Para quê?

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Morrem em vão, sim, e choca especialmente a morte dos mais jovens, pessoas que ainda há pouco começavam a vida, cheias da coragem da juventude imortal pronta para mudar o Mundo com as próprias mãos, por tão grande desejo de fazê-lo, contribuindo com o que têm: essa coragem, a força dos seus braços, abalançando-se contra florestas cheias de eucaliptos combustíveis que continuam a plantar-se, combatendo os incendiários sem escrúpulos, cujos favores e/ou taras pirómanas outros tantos prosseguem comprando, cumprindo agendas sinistras. Morrem para nada, porque ninguém quer saber, a começar pelos patrões do Estado para quem o território é uma abstracção, e a acabar em cada um de nós – os que deixaram o campo para ir viver para a cidade, os que emigraram, os que deitam beatas acesas pela janela fora, os que deixam nas matas o seu lixo, os responsáveis políticos locais, todos os que não vêem que tudo o que secou arderá. Morrem porque sim, porque ninguém faz nada para punir os que abandonam à sorte do fogo as terras de mato que ninguém limpa – e começa desde logo por cada um que não trata do seu quinhão de jardim, do seu quintal, da sua propriedadezinha, num país onde nenhuma legislação os pune (na Bélgica, por exemplo, o Estado cobra pesadas multas aos cidadãos que não mantêm o seu quintaleco limpo). «Povo de suicidas», escrevia Unamuno, «a vida não tem para ele sentido transcendente. Desejam talvez viver, sim, mas para quê…?»

Comments

  1. É isso mesmo , ninguém quer saber de nada . Os governates
    é que deviam ficar cercados pelo fogo . Só se preocuparam elogiar um indivíduo mau como as cobras como o Borges .

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