No caso de Portugal, a Comissão enviou para o Eurogrupo, em 7 de julho, um documento de cinco páginas cuja essência se resume ao seguinte: o governo português, na altura liderado por Passos Coelho, não cumpriu as recomendações dirigidas a Portugal, que a Comissão propôs ao Ecofin, e que este aceitou, endereçando-as a Lisboa em 21 de junho de 2013. É de uma confrangedora desonestidade intelectual continuar a escutar as afirmações do anterior primeiro-ministro e da sua ministra das Finanças negando o óbvio: o país vai ser sancionado pelo desempenho do seu governo. Sejam as sanções nulas, mínimas ou pesadas, o pretexto não reside na ação do atual governo, mas no desempenho da coligação PSD-CDS. O sinal negativo que vai ser dado aos investidores, mesmo com sanções nulas, à DBRS, a única agência de rating que nos liga ao cordão umbilical do BCE, prende-se com a conduta orçamental de um governo que acreditava na austeridade mas não o suficiente para arriscar perder as eleições. Nessas circunstâncias, a bra- vata e o autoelogio dos anteriores governantes são uma indignidade e um insulto ao direito que os portugueses têm à mais elementar verdade factual.
Viriato Soromenho Marques, As regras da Alcateia (DN)
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