Incompetência

incompetência

Não sei se sou eu que tenho menos paciência ou se a incompetência à minha volta está mesmo a aumentar. Até em empresas que eu sempre considerei trabalharem bem e de forma profissional, empresas que deram cartas nas áreas em que trabalham, agora se encontra frequentemente vários exemplos de incompetência.

Creio que é mesmo um sinal dos tempos. Falta brio profissional, falta empenho, falta vontade de fazer mais e melhor. Da mesma forma que as pessoas se acomodam a políticos de chacha, que se limitam a conversas da treta, também se acomodam a ser simplesmente medíocres. As coisas vão-se fazendo sem grande interesse em que sejam bem feitas, afinal ganha-se tão pouco, para quê grandes preocupações?

Aquela falta de interesse que antigamente se associava aos funcionários públicos (e não, não estou a dizer que concordo com este ponto de vista, estou apenas a falar daquilo que eu via e ouvia há uns anos atrás) parece dominar toda a nossa sociedade, de uma forma transversal.

E no entanto, não é por falta de capacidade, já que os nossos trabalhadores continuam a ser recrutados por grandes empresas internacionais ou multinacionais. E continuam a brilhar e a dar o seu melhor.

Então, que se passa? Qual a explicação para tanta incompetência e tanta falta de interesse pelo trabalho bem feito?

Sei que isto não é de agora e nem sequer é apenas característica dos Portugueses. Há anos tive na faculdade um professor Inglês de Inglês que perdia os testes dos alunos e, para não ter muito trabalho nas orais e não perder muito tempo, perguntava aos discentes que notas haviam tirado no ano anterior. Recordo-me de uma colega, esperta, que, tendo tirado 12, afirmou que a sua nota tinha sido de 15 valores. E foi com essa nota que terminou a oral. Mas também tínhamos os professores Portugueses extremamente exigentes. Aliás, no meu curso, eram mesmo os docentes Ingleses ou de Inglês que se distinguiam por serem muito mais facilitadores e informais do que todos os outros. Ainda assim, ser facilitador ou informal não é necessariamente sinónimo de ser incompetente e, exceptuando o já referido caso pontual, todos os outros eram competentes.

A incompetência é algo que me perturba profundamente. Porque eu tento sempre fazer o meu melhor naquilo que faço, quando faço alguma coisa. Porque a incompetência dos outros muitas vezes me afecta a mim, já que, como no caso que me fez transbordar e escrever este post, sou eu que tenho que me deslocar três vezes seguidas para uma loja, afim de reparar um equipamento sem nunca em momento algum ouvir qualquer pedido de desculpas. Porque eu sei que nós, os Portugueses, somos capazes de mais e melhor. Já o tenho visto. O facto de sermos genericamente incompetentes diminui-nos e faz-nos cada vez mais parecidos com os sucessivos desgovernos que de nós tanto partido conseguem tirar.

E num momento em que tanto se fala na morte de um dos nossos grandes e competentes, meus senhores e minhas senhoras, viva a competência! Sejamos todos o melhor possível e façamos tudo o melhor possível nas nossas vidas. Talvez este seja um dos caminhos de mudança do nosso país.

Comments

  1. Nightwish says:

    Para quê? Para nos roubarem mais ao fim do mês?

    • Azamboar says:

      Para ao menos poder apontar o dedo seja a quem for, que tal? Como é que alguém pode falar seja de quem for, políticos incluídos, se não faz bem aquilo que lhe compete?

      • nightwishpt says:

        Abrindo a boca.
        Mas compete por obra e graça do espirito santo ou por designação nacional?

        • Azamboar says:

          Compete, nem por obra e graca do espirito santo, nem por designío nacional. Compete porque aceitou realizar um trabalho, uma funcão. Presumo que tenha essa funcão traga um valor acrescentado para um cliente, seja lá ele qual for. As nossas obrigacões sociais, de interesse pelo bem comum, normalmente resumem-se a mandar uns bitaites num teclado (“abrindo a boca”) e a nocão do “comum” a um perímetro bastante pessoal (“ai de mim, que sou tão infortunado”). Depois choramo-nos quando o mal bate à nossa porta.
          Senão imagine, por exemplo, um familiar seu a morrer numa mesa de cirúrgia e a ler na certidão de óbito que “a classe médica tinha sido negligente por estar a lutar pelos seus direitos”. Compete-lhes, a eles, por obra e graca do espírito santo ou por desígnio Nacional desempenhar a sua funcão responsavelmente?

