Este post é um pouco ego-centrado mas a culpa é das legionellas. É, portanto, um post onde também se sacode a água do capote. Juntasse-lhe eu umas mentiras e tinha o perfeito discurso político. Mas como não é o caso, e chegando de interlúdios, como este, vamos ao que interessa.
Tenho rinite alérgica desde que me recordo, o que desde cedo me afastou de livros velhos. Não imaginam a inveja que tenho de quem se gaba do prazer das descobertas que fazem por entre páginas amarelecidas pelo tempo e pelos ácaros. Esses, os quais só de pensar neles, quase me fazem espirrar.
Esta situação crónica piorou de forma exponencial, literalmente falando, no meu último emprego por causa da ventilação forçada, trazida até ao ambiente de trabalho por condutas industriais nunca limpas na dúzia de anos que lá trabalhei. E, imaginem só, até havia uma inspecção anual à qualidade do ar e de outras coisas como a intensidade de luz no posto de trabalho e a ergonomia das cadeiras. As inspecções fazem sentido, e se não acreditam esperem uns anos até coisas que só acontecem aos outros façam escala nas vossas pessoas. Mas, para serem inspecções dignas desse nome, deviam detectar alguma coisa. Ora o ar por lá era mais puro do que o do topo dos Himalaias, pese embora cerca de um décimo dos trabalhadores ter desenvolvido problemas pulmonares.
Portugal tem legislação de topo, ou não fosse consideravelmente grande a classe profissional que vive da existência de sistemas burocráticos complexos. Mas a letra da lei não chega. Há uma altura em que é, de facto, necessário dar-lhe corpo, caso contrário, mais cedo ou mais tarde, haverá uma torre de legionellas prontas a fazer concorrência à emigração proposta por Passos Coelho: deixem de viver no país.
A lei por si só, não resolve problema algum. Se não existir um sistema de penalidades forte e eficaz contra quem prevarica, a lei pode ser a melhor do mundo que é inócua. O problema deste país é a total ausência de responsabilidade. As estruturas de regulação existem para sacar mais valias e nunca acrescentar mais valias. Um país verdadeiramente a monte onde o crime compensa. Senão, vejamos: na área do Ambiente que muito bem conheço, o esquema do poluidor pagador, não funciona. É mais barato pagar coimas e quem defende princípios e quer estar legal, gasta muito, mas muito dinheiro. No que toca aos sistemas de verificação da qualidade do ar, a situação é em tudo igual. Não há responsabilidades quando se não tomam as acções no seguimento da detecção de problemas. E o organismo vindo, um ano depois, encontra a mesma situação e fecha os olhos pois corre o risco de ser substituído na função por um outro. Uma irresponsabilidade onde o fim é sacar dinheiro e a escala de valores há muito que desceu para além do zero.
Lembremos-nos, por exemplo, das sucessivas descargas na Ribeira dos Milagres (Leiria) para sublinhar a razão que o Ernesto tem.
Este post poderia ter sido escrito por mim “ipsis verbis”
Tivesse eu o talento do Manuel Cordeiro, claro.
Basta um teclado e um espirro.
Não sei se serve de grande consolo, mas olha que essa história das páginas amarelecidas está muito sobrevalorizada. A maioria das vezes só se descobre mofo.
Folgo em tal saber, Carla.