O louco da vila, todas têm o seu, pediu que lhe tirássemos uma foto, e pôs-se muito sério, em pose de retrato. Quis vê-la e aprovou-a com um aceno de cabeça. Depois disso, começou a acompanhar-nos pelas ruas. Apontou a igreja, a torre sineira, o velho edifício da câmara, e fez-nos sinal para que os fotografássemos. Caminhava com passos largos, as mãos atrás das costas, o rosto fechado, uma preocupação muito sua, impartilhável. Mantinha-se a uma distância cautelosa de nós, não porque nos temesse mas porque não lhe apetecia entrar em confidências.
Reservou para o fim o melhor da visita guiada. Apontou para cima, para a torre em ruínas, o ninho recortado em contraluz. Uma cegonha regressava a casa nesse instante, talvez o fizesse sempre à mesma hora ou o louco pressentisse esse regresso. Sincronia perfeita, em qualquer caso. Juraria que a cegonha olhou para ele, juraria que estava tudo combinado entre os dois.
Ninguém conhece as vilas como os loucos. E ninguém os escuta com mais atenção do que as aves.
E pronto, já me valeu um valente sorriso.
E olha, esse comentário valeu-me outro.
Que loucura saudável esta de escrever uma crónica tão bela e sensível. Obrigado.
Eu é que agradeço.
Excelente.
foi bom ter passado por aqui