não – eu sempre estive do lado do não porque sempre pensei que este caminho estava errado – a verdade é que o povo cumpriu. Até cumpriu pelo silêncio – houve as manifestações contra a Troika, mas não houve um verdadeiro levantamento popular porque até parece que a maioria do país continua a ver este caminho como o único.

Aliás, no pico da luta dos Professores contra a TROIKA, o povo continuava a fazer uso da lusitana inveja para criticar a única classe profissional que ousou levantar-se contra a ditadura alemã. [Read more…]

“Baza… vai-te embora”

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Alexandria [02.07.2013] Fotografia de Asmaa Waguih/Reuters (Fonte: Libération)

Teoria dos Fractais

Uma cuspidela no supermercado provoca uma crise política no Governo.

Sai!

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«Último aviso» escreveu-se ontem em letras gordas na capa do diário egípcio Al-Ahram.  Apesar da demissão de vários ministros, Moahmed Morsi persiste, diz que “o povo [o] elegeu em eleições livres e justas” e que o Egipto (isto é, ele) não cederá às forças da oposição. Nas ruas a populaça grita “Sai!”. Morsi, Passos, a mesma cegueira.

E o próximo primeiro-ministro vai ser…

rui-rio
Depois de comprovada a falta de condições de Pedro Passos Coelho para continuar a liderar o Governo, nomeadamente devido à falta de uma base de apoio parlamentar maioritária, o Presidente da República resistirá a convocar eleições antecipadas. E tal como em Itália Mario Monti substituiu Berlusconi e na Grécia Lucas Papademos substituiu Georgios Papandreo, Cavaco Silva terá a tentação de escolher uma personalidade da área do PSD que garanta a continuidade da Legislatura até 2015.
Rui Rio é um economista com fama de rigoroso. Tendo estudado no Colégio Alemão durante 14 anos, ele próprio se considera meio alemão na defesa do rigor. Quem melhor do que um economista rigoroso meio alemão para acalmar os mercados e a Troika?
Rui Rio tem uma boa relação com o CDS-PP. Aliás, tem liderado nos últimos 12 anos uma coligação entre os 2 partidos que lhe valeu 3 vitórias eleitorais no Porto. No primeiro mandato, por ser minoritário, chegou mesmo a estabelecer uma aliança com o vereador da CDU, Rui Sá, que durou 4 anos.
Rui Rio é adepto de uma reforma profunda do regime político que envolva os vários Partidos portugueses. Isto soa a música para os ouvidos do Presidente.
Rui Rio tem um estilo e tem qualidades que são do agrado de Cavaco Silva e de alguns dos barões do PSD. De resto, foi um dos nomes falados para concorrer contra José Sócrates em 2009, tendo a escolha recaído na altura em Manuela Ferreira Leite, outra figura muito próxima de Cavaco Silva.
Todos sabemos como é que estas coisas funcionam. O país não aguenta eleições antecipadas nesta altura, os juros da dívida e a instabilidade, os prazos, o Orçamento de Estado e o conhecimento dos dossiers e por aí fora serão argumentos suficientes se não se quiser dar a voz ao povo. A verdade é que Rui Rio anda por Lisboa e nos últimos dias reuniu-se com o Presidente da República e com Paulo Portas. Não seria a primeira vez que o ainda Presidente da Câmara Municipal do Porto estaria no lugar certo à hora certa.

Gaspar escarrado, devíamos cuspir paralelos

Depois de Vítor Gaspar ter sido escarrado num supermercado, fico com pena de não cuspirmos granito.

Um Governo swap

Santana Castilho*

1. O fim da greve dos professores, primeiro, e a demissão de Gaspar, depois, atiraram para o limbo do quase esquecimento o escândalo do exame de Português do 12º ano. Mas a consciência obriga-me a retomar o tema, no dia (escrevo a 2 de Julho) em que se branqueia a iniquidade. Que teria feito a Inspecção, que aparecia sempre e este ano sumiu, se verificasse que se efectuaram exames sem o funcionamento regulado dos respectivos secretariados? Que houve vigilantes desconhecedores das normas básicas, socorridos no acto … pelos próprios examinandos? Que se realizaram exames sem a presença de professores coadjuvantes? Que professores de Português vigiaram exames? Que não foi garantida a inexistência de parentesco entre examinados e vigilantes? Que não houve um critério uniforme para determinar quem fez e quem não fez o exame a 17 de Junho? Que o sigilo, desde sempre regra de ouro, foi grosseiramente quebrado pela comunicação, em ambiente de tumulto público, entre o exterior e examinandos? Que se prestaram provas em locais inadequados e proibidos pelas regras vigentes? Que não foi respeitada a hora de início da prova? Que teria feito, afinal, a Inspecção, se … existisse? O óbvio, isto é, a recomendação da anulação do exame e o apuramento dos responsáveis pela derrocada do que se julgava adquirido. Consumada a trapalhada inicial, transformada a Inspecção em submissão, prosseguiu a farsa com o Despacho 8056/2013, que, preto no branco, contrariou a lei e mandou admitir à repetição da prova todos, sem excepção, que a não tinham feito, independentemente do motivo. A última palavra, corrigindo o despacho, deu-a … o Gabinete de Imprensa do ministério. Tudo brilhante, em nome do rigor, sob a responsabilidade política do ministro do rigor. Espanta isto no dia em que Maria Luís Albuquerque substitui Gaspar? Claro que não. Este é um Governo swap. Um Governo que troca o que lhe dá jeito, particularmente a ética, pela sobrevivência a qualquer custo. [Read more…]

A realidade da política portuguesa ultrapassa qualquer ficção

Com comportamentos dignos de bobos da corte, Passos Coelho, Paulo Portas e Vítor Gaspar são os protagonistas de uma ópera bufa de terceira categoria.

Gaspar saí sem surpresa mas com estrondo e não se roga a deixar uma carta ao país onde diz que Passos é incompetente para liderar o Governo. Passos volta a não consultar o seu parceiro de coligação sobre o novo nome para a fundamental pasta das Finanças. Portas esquece-se de dizer que se o caminho for esse, então não terá outra opção que não seja a demissão. Nada diz e demite-se a 30 minutos da tomada de posse da nova ministra.

Gaspar, Passos, Portas

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Uma tarde divertida no Facebook

Bomba

Em resumo….

Já há um candidato!

E de certeza que faria muito melhor. Com a vantagem de que seria uma animação. Venha ele!