O rolo compressor do Bayern, a desgraça de Arsène Wenger e um par de notas sobre uma jornada de Champions quase perfeita

Uma 2ª parte de sonho para a equipa de Carlo Ancelotti permitiu ao Bayern despachar mais uma vez o Arsenal (o Bayern é efectivamente a besta negra de Arsène Wenger nas competições europeias) e garantiu uma viagem tranquila a Londres para o jogo da 2ª mão daqui a 15 dias. Com um futebol demolidor, o golo do polaco teve o dom de desbravar caminho a uma goleada muito trabalhada, num jogo muito difícil para os bávaros no primeiro tempo em virtude da pressão alta executada e do prático futebol demonstrado pelos gunners.


A partida esteve longe de correr de feição para os Gunners no primeiro tempo. Perante um sistema de pressão alta aplicado pela equipa de Wenger para obrigar Arturo Vidal e Xabi Alonso a vir receber o jogo aos centrais (Hummels e Javi Martinez) e a começar a organização ofensiva ainda dentro do seu meio-campo, o duplo pivot de Carlo Ancelotti conseguiu com alguma mestria furar as linhas de pressão com passes a rasgar a linha de pressão imediata para uma segunda vaga, onde se encontrava Thiago Alcântara. Com um futebol atraente apesar de algo rendilhado, devidamente corrido para os flancos (na direita, Robben e Lahm entenderam-se muito bem como quase sempre acontece, aparecendo o histórico lateral a fazer overlapings sempre o holandês recebia a bola de forma a ganhar a linha de fundo para cruzar; na esquerda Alaba apareceu mais solto sobre o flanco no último terço, ficando Douglas Costa numa posição mais interior para ligar o jogo entre Alcântara e o lateral austríaco), na 1ª parte, o Bayern construiu muitas situações de jogo que colocaram os seus laterais com possibilidade de realizar bons cruzamentos para a área. No entanto, Lahm e Alaba nunca conseguiram servir bem Robert Lewandowski na área. O polaco, entalado sobre a multidão de homens que o Arsenal colocava na sua grande área, no primeiro tempo, não teve condições para ser letal como costuma ser (até porque nas raras acções individuais que teve à entrada da área, foi sempre desarmado pelos centrais do Arsenal) e nas segundas vagas após alívios vindos da área do Arsenal, apesar de bem colocados, Arturo Vidal e Thiago Alcântara não foram pragmáticos na abordagem aos lances. A dupla de médios dispôs de 3 ou 4 situações para aplicar o seu poderoso remate de meia distância, mas, invariavelmente tomaram a opção de voltar a colocar a bola nos flancos para procurar o génio de Arjen Robben. Tal situação não se voltaria a repetir no 2º tempo quando o médio internacional espanhol de origem brasileira encheu o pé para fazer o 4-1 de meia distância, num lance em que David Ospina ficou muito mal na fotografia.

Comecemos pelo início: o génio de Arjen Robben haveria de surgir logo aos 11 minutos numa jogada com o selo de garantia do mago holandês, fazendo inaugurar o marcador com um golo de antologia que ficará como tantos outros nos best of da sua longa e vitoriosa carreira. O golo do holandês levou-me a acreditar que a noite seria fácil para os bávaros.

O golo do Bayern teve o condão de sacar o melhor do Arsenal na partida. Os gunners pegaram paulatinamente nas despesas de jogo e conseguiram imprimir muita rapidez nos contra-ataques que passaram a produzir dos 20″ em diante, muito por culpa da rapidez que Mesut Ozil e Alex Oxlade-Chamberlain conseguiram fazer imperar nas transições, procurando com maravilhosos passes de ruptura a presença de Alexis Sanchez junto aos centrais do Bayern. O Chileno acabaria por dar algumas dores de cabeça a Mats Hummels e a Javi Martinez nos lances em que foi desmarcado no 1×1 em velocidade contra os centrais dos alemães. Dele surgiriam os lances de maior perigo do Arsenal junto à baliza de Neuer e o golo do empate do Arsenal num lance a três tempos: grande penalidade correctamente assinalada por falta na área de Lewandowski sobre Koscielny num lance em que o polaco foi comido pelo central francês de forma ingénua na sequência de uma longa demora em aliviar o esférico. O chileno encarregou-se de transformar da marca de onze metros e disferiu um remate puxado ao ângulo inferior esquerdo que o robótico Neuer foi buscar com arte e no ressalto, aproveitando a atrapalhação dos jogadores do Bayern voltou a colher a bola e a enganar o guardião alemão, levando portanto o resultado empatado a 1 bola para o intervalo.

