Cultura de debate (Europa 2014)

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Em França, no serão televisivo do dia anterior ao encerramento da campanha eleitoral para as eleições europeias de Domingo, um grande debate em directo e com público no estúdio reuniu na televisão seis vozes em torno dos grandes problemas europeus: o euro, as soberanias, a imigração, o Frontex, o salário mínimo, a desregulação financeira, a Alemanha, a desindustrialização dos países, a poção amarga da austeridade, as mudanças climáticas, a política agrícola, os egoismos nacionalistas, o dumping fiscal, etc, etc.

Jean-Luc Mélenchon (cabeça de lista pelo Front de Gauche), Stéphane Le Foll (porta-voz do PS francês), Yannick Jadot (cabeça de lista pelos Verdes), François Bayrou (presidente do MoDem), Jean-François Copé (presidente da UMP) e Marine Le Pen (cabeça de lista pelo Front National) esgrimiram as palavras do combate político. No final do debate, o jornalista despediu-se com um Vive la politique!

Em Portugal passou mais um episódio de Bem-vindos a Beirais e depois Manuela Moura Guedes apresentou mais um Quem quer ser Milionário.

 

Esta Europa não.

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Ele gostava de votar, de votar com convicção num partido, movimento, pessoas que verdadeiramente representassem o interesse da parte maior do povo, em que orgulhosamente se inclui. Sou povo, diz com a verdade de quem é. O discurso da esquerda, que bem conhece de a ter militado (e depois abandonado, por não mais ser possível pertencer-lhe assim), não lhe chega. Atento, há muito que esse voto perdeu sentido. Votar em quem?, pergunta-me todo perdido e chateado de vida, indisponível para a comunhão de fé com essa esquerda titubeante, de pensamento omisso sobre a Europa, e sobre o lugar de Portugal nessa economia de competição inter-pares. Um jogo que gera a desigualdade anacrónica que também em Portugal está a liquidar a recente classe média patrimonial em que também ele, que é povo, até ver se inclui.

Ele até nem se importava de votar na esquerda dos governos, que já o enerva a vocação opositora de quem espera a sublevação histórica dos deserdados do capitalismo para tomar o poder. Bem conhece o cartório de culpas comprometidas com o cavaquismo dessa esquerda. Mas lá está: com Seguro a puxar a carroça é que nem pensar, e Costa tarda, tarda, zanga-se com quem insiste para que de uma vez por todas se chegue à frente, diz que por ora Lisboa lhe basta, que ainda tem lá muito que fazer.

Ele gostava de votar, mas diz-me que esta Europa merece o castigo da abstenção dos povos. Por uma vez, a abstenção tem um outro significado. Um sentido político que aponta o dedo à Alemanha do euro-oportunismo comercial e financeiro e dos egoismos da «emigração interior» dos alemães. Um sentido político, ouviste Angela?

Progresso

Está em marcha na Alemanha uma lei que prevê a expulsão, no prazo de três a seis meses, de emigrantes de países comunitários – mesmo que legais e perfeitamente integrados – que fiquem desempregados. Bom, pelo menos saem vivos. Já é um progresso.

O gato e o papel

alfredo
Numa hora mansa da tarde, o meu gato Alfredo – que os meus amigos homónimos não levem a mal, mas o nome decorre de o bichano miar com arte e sentimento – dormia, com aquela beatitude que só os gatos conseguem, esparramado sobre a passadeira que se estende até à entrada da casa, iluminado pela luz que se filtrava pelo vidro da porta. De repente, a paz é interrompida por uns ruídos quase imperceptíveis – para nós, não para um gato – vindos do lado de fora da entrada. Alfredo ergue a cabeça e fica alerta. E eis que um colorido panfleto surge, como que disparado, por baixo da porta, fazendo um voo raso de mais de meio metro. Em menos que leva dizer “sape gato lambareiro” o corpanzil de um indignado gato caiu sobre o papel e desfê-lo em tiras. Entretanto eu tinha acudido, não fosse algum documento importante, tentando salvar alguma coisa. Peguei nos pedaços que restavam – perante o olhar de censura do meu gato – e consegui ver nos destroços fragmentos dos malogrados rostos e troncos de Paulo Rangel e Nuno Melo e o que restava de algumas das suas patranhas propagandísticas. Alfredo tivera razão. Pedi-lhe desculpa e constatei, orgulhoso, que tinha um gato com convicções justas.

A pausa no meio da tristeza

Laura Ferreira dos Santos

“Já praticou a eutanásia? Já matou pessoas?”. Foi assim, sem mais, que a jornalista inglesa interrogou um médico belga que há pouco perdera a mãe de 82 anos através de um processo de eutanásia. A mãe já observara a evolução do Alzheimer em familiares próximos e não queria acabar do mesmo modo. Por isso, informou o filho médico e as filhas de que pretendia antecipar a sua morte, enquanto ainda lhe era reconhecida capacidade intelectual suficiente para o fazer.
Esta pergunta e esta pequena história está contida num programa que a Radio 4 da BBC emitiu em 9 de Janeiro deste ano sobre a eutanásia na Bélgica, em que se focava sobretudo a questão da possibilidade de estender essa realidade aos menores terminais em grande sofrimento físico que mostrassem discernimento suficiente para a entender e acabassem por dar indicações indesmentíveis de que era isso que pretendiam. [Read more…]

Quem autoriza isto merece ser presidente de Câmara?

segunda circular

Trânsito interrompido para montar publicidade que, claramente, está onde não devia estar. É este o António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa que autorizou isto, a arma de reserva para liderança do PS? Depois do viaduto da Galp (pago em mais de um terço pela CML) e das prioridades questionáveis, mais um exemplo de excelência de gestão autárquica.

Foto: Sandra Ribeiro / Pùblico