Nuno Carvalho da Padaria Portuguesa não convive bem com a verdade dos factos

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Ontem, interroguei aqui, confesso que a título exploratório, o porquê do vídeo publicado aqui  neste post, e de outras versões dos mesmos conteúdos republicados no Youtube terem sido misteriosamente retirados ou terem misteriosamente desaparecido da vista humana no referido site de partilhas de vídeos.

A resposta está dada: as republicações no Youtube foram retirados graças a vários reports à administração do site, declarando que o vídeo em causa violava os direitos de propriedade intelectual? Propriedade intelectual? As declarações de Nuno Carvalho devem ser entendidas como propriedade intelectual? Os pais do liberalismo moderno ou neoliberalismo como Hayek, Milton Friedman ou Von Mises devem estar às voltas na tumba porque no fundo ninguém gosta de andar à roda anos e anos a estudar os fenómenos da vida social e económica para depois ser surripiado intelectualmente à má-fé por um simples padeiro, fazendo jus à profissão por si declarada publicamente aqui na entrevista que saiu hoje no Caderno do Expresso.

A história é simples de contar: a propósito da votação da descida da TSU para as empresas, a SIC Notícias decidiu ir a um estabelecimento (decerto que a pedido do seu sócio-gerente como de resto acontece sempre que alguém que tem umas cunhas num órgão de comunicação social precisa para dar um empurrãozinho publicitário gratuito e deluxe ao seu negócio) perguntar ao seu sócio-gerente o que é que achava da medida e em que feitio a dita iria ajudar ou afectar o seu negócio? O homem, deslumbrado pelas luzes das câmaras, em vez de se remeter a dados práticos do seu negócio de forma a promovê-lo começou a desenrolar uma cartilha neoliberal perigosa e uma data de concepções, números, jargões técnicos (julgando que o povo não percebe nada deste tipo de assuntos) e lugares-comuns a todos os patrões que caíram mal numa sociedade em que o trabalho é mal remunerado, excessivamente precário, em que os trabalhadores são na sua maioria mal tratados pelas entidades patronais e em que o código laboral patrocinado pelos representantes de lobbys como o dele no poder passa salvos-condutos aos patrões para pagar pouco, escravizar muito e despedir ainda mais, de preferência, com facilidade e a ter que pagar pouco.

Ou seja, concluindo esta introdução ao tema: o Nuno borregou na Internet, a Internet apanhou-o e amanhou-o vivo e possivelmente, a sua padaria perderá nos próximos tempos milhares de clientes e milhares de euros em receitas.

Não contente por ter borregado na primeira oportunidade, o semanário do Tio Balsemão ainda lhe deu oportunidade para se emendar. O Nuno voltou a apostar na estratégia que lhe tinha granjeado um fracasso e dele ainda se viu uma determinada loucura quando defendeu que deveria existir na lei a possibilidade daqueles que querem trabalhar mais que 40 horas semanas (afirmou que existem pessoas que gostariam de trabalhar 60 horas semanais lá no boteco; a sério?) e que os custos do trabalho extraordinário (uma pura antítese para o que tinha defendido na questão da flexibilidade na contratação) são extremamente onerosos para a empresa que dirige… quando até paga prémios variáveis a todos os empregados (diz ele para se emendar dos 25% que recebe o ordenado mínimo) e defende aquela falácia de que os trabalhadores deveriam ser aumentados conforme a sua produtividade, entre outros chorrilhos de barbaridades e lamúrias que brotaram do seu discurso como o lamento de ter que contribuir com 300 euros para o Estado por cada empregado que remunera com 577 euros, como se os empregados que remunera com o ordenado mínimo ou com pouco mais que o ordenado mínimo fossem uns ricos que por aí andam que dão se ao luxo de andar por aí a subscrever fundos de pensões e seguros saúdes privados ao invés de dependerem única e exclusivamente dos serviços providos pelo Estado.

Voltou portanto a borregar na Internet. E falhou novamente o objectivo de promover gratuitamente o seu negócio de 38 milhões de facturação por ano, 10 milhões dos quais líquidos! Já se sabe que comigo, quem cai na Internet terá obrigatoriamente que ajoelhar e pedir perdão… Vamos a coisas sérias!

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Contudo, denotou-se em algumas partes da entrevista concedida ao Expresso ontem que o Nuno leu o nosso post e decidiu recriá-lo à sua maneira, no mínimo, peculiar para se justificar do injustificável.

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Curiosa resposta, não foi?

