A tabloidização do jornalismo

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Em política (para dizer o poder político), nada é inocente. O facto de a mulher do actual primeiro-ministro ter optado por não esconder a sua doença é claramente um statement. Resta saber qual, ou quais. Que eu saiba, e até ao momento, nenhuma figura pública feminina portuguesa havia tomado tal audaz decisão. Não há, na cultura portuguesa, esse hábito. A doença esconde-se, tal como se escondem as suas marcas. As mulheres põem lenços, e procuram manter – tanto quanto possível – a sua aparência habitual. Nessa medida, que a mulher do actual primeiro-ministro apareça publicamente sem cabelo (ela que o tinha farto e bonito) significa qualquer coisa.

Ana Sá Lopes (ASL) pensa que essa coisa – mesmo se concordando que constitui uma «opção radical» – não tem significado político algum, e insurge-se contra alegados aproveitamentos por parte do PS e dos seus simpatizantes. Visando Estrela Serrano com especial agressividade, por causa de um seu texto sobre a tabloidização da doença, ASL não se esqueceu de referir que Estrela Serrano foi assessora «do Presidente da República Mário Soares, para além de professora na Escola Superior de Comunicação Social, um centro de formação das novas gerações de jornalistas.» O que significam essas escolhas, para além da continuação do combate ao PS que ASL tem protagonizado?

Tal como se me apresentam os factos, significa que o que está em cima da mesa não é a doença de Laura Ferreira, tão pouco um suposto aproveitamento político por parte de Pedro Passos Coelho. O que Estrela Serrano levou a debate é o que Ana Sá Lopes agora contesta (reeditando, aliás, o que fez há uns meses relativamente ao opaco processo contra Sócrates), mesmo se com recurso aos habituais esconderijos discursivos que põem em primeiro plano tergiversões sem sentido (e até muito questionáveis, como é o caso da que pretende escrutinar moralmente Estrela Serrano enquanto professora de jornalismo): a tabloidização do jornalismo.

Comments

  1. Lamento, mas penso que é um aproveitamento politico. Não confio, nem um bocadinho, neste vigarista e acredito que ele possa ter influenciado a decisão da senhora. Este espécimen já deu provas da falta de valores morais mais que suficiente.

  2. Rui Esteves says:

    Conhecendo nós o marido da senhora e sabendo que para ele vale tudo, sem escrúpulos a estorvar – e por isso nega hoje o que afirmou há uns meses; sabendo que por detrás dele estão gabinetes de consultores de imagem, sempre a magicar em cenários com vista a manter o score eleitoral do PM em alta; se levarmos isso em conta, estou tentado a pensar que o uso da senhora foi intencional.

  3. joão lopes says:

    estamos a falar de tabloides? é curioso,porque foi precisamente o CM que começou com estas noticias da doença da senhora(vai para o hospital,sai do hospital,já chegou a massama,etc) e sabendo que o CM tem assumido claramente uma posição da propaganda ao actual governo,que conclusões se podem tirar? pela boca morre o peixe.

  4. Aventanias says:

    Tenho tanta penas deles …
    ( é isso que querem ? então vá.)

  5. O farsola não recua perante nada.
    1º Pede privacidade e que a doença era uma coisa de família.
    2º Vê as sondagens e vê a vida a andar para trás e…
    3º De início disse que se lixem as eleições, agora manda sondagens aldrabadas para a comunicação quase todos os dias.
    Pobre Portugal !

  6. Durante muito tempo lidou-se como um tabu o cancro e os seus tratamentos. Isso prejudicava doentes e familiares. Sei do que falo. Faz muito bem a senhora em fazer tal statement. Ajuda a quebrar esse tabu. Tudo o resto que se escreva ou diga é pequenez mental.

  7. anabela says:

    pode ser um statement ou não, mas não lhe parece demasiado asqueroso tirar quaisquer tipo de conclusões. Há coisas que se olha e não se comenta. Haja algum decoro, minha amiga. Repugna-me o seu texto e o da Estrela Serrano…Querem ir para a política vão, mas não sujem mais o jornalismo.

    • Sarah Adamopoulos says:

      E a capa do Correio da Manhã, não a repugna?

      • anabela says:

        não me repugna. é noticia: uma mulher que é a figura pública que é mostrar-se neste estado ao mundo, num evento público e sem vergonhas é uma daquelas imagens que vale mais do que mil palavras… o titulo também não é degradante como muitos outros que este jornal ja fez. neste caso o correio da manha fez o trabalho que se calhar outros na senda do politicamente correto não fazem ; depois admiram-se de não terem leitores

  8. ferpin says:

    Não conheço a senhora, pelo que não sei se ela adotaria a atitude de cabeça calva à vista em qualquer circunstância.
    O que sei é que ao optar assim, sabia que uns teriam mais pena do que se lhe vissem uma peruca igual ao cabelo habitual (eu por exemplo tinha lido que tinha cancro num joelho e imaginei que seria coisa fácil de tirar, vejo agora pela calva que a luta será mais dura) e outros lhe chamariam aproveitamento político.

    Francamente, não opino sobre a atitude da senhora, pois quem está com cancro é ela, e espero que se cure depressa.

    Quanto ao marido, espero que não apanhe nenhum voto que seja pela cabeça calva da esposa. Aí sim, haveria aproveitamento político.

    Fui recentemente ao IPO por diversas vezes, e vi muitas senhoras com perucas, com lenços, mas raramente vi uma senhora com cabeça calva à mostra.

    Enfim, mais mal é dela que não lhe bastava o marido e ainda lhe aparece o que não se deseja a ninguém.

  9. O facto em si é que cada um vai dar ou retirar significado eleitoralista conforme a sua convicção. Nunca foi feito é precisamente o mal que temos sofrido na sociedade portuguesa e para termos uma das “castas” mais sólidas da politica europeia com as corporações bem alapadas aos dinheiros e interesses do estado. E.Serrano e as suas opiniões vale a pena ler o que escreve no seu blog, e que cada um tire as conclusões de isenção que aprouver.

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