Na 2ª parte a história seria outra. Wenger voltou a apostar num bloco subido. Gato escondido com rabo de fora, no fundo. De nada valeu ao francês voltar a apostar num bloco ultra subido, com 5 jogadores a pressionar a zona de construção dos médios do Bayern ainda no meio-campo adversário porque tanto Vidal como Xabi Alonso rapidamente conseguiam colocar a bola na tal 2ª linha de organização nos pés de Thiago Alcântara. O francês Francisc Coquelin ainda tentou servir de bombeiro mas rapidamente se percebeu que a presença do francês a varrer a zona central “tanto fazia como se lhe dava” ao Hispano-brasileiro. Alcântara estava para amar. Se Lewandowski limitou-se a ser letal na primeira bola em condições que teve junto aos centrais do Arsenal (ainda na primeira parte Laurent Koscielny lesionou-se e deu lugar a Gabriel Paulista), o que se passou a seguir foi o melhor futebol que vi deste Bayern na presente temporada: processos simples nas transições com Thiago Alcântara a fixar jogadores no seu raio de acção no miolo o que permitia, jogar com facilidade para o 2×1 que o Bayern construiu (lances do 2-1, 4-1 e 5-1) na ala direita para as antecipações que Lewandowski fez repetidamente para receber o esférico em antecipação aos centrais, e abrir para as penetrações interiores de Alcântara (lance do 3-1) que assim somou dois golos e foi para mim o melhor jogador em campo. No final da partida, deu até para o deprimido Thomas Muller (a passar por uma crise exibicional) entrar na lista de marcadores da partida. A passar por uma crise de confiança na presente temporada, Muller não tem sido opção regular para Ancelotti no 11 titular dos bávaros, fruto das excelentes exibições que Bobek (para os amigos) tem realizado e do próprio sistema de jogo utilizado pelo treinador italiano.

No banco dos gunners, Arsène Wenger conformado com o banho de bola que a sua equipa estava a levar (o Bayern conseguiu realizar jogadas de contenção com a duração de 1 minuto) está cada vez mais ciente que está a aproximar-se o fim da linha em Londres. A sua equipa foi incapaz de pressionar com critério a saída de jogo do Bayern na 2ª parte, de ser mais acutilante no corredor central quando Alcântara tinha a posse do esférico (mais uma vez repito que na minha modesta opinião, goraram-se 50 milhões na aposta em Granit Xhaka; o internacional suiço não se está a adaptar bem ao futebol dos gunners) e os seus laterais são laterais que apresentam muita falta de agressividade no ataque ao portador do esférico, facto que se paga muito caro quando numa ala estão jogadores como Robben e Lahm. Com espaço para criar, o holandês e o alemão não se fazem rogados e procuram imediatamente servir Bobek na área.

Ao mesmo tempo em que seguia mais atentamente o jogo do Bayern fui dando uma olhada ao jogo do Real Madrid contra o Napoli. Ainda tive tempo para ver a capacidade altruísta de Cristiano Ronaldo e a sua importância colectiva para a equipa orientada por Zinedine Zidane, num jogo em que me pareceu que o português jogou literalmente para o colectivo. A prova disso foram as 2 assistências que realizou.

Jogo marcado por uma equipa do Napoli que aproveitou bem o relaxamento inicial dos merengues para aplicar o seu poderoso futebol de transição no contra-ataque. O primeiro golo é de uma verticalidade fantástica. O passe milimétrico de Hamsik para Insigne é genial e rasga por completo a “aberta” defesa madrilena e o remate do internacional italiano é de uma inteligência e de um sentido de oportunidade tremendo, não sendo fácil em milésimos de segundo pensar o que é que se vai fazer naquela situação com a bola nos pés, olhar para a posição do guardião adversário e executar o movimento que permite à bola ganhar aquele efeito que trai por completo um desposicionado Navas. O Costa-Riquenho ofereceu na minha opinião um golo de vantagem ao Napoli. É correcto afirmar que actualmente, quase todos os keepers do futebol moderno necessitam de se posicionar à saída da área para funcionar como autênticos líberos porque quase todas as equipas de proa conseguem em poucos toques lançar em profundidade nas transições em contra-ataque. Contudo, no caso concreto do golo de Insigne, mal viu a possibilidade de Hamsik lançar directamente Insigne, ou seja, realizar um passe à medida dos pés do internacional italiano, Navas esqueceu-se de dar vários passes atrás para fechar o ângulo aberto e foi apanhado claramente desposicionado pelo extremo napolitano.

Na 2ª parte, nota para os golos de Toni Kroos e Casemiro. No segundo dos merengues, Cristiano aproveitou a ausência de Faouzi Ghoulam no seu raio de acção para ludibriar o central Koulibaly na dobra ao lateral e servir na perfeição a entrada na área do bombástico alemão. No segundo, o antigo trinco do Porto fez uma das raras coisas que sabe fazer bem: rematar de meia distância.

Na única partida que não vi em directo com muita pena minha porque preferi ver o jogo do Benfica, o PSG de Unay Emery vulgarizou por completo o Barcelona e conseguiu uma goleada história que a meu ver, para a barbaridade que alguns jogadores do PSG estão a jogar, irá chegar e sobrar para o jogo da 2ª mão em Camp Nou. Parte dos louros devem-se obrigatoriamente ao treinador que os parisienses têm no banco. Emery é efectivamente um dos raros treinadores mundiais que sabe como travar esta equipa do Barcelona (já o tinha feito ao serviço do Sevilla nas últimas 3 temporadas) e está a construir um autêntico cavalão em Paris, cavalão que pode trilhar nas próximas temporadas a maior página de história do clube parisiense.

O jogo de ontem foi talvez a pior exibição dos culés dos últimos 10 anos. Quando Messi perde de forma displicente uma bola a meio-campo e transforma uma possível transição perigosa (que os catalães raramente desperdiçam) num golo para os parisienses, creio que está tudo dito sobre a desinspirada exibição dos catalães no Parque dos Príncipes. Em dia de aniversário, Angel Di Maria, devidamente ajudado por um extasiado Marco Verrati (que jogador lindo!) meteu as mãos na massa, levou o bolo ao forno, colocou-lhe as velinhas e comeu-o sem perguntar a ninguém se queria uma fatia para festejar o seu 29º aniversário. Fez uma exibição de gala e revelou que finalmente está a viver o apogeu do seu futebol. Os parisienses agradecem porque irão precisar desta veia artística do argentino para continuar a ombrear com o Mónaco e com o Nice pela revalidação do título da Ligue 1 nas últimas jornadas de uma prova em que os parisienses estão a ser mais irregulares do que o que é normal e porque acima de tudo começam finalmente a acalentar que poderão vencer a Liga dos Campeões.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    O rolo compressor do Bayern é um pouco enganador. Ou como no futebol quem não marca está sujeito a ser copiosamente batido!
    Antes do Bayern caminhar para sua cavalgada triunfadora, dá-me a ligeira impressão que esteve mais próximo de sofrer o segundo golo, do que partir para a goleada.
    O meu aguardo para o árbitro sérvio, que não se deixou amedrontar pela pressão alemã, coisa rara no futebol europeu.

    * Eu só vi o resumo do jogo, portanto, eu posso estar a cometer um erro, mas penso que nesta matéria a televisão ainda vai mostrando as imagens reais do jogo.

    • Rui Naldinho says:


      O meu agrado…

      • O árbitro perdou um penalty ao Arsenal na 1ª parte, que caso convertido daria o 2-1. À parte esse lance, esteve bem. A UEFA nomeou os melhores árbitros para esta fase, o que não implica que estejam isentos do erro.

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