Guilherme Portugal – 18 anos
Abril são muitas palavras, nós conhecemo-la por revolução, essa onde tanques dispararam pessoas aos abraços, e muitos cantares, e era a nossa liberdade que começava no outro e acabava nos outros tantos que ainda estariam por começar. Glossolalia aos versados no discurso da força prepotente da força, mas dia 25 ninguém falava mais português do que qualquer cravo. Não a certeza da presença de um ouvido rente à porta, mas de uma porta rente à página, à nota melodiada, ao discurso urrado. Ninguém entendeu, mas perigoso e infeliz é começar a entender. Perdemos Abril quando formos entendidos nele – chamá-lo de Abril, colocar-lhe dicionários à frente, convencendo-o de que é um mês e não um poema violento de amores. Deixo-vos nos plantares, palavras flores, hoje só anoitece às oito e meia:
Escada que desanda
de cada cadência colorida de um segundo,
cada um, cada essência.
Tão labirinto como escrever ou pôr letras no papel ou redigir.
Digo que andar é desfrasear e destruir, e como emenda,
vai-se buscar água-palavra à fonte (tu) como poema-cantil,
viver a escrever é não ter nenhum mês senão Abril.
(imagem daqui)
Sem à dita de Aquiles ter enveja.