          • Pois. says:

            Aceitar realizar o “Seu” trabalho é óbvio, acumular funções com os mesmos rendimentos ( e até mais baixos ), bem nem por isso, substituir-se ou “ir mais além” da sua função, muitas das vezes para proteger os verdadeiros incompetentes ( pois porque esses cargos são regra geral muito altos… ) … 🙂

            Porque essa palavra “competência” dita dessa forma é “dual”…
            Incompetente é quem sempre foi, e nunca deu conta, não é agora… 🙂

            A sabêr caso não tenham entendido a rétórica aqui do “neo-liberalismo”…
            A culpa não é de quem não dá mais o que tem, é de quem cuspiu no prato que achava “SEU”… Boa viagem, incompetentes…… 🙂

            “9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

            Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução! “… 🙂

          • Pois. says:

            P.S. – Aliás “competencia” é exactamente saber o que tem para fazêr, e o que não lhe compete “encobrir” Isso é a vulgar “incompetencia”… Novo-lingua… Pergunte aos Paizes “Competentes” …

  2. Essa incompetência é uma óbvia consequência da desvalorização do valor do
    trabalho, do “ter que trabalhar a qualquer preço ou horário”, do trabalhador provisório, com contrato a prazo curto, sem estímulos de qualquer espécie, que não chega a amadurecer e crescer na sua tarefa que deveria assumir-se como uma carreira ou profissão, com um aperfeiçoamento constante até atingir a mestria. É o trabalhador que “nao veste a camisola”, não quer saber se a sua empresa prospera porque daí a 6 meses acaba o seu contrato e nunca chegará a chefe de secção, gerente ou até mesmo sócio da empresa, como antes acontecia muito sabiamente. Os actuais patroes, na ânsia de lucro e de acordo com as teorias económicas mais seguidas, querem despedir, reduzir, alterar, transferir, etc, como entenderem e com a máxima facilidade. Resultado: trabalhadores que se sujeitam a tudo para poderem trabalhar, mas que se “borrrifam” para a imagem da empresa ou a qualidade do serviço e até as sabotam, se puderem fazê-lo impunemente. Quando as pessoas se reduzem a cifras económicas, o resultado, a longo prazo, será “tiro no pé” do patrao. Isto resume-se assim: “tal dinheirito, tal trabalhito”. E não me venham com os moralismos do brio, empenho ou outros conceitos, apenas válidos em sociedades em que todos se respeitam e valorizam, mutuamente. O ressentimento albergado no íntimo do ser humano que se sente desvalorizado na sua dignidade, tem que sair de alguma forma, e a negligência “controlada” ou a indiferença indisfarçável são o escape a que se podem permitir as pessoas, hoje, A mediocridade dos gestores,. dos dirigentes, das políticas de trabalho e sociais reflecte-se na sociedade em geral e nos assalariados em particular. Alguém pensava que poderia ser diferente????

    • Aqui patrão, ali funcionário, agora cliente.
      A indignação para com aqueles patrões que reduzem as relações profissionais a cifras esquecendo a vertente pessoal que está inerente a cada trabalhador, deve servir também para aquele trabalhador que esquece que, além das suas más condições laborais, há também a vertente pessoal atrás de cada cliente. Portanto sim, há mediocridade em todos os lados. Tolerar e justificá-la como resultado de circunstâncias externas é, de certa forma, alimentar essa bola de neve.

      • Estamos todos ligados, inter e intra. Nunca justificaria um mau posicionamento de alguém ao exercer as suas funções. A incompetência é injustificável, mas entendo algumas das suas causas e, embora muitas vezes me indigne também, parece-me que nos revoltamos sobretudo com o elo mais fraco, o que dá a cara, ainda que mal, o que tem que se sujeitar, o que para o mês que vem está desempregado e o patrão nem por um segundo pensou no almoço do filho, na prestação da casa que ficará por pagar, no medicamento que é preciso comprar… penso que motivação, educação social, valores, estabelecem-se a partir dos topos para as bases: governantes, patrões, chefes, pais, professores, educadores, através de exemplos e dinamizações, para com aqueles que dirigem ou educam, e não o contrário. Mas é apenas a minha opiniao, Vale o que vale.

  3. “If you pay peanuts, you get monkeys “

  4. portela says:

    A incompetência é um mau sinal. Mas há que saber ler os sinais, principalmente os maus.
    .

  5. J. A. Aguiar says:

    O panorama do mercado e das relações de trabalho é realmente devastador, especialmente sentido pelos que o encaram “à moda antiga” (vestira a camisola, etc., etc.). Não me vou alongar, não vale a pena, não alimento ilusões a curto prazo – é só um desabafo de um desempregado há 3 anos, com 59 de idade e quase 40 de serviço…
    Queria só sugerir a leitura de uma entrevista interessante sobre estes temas: http://www.publico.pt/economia/noticia/as-condicionantes-socioeconomicas-mundiais-estao-a-retirar-lucidez-aos-empresarios-1617874

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