Mas não ficou por aqui. Senão vejamos esta tentativa de rebater um argumento, colando-se ao argumento até certa parte para depois empurrar as culpas para os esbanjadores que não conseguem poupar com um ordenado de 577 euros:

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e…

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para a colagem do Nuno no final da entrevista numa resposta a uma pergunta  que pretendia uma opinião mais objectiva e não os típicos juízos de valor à portuguesa:
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Esta conversa faz-me lembrar a descrição que a personagem principal de 1984 de George Orwell, Winston, faz da vida dos “proles” da Pista 1 da Oceânia. Os proles, malta que era sustentada pelo estado através de um sistema de racionamento, onde o gin barato era cedido em abundância, o que os levava a estarem constantemente bêbedos, alienava-os dos problemas que resultavam na sua pobreza e era ao mesmo tempo um mecanismo que o Regime Interno utilizava para que não tivessem sonhos e por conseguinte não fizessem absolutamente nada para alterar a sua condição.

Só na cabecinha redondinha do Nuno, assoberbada por um soberba típica dos patrões que lucram aos milhões e que tratam tudo o que está abaixo como lixo, ralé, é que existe a percepção de quem ganha 577 euros em Lisboa não está educado para gerir as finanças pessoais e não as desfalcar quando por exemplo a renda de um apartamento t2 para 4 pessoas (família média) nos concelhos da Amadora, Oeiras e Odivelas anda na ordem dos 500\600 euros e poucos ou nenhuns se arranjam por menos de 400, para não falar no concelho de Lisboa onde os preços são simpaticamente superiores pela mesma tipologia em 150 euros, fora a alimentação, os passes sociais das 4 pessoas em causa, o vestuário, o material escolar e as refeições dos miúdos lá na escola, o pagamento do seguro e do imposto de selo da viatura, da manutenção desta e as despesas médicas que possam surgir… Com um ordenado de 577 euros e tamanhas despesas mensais, realmente as pessoas só podem ganhar a chapa que ganham em bens não essenciais e possivelmente o que ganham não chega para poupar…

O que é que poderíamos esperar de um tipo que trabalhou durante 10 anos no Grupo Jerónimo Martins? Não poderíamos esperar que o Nuno, em 10 anos, não bebesse um bocado dessa água do Manual do Explorador no Trabalho nem poderíamos esperar que o Nuno fosse um patrão ávido a distribuir uma parte generosa dos seus lucros com os trabalhadores!

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Retirado da página de facebook da Padaria Portuguesa

Farto de críticas na internet, quando até confessou ao Expresso que geriu tranquilamente a “meia-dúzia” de críticas que lhe foram dirigidas ao mesmo tempo em que desligou os dados da internet (quando até foram centenas conforme o que se pode ver na foto em cima), quiçá pressionado pelo seu actual sócio, o humorista José Diogo Quintela,  o sócio-gerente e sabe-se-lá que mais tratou imediatamente de proceder como as avestruzes quando sentem o perigo de um predador a rondar e não podem fugir: enterram a cabeça na areia e ficam ali até que que o perigo passe para depois responderem às patadas aos problemas se assim for o caso. Foi precisamente isso que Nuno Carvalho mandou fazer com os vídeos das suas declarações no Youtube para evitar males maiores: fazer desaparecer imediatamente com todas as evidências para que a situação caia no esquecimento dos consumidores e não se consume o boicote à Padaria Portuguesa que centenas de milhares de portugueses declararam ou incentivaram a fazer nas redes sociais. O que efectivamente quer dizer que o Nuno até é gajo para mandar uns bitaites desde que o cuspe não lhe caia em cima. Se cair, pede-se ao Youtube para apagar sem deixar rasto e espera-se que à boa maneira portuguesa, o assunto caia por esquecido na gaveta da clássica memória selectiva do português.

A atitude revela que Nuno Carvalho para além de esclavagista, age como um sonso, esconde os seus defeitos, faz-se de inocente, para depois contra-atacar pela calada da noite, pois efectivamente dá-me a parecer que não consegue conviver bem com a realidade dos factos. Como não convive bem com a realidade dos factos e como me cheira que em determinadas partes destas duas entrevistas o Nuno não está a contar toda a verdade, irei, no mais breve espaço de tempo chegar a contacto com alguns dos seus funcionários para escarafunchar toda a verdade sobre esta história para tirar a limpo algumas das suas afirmações. Veremos se os 25% “em regime transitório” com ordenado mínimo não são mais que 25%, qual o valor da remuneração do trabalho especializado que este diz empregar nesta promo publicada no canal da Padaria Portuguesa, veremos quais são as condições de trabalho (ao nível de higiéne, segurança, ambiente de trabalho) oferecidas pela entidade patronal e veremos se existem conflitos jurídicos a decorrer entre a empresa e antigos trabalhadores.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Este personagem, Nuno Carvalho não aparece por acaso na SIC. Há coisas que só acontecem porque existem pessoas que estão fadadas para este tipo de trabalho.
    Isto, para mim, tem a mãozinha de José Gomes Ferreira, esse iluminado do jornalismo económico que descobriu nas Padarias, Pastelarias e Restaurantes, alguns pequenos negócios com sucesso, pela mão dos seus propriétarios, eles próprios confessionadores das suas doçarias e menus. Já o vi em várias fotos promocionais no Facebook de vários negócios deste género. E muitos de vocês, também já o viram em fotos no Facebook, com os donos/as de alguns desses pequenos negócios.
    Este modelo de empreendedor é aquele que a direita gosta de mostrar ao país como o estereótipo do português que “sai de baixo”, o homem que sobe na vida a pulso, cuja referência foi durante anos o personagem Dias Loureiro, o filho do merceeiro de Aguiar da Beira que chegou ao topo, sem ter origem nas elites da capital ou provincianas.
    Ora, este modelo de ser humano, é precisamente aquele que depois de ser explorado, deixando de ser assalariado, ainda que com algum mérito, se acha no direito de tratar os outros como o trataram a ele. Admito até que o faça mais pelo medo e a insegurança de perder o pouco que conseguiu, do que por desprezo pelos outros.
    Daí acovardar-se perante a constatação de que borregou o discurso e fez asneira.
    Alguém acredita que a SIC acertou logo numa espécie de Euromilhões jornalístico, e foi logo descobrir um Padeiro, que era contra a TSU e a favor da liberalização dos salários?
    Aquilo foi escolhido a dedo, desencantado pelo Subdirector da SIC, que fazendo o seu papel de Spin, achou por bem por um pequeno empresário a dizer aquelas banalidades, para mostrar ao país que aquilo que o PSD defende é o que está certo.

  2. Eu mesma says:

    A pós-verdade deste padeireiro é inenarrável. E os factos alternativos idem. Quanto à questão de ser um “trabalho de dentro” de um spin doctor, a ser verdade é gravíssimo. ERC, onde andas? Ai esperem… dormiram.

    • Censurável também deve ser aquele que se deixa manietar como um ventriloco à opinião de um terceiro. Mesmo no caso de um spin, denota-se que o Nuno não é ingénuo e achou mesmo que a coisa iria resultar.

  3. Caro Rui,

    Acredito que sim. Acredito que a leitura das coisas está correcta. Apesar de não ver os programas do José Gomes Ferreira e de apenas apanhar uma ou outra dele que circula pelas redes sociais, porque sinceramente é alguém cuja opinião me passa ao lado (como me passa ao lado outras que tais de jornalistas e historiadores armados em economistas como o Camilo Lourenço e outros que tais) acredito, porque dei-me ao cuidado de verificar, que no directo em que este Nuno Carvalho apareceu, a SIC Notícias não se deu ao trabalho de ir a outro lado buscar uma opinião diferente. Por norma, é assim que funciona a manipulação da informação e da opinião em Portugal. Acontece que o tiro saiu ao lado. O tiro saiu ao lado porque as pessoas viram no discurso deste indivíduo lugares-comuns à posição e comportamento das pessoas que diariamente vivem à custa da sua desgraça, que as pressionam para serem autómatos eficazes e subservientes, que as colocam num ritmo e num clima de trabalho insuportável e cada vez mais stressante, sem poderem abrir o bico em relação a nada. Este Nuno Carvalho teve obviamente o dom de irritar todos aqueles que tem consciência de classe e isso foi extremamente perigoso para o próprio porque as acções obviamente terão consequências. Não acredito que as pessoas boicotem a marca até ao ponto de ela desaparecer mas estou certo que durante uns tempos as receitas vão diminuir consideravelmente.

    • Rui Naldinho says:

      Sim, eu também subscrevo aquilo que diz. Mas eu quase que lhe garantiria que num país como a Noruega, Suécia, Finlândia, ou até mesmo uma Dinamarca, este gajo era votado ao desprezo durante anos.
      Mas isso são outras mentalidades.
      A maioria da população portuguesa vive com parcos recursos. Logo, tenta sobreviver como pode. E quem tenta sobreviver desvaloriza determinado tipo de comportamentos, considerando-os normais, num quadro cultural onde a corrupção, o tráfico de influências, a cunha, a manipulação, é aceite como uma forma de desenrascanço na vida.

  4. Carlos Godinho says:

    Que tristeza. Mais de quarenta anos depois de Abril. Que filhos parimos com esta mentalidade! Nem antes de Abril havia muita gente desta, pelo menos de padeiros destes.

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