Os soberanistas

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Leio num dicionário: ser soberano é ser independente. É não estar subordinado a outrem. É deter autoridade exclusiva e isso, esse poder, ser inalienável. No mesmo dicionário leio também que soberanista define aquele que é partidário da soberania. A palavra não está ainda repertoriada em português. Mas em francês sim: a palavra foi aceite pelos dicionaristas da língua francesa em 1974 – quando o partido soberanista do Québec conseguiu fazer do francês a língua oficial daquela província da confederação canadiana.

Considerando que o território francófono do Canadá tem particularidades culturais e económicas que justificam a sua autonomia, os soberanistas do Canadá foram capazes de mobilizar a sua sociedade para a realização de dois referendos: em 1980 e em 1995. No segundo escrutínio, 49,4% dos cidadãos do Québec (onde 60% são francófonos) votaram a favor da soberania daquela província canadiana. Um dia destes conseguem.

Há mais soberanistas no Mundo, como se sabe. Por exemplo, na Catalunha, onde a situação está por estes dias ao rubro. Ou na Escócia. E a tendência na Europa, perante um federalismo neocolonialista que tem gerado níveis de desigualdade que evocam os da decadente Belle Époque, será a de fazer germinar novos ensejos nessa matéria, designadamente os indesejáveis nacionalismos – em que não cabe a diversidade identitária e cultural existente num mesmo território e se desprezam os laços que ligam os diferentes Outros às paisagens e à memória dos lugares que habitam.

Há dias, em França, a palavra soberanista emergiu em força nos media quando o filósofo Michel Onfray, sozinho e desalinhado contra a esquerda bem-pensante (comprometida ou dorminhoca), deu uma entrevista ao jornal conservador Le Figaro que inflamou o jornal de esquerda Libération. [Read more…]

Não é só na Hungria que há fascismo

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[Calais Migrant Solidarity]

Em Calais, ontem de manhã, cerca de 300 sírios foram expulsos da cidade pela polícia. Como tentassem resistir, foram agredidos com matracas e gás pimenta e obrigados a seguir caminho para The jungle – um campo de refugiados situado num pântano baldio e infecto da periferia de Calais. A polícia francesa tem ordens para manter os refugiados afastados dos itinerários turísticos.

Primeiras letras

Uma das primeiras profissões que pensei que poderia vir a ter era a de preenchedora de impressos. Ocorreu-me isso quando me levaram ao serviço de identificação para fazer o meu primeiro bilhete de identidade e descobri que à porta vagueava um grupo de homens (confesso que não me lembro de nenhuma mulher), cada um munido de capinha e caneta, à espera do recém-chegado cliente com letra débil, caligrafia insegura, gramática titubeante, para de imediato apresentar os seus serviços e se ocupar de preencher os indigestos formulários estatais.

Para muitos, o contacto com a pesada máquina da administração pública cingia-se a renovar documentos, requisitar uma certidão, pedir um subsídio, e traduzia-se invariavelmente em impressos, formulários, requerimentos que metiam medo a quem raramente escrevia uma linha. Eram obrigados a comprar folhas que não sabiam como preencher, tinham medo de se enganar, a caneta tremia-lhes nas mãos quando se preparavam para fazer a primeira mancha, o primeiro traço de tinta no formulário impecável. Desistiam, não eram capazes. E aí estavam os solícitos preenchedores, gente calejada na tarefa e que não se atrapalhava quando se enganava numa letra e tinha de passar por cima com mais força. [Read more…]

Os sonsos

José Xavier Ezequiel

epa04865535 President of PSD (Social Democratic Party), Pedro Passos Coelho (R), greets the CDS-PP (Social Democratic Party) president, Paulo Portas (L), in Lisbon, Portugal, 29 July 2015, during the presentation of the coalition electoral programme for the upcoming legislative elections that will take place 04 October.  EPA/MARIO CRUZ

Os dirigentes do PAF ‘indignaram-se’ no último fim-de-semana com o facto de António Costa ter anunciado que, caso perca as eleições, não viabilizará o próximo orçamento de estado.

Segundo Passos Coelho, é inaceitável que um partido que pede estabilidade não aceite viabilizar o ‘seu’ orçamento, caso ganhe. Acrescenta Paulo Portas que, ainda por cima, se recusa a viabilizar um orçamento que não conhece.

Vamos lá por partes, como dizia o meu falecido primo Delfim, quando começava a ficar com um copito a mais. O PAF apresentou-se a este acto eleitoral sem programa. Ao contrário do que aconteceu há quatro anos, o PAF já nem sequer faz promessas. Limita-se a dar ‘garantias’. A mais importante de todas é a de que prosseguirá, caso ganhe as eleições, a mesma linha de governação. [Read more…]

Guerra civil, guerra fria, guerra santa

A guerra na Síria explicada em 5 minutos(*).
[Le Monde/Legendado pela Plataforma de Apoio aos Refugiados]
(*) com números desactualizados
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O autocarro de António Costa e outras coisas que o regime paga com o nosso dinheiro

Costabus

Existem autarcas que não percebem que os sites ou as contas em redes sociais de que a autarquia ou freguesia que governam dispõem não podem nem devem ser utilizadas para fins eleitoralistas que sirvam os seus partidos. Para isso existem as páginas das estruturas locais dos seus partidos ou mesmo as suas páginas pessoais. Colocar aquilo que a todos pertence ao serviço do partido A ou B é um abuso e uma manifestação expressiva de falta de maturidade democrática que ilustra bem aquilo que se passa em muitas autarquias deste país, transformadas em instrumentos ao serviço da manutenção do poder das castas do costume. [Read more…]

Heil Orban!

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Governantes radicais na Europa, como sabemos, só existem na Grécia. Aquela malta do Tsipras é uma ameaça qualquer que ainda não sabemos bem em que consiste mas é gente perigosa, não tenhamos dúvidas.

Viktor Orbán é gente boa e lidera um partido conservador que até faz parte do Partido Popular Europeu, o mesmo de PSD e CDS-PP. Por falar em PP, aposto que o ditador primeiro-ministro húngaro já deve ter tido a oportunidade de saudar Paulo Portas pela sua intervenção sobre o papel procriador e doméstico das mulheres. Haja quem defenda o respeitinho, a moral e os bons costumes. [Read more…]