É uma história batida. A história do empresário multimilionário que às tantas decide criar uma fundação para onde transfere parte significativa do seu património, obtendo desta forma uma série de isenções fiscais que lhe permite, entre outras coisas, adquirir mais património. Carros, imobiliário, participações financeiras. Já vimos este filme. Bem vistas as coisas, muitas fundações acabam por funcionar como paraísos fiscais: transferem-se para lá milhões, escapando-se desta forma ao pagamento dos devidos impostos. E funciona.
O caso de Ilídio Pinho, um dos 240 portugueses apanhados no escândalo Panama Papers, levou a coisa para outro nível. Segundo foi hoje noticiado pela imprensa nacional, o empresário que na passada Sexta-feira negou ter qualquer ligação ao caso terá, ao que tudo indica, mentido ao país. Isto porque a IPC Management Inc, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, e a Fundação Ilídio Pinho são, afinal, a mesma entidade, algo que, segundo a investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, fica provado por uma factura de 2007 que consta do conjunto de mais de 11 milhões de documentos recentemente revelados pelo Consórcio.
Mas há mais: a mesma investigação revelou que, após a criação da fundação em nome próprio, Ilídio Pinho terá feito negócios através de offshores que integram o universo Mossack Fonseca. E tudo isto através da sua filantrópica fundação. Isenções fiscais em Portugal, evasão fiscal no Panamá. Pagar impostos? Isso é coisa de pobre.
As elites adora criar fundações filantrópicas com os seus próprios nomes; por isso, defendem acabar com a piroseira do Estado Social, e com a Cultura e a Ciência no sector público, e substituir tudo isso por fundações privadas isentas de impostos.
Para além de passarem seu património particular para o nome da fundação, uma fundação digna desse nome ajuda também as elites a recrutar políticos/ex-políticos para altos cargos (vulgo, tachos) nessas mesmas instituições ou em mero regime de colaboração com elas (consultores jurídicos etc), e assim quiçá ganhar mais uns best friends forever no poder legislativo e executivo.