Habituados a vencer em nome da diferença e da integração

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A selecção nacional de parahóquei, campeã europeia em 2015, em Londres, foi à Bélgica, exemplarmente a Brasschaat, nos arredores de Antuérpia, e venceu a segunda Integration Cup, torneio desta feita organizado pelo KHC Dragons, uma equipa de referência no campeonato belga e que, nas últimas olimpíadas, cedeu seis atletas à sua selecção que, como se sabe, foi medalha de prata no Rio de Janeiro.

Os portugueses, como se esperava, puxaram dos galões, e venceram com distinção uma prova difícil, mas em que o orgulho nacional e o pundonor estiveram presentes desde o início até à festa de consagração. Começando com um simpático 2-0 sobre a Espanha, a nossa selecção gémea, o grupo liderado por Hugo Santos e Pedro Ávila img_6545impôs-se de seguida à Bélgica por 10-0. Seguiu-se a Itália, uma equipa muito física, muitas vezes para além do aceitável, e o empate a duas bolas abria de par em par as portas da final ao conjunto luso.

img_6520A Holanda foi o adversário que se seguiu, e nova goleada: 10-1. A fase de grupos terminou no domingo de manhã, e opôs Portugal à Alemanha. O 4-1 final, aliado ao empate entre a Itália e a Espanha, em jogo disputado no mesmo horário, determinou a já esperada – ainda que não totalmente desejada –  final: Portugal-Itália. A preceder a final, Portugal participou ainda na festa da selecção belga, o que veio aproximar ainda mais os adversários da nossa equipa, com eco na final em que belgas e espanhóis faziam a festa na bancada, puxando pela selecção portuguesa que jogou praticamente “em casa”.
A selecção italiana, que sempre abusou do físico, com beneplácito das arbitragens (ou como dizia o seleccionador italiano, “se os árbitros deixam dar pau e eu puder aproveitar, claro que digo aos meus jogadores para darem pau”… Exemplar, no pior sentido, para um condutor de atletas especiais, como era o caso deste torneio), ainda tentou a mesma receita nesta final. Bem industriados para o que os esperava, e com confiança completa no capitão nacional, Luís Pereira, que em termos físicos não fica a perder com nenhum adversário, compenetrados do seu papel e ambiciosos na conquista do magnífico troféu que desde o primeiro dia se tornou uma obsessão trazer para Portugal, por parte de todos os atletas, aproveitámos bem os vícios, perfeitamente identificados, dos transalpinos e despachámo-los com um exemplar 3-0. Quando deram por isso, e incrementaram o ritmo, o guarda-redes português disse presente, “sacando” quatro livres directos e mantendo inviolada a baliza na final, para gáudio da bancada que quase o levou em ombros nos festejos.

img_1989Exemplar foi também a recepção no aeroporto, à chegada, em que algumas agremiações ligadas à Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde e às suas extensões de acompanhamento aos deficientes intelectuais, de que fazia parte um atleta, nos emocionaram com os seus cânticos, eles que transformaram o aeroporto Sá Carneiro num triunfo da solidariedade sobre alguns dos mais execráveis comentários sobre o desporto paralímpico que uma besta qualquer havia publicado algures e que, através das redes sociais, se propagaram a todos os quadrantes, até ao ambiente na Bélgica, porque os atletas têm facebook e estavam revoltados.

Com a mira no Europeu de 2017, que vai disputar-se em Amesterdão no verão de 2017, o compromisso é de muito trabalho, porque os atletas querem ser respeitados e estão dispostos a lutar por esse respeito da comunidade. Assim seja possível dar-lhes condições de trabalho que, numa modalidade com enormes carências, se afigura difícil conceder-lhes. O exemplar espírito de equipa e a ambição de técnicos e dirigentes desta vertente podem ser sempre determinantes para o êxito que todos ambicionam. Porque, em termos de mérito, este grupo é insuperável e merece bem mais do que aquilo que lhe tem sido dado, até pela forma como o desporto especial é visto e tratado pelas entidades que coordenam os fluxos financeiros, seja a nível governamental ou federativo.

Uma última palavra para a ANDDI (Associação Nacional de Desporto para o Deficiente Intelectual), através do seu dirigente Manuel Carvalho, com quem a Federação mantém uma profícua parceria de apoio, e cuja acção junto dos atletas tem sido também modelar

Comments

  1. carlota says:

    Bom post, muito elucidativo!
    Luís Gonçalves,toma mais um troféu.(3-0)
    Parabéns,selecção nacional de parahóquei.:)

  2. carlota says:

    Erro:Luís Gonçalves*,
    Admiro o atleta, Luís Gonçalves.

    Correto:Joaquim Vieira ,toma mais um troféu.(3-0). Este senhor causa arrepios.

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