Hoje, mais de 77% dos eleitores da Catalunha foram votar. Que esmagadora vitória da democracia.
Sempre respeitei e admirei os povos que desejam a sua independência. Sempre. Por isso mesmo, ver nos diferentes media espanhóis, ao longo dos últimos meses e esta noite, defender que o desejo dos catalães pela sua independência é ilegal por violar a constituição espanhola é, no mínimo, surreal. Feita esta ressalva, vamos à realidade.
Os partidos defensores da independência da Catalunha venceram claramente estas eleições. A coligação de Artur Mas (actual presidente da Região Autonómica da Catalunha) obteve pouco mais de 39% dos votos e elegeu 62 representantes no parlamento. A maioria absoluta atinge-se com 68. Contudo, aos representantes da coligação “Junts pel Sí” (Artur Mas) teremos de somar os 10 da CUP (8,2%), igualmente defensores da independência e dessa forma os movimentos independentistas conseguiram obter a maioria absoluta (72 parlamentares). Contudo…
Artur Mas avançou para estas eleições procurando (e afirmando) transformar umas eleições regionais num plebiscito. Ora, enquanto eleições regionais, os independentistas venceram claramente e até conseguem ter maioria absoluta no parlamento. Porém, se olharmos como se fosse um plebiscito a confusão está lançada. As duas forças defensoras da independência somam menos de 50% e nessa matéria perderam.
Então, qual a resposta à pergunta que faço no título deste artigo? Ninguém ganhou.
1. Não ganharam aqueles que defendiam o plebiscito porque não conseguiram ter uma vitória verdadeiramente expressiva. Nem tão pouco conseguiram ter 50% dos votos expressos e nem me parece que uma independência se obtenha com resultados destes. Mais, perderam porque cometeram o erro crasso de tentar transformar umas eleições regionais num plebiscito por um único motivo: eleitoralismo primário com o objectivo de mera sobrevivência política de Artur Mas que estava em queda livre junto da opinião pública catalã (os recentes escândalos de financiamento partidário no seu partido, CiU, assim como a crise económica na região estavam a minar a sua base de apoio – note-se que mesmo com este resultado, a CiU e a ERC perderam representantes no parlamento e baixaram 10 pontos em termos eleitorais)
2. Não ganharam os partidos do “centralismo” espanhol, o PP e o PSOE que, juntos, apenas conseguiram eleger 27 representantes (em 135) e tiveram pouco mais de 20% dos votos (12,7% para o PS e 8,48% o PP). O seu discurso contra a independência da Catalunha, toda a campanha de chantagem (até os representantes dos empresários da Catalunha vieram a público dizer que mudavam as suas empresas para outras regiões sem esquecer a interferência da Comissão Europeia e até, imagine-se, de Obama!) que fizeram foi severamente castigada. Sublinhe-se o desastre eleitoral do Partido Popular que teve 8%…
Ou seja, a divisão na Catalunha vai continuar. Pouco menos de 2 milhões de Catalães votam nos partidos que defendem a independência e outros tantos votam nos partidos que querem continuar integrados em Espanha. E com quase 80% de eleitores a votarem penso que não existe outra leitura possível.
Se os movimentos independentistas querem ter credibilidade então terão de mudar. Mudar de lideranças, unirem-se em torno de um só movimento com um verdadeiro líder unificador e conseguirem obter um resultado eleitoral verdadeiramente esclarecedor (no mínimo 60%).
Se os contrários à independência da Catalunha querem ser olhados com seriedade e continuarem a defender a democracia então aprovem o referendo na Catalunha e deixem o Povo decidir.
De outra forma, ninguém ganha e a prazo quem se vai “lixar” é o mexilhão